Os números ainda são pequenos - vinte áreas e cinco mil metros quadrados de ruas pintadas -, mas quem circula pela cidade percebe que o urbanismo tático tem sido incorporado à paisagem. Virou uma ferramenta barata, rápida e simbólica de segurança viária. E, o que mais importa, na qual o pedestre ganha vez. A gestão municipal, de fato, não seguiu o modelo original do conceito - que é pensar espaços públicos na cidade utilizando uma lógica não-hierárquica, na qual a sociedade civil (em colaboração ou não com o Estado e/ou empresas privadas) propõe alternativas ao processo tradicional de projeto na esfera urbana. Mas nem por isso está deixando de melhorar os espaços públicos onde o volume e a insegurança de pedestres são extremos.
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Percebe-se que a Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) incorporou a ferramenta como estratégia de sinalização. E são muitas as razões para isso: além de eficiente, o urbanismo tático é barato e de fácil execução. As 20 áreas que receberam as pinturas na cidade representaram um investimento de apenas R$ 590 mil. Também têm obtido resultados positivos, com redução dos atropelamentos de até 41%. Segundo os números oficiais repassados pela autarquia, entre janeiro e fevereiro de 2019 ocorreram 24 eventos de trânsito com vítimas nas áreas onde foi implantado o urbanismo tático. E, após as intervenções, entre janeiro e fevereiro de 2020, o número caiu para 14 registros.
“Começamos a usar o urbanismo tático como instrumento para soluções de segurança viária há um ano e meio. E temos tido bons resultados. Além de beneficiar diretamente o pedestre, com mais áreas para caminhar e de travessia, também beneficiamos o trânsito em geral. Isso porque, com a pintura, geralmente de cores fortes e vivas, estimulamos a redução de velocidade e, consequentemente, uma mudança de comportamento ao volante", explica Taciana Ferreira, presidente da CTTU. Ainda não se sabe a continuidade do uso do urbanismo tático pela gestão municipal que acaba de começar, mas espera-se que tenha sequência, até porque é o mesmo partido - PSB - e, consequentemente, a mesma lógica administrativa.
No Largo da Paz, por exemplo, uma das primeiras áreas a ser pintada na cidade, houve sete registros com vítimas nos dois primeiros meses de 2019, quando o urbanismo tático foi implantado num dos trechos de maior movimento do bairro de Afogados, nas imediações do mercado público. No ano seguinte, foram apenas duas ocorrências. Na Avenida Cruz Cabugá, em Santo Amaro, onde foram criadas ilhas para facilitar e proteger a travessia dos pedestres, o número de atropelamentos teria caído de 23 para 14 ocorrências no mesmo período. E, na Avenida Conde da Boa Vista, o uso das tintas também ajudou a oferecer segurança: a redução foi de 22 para quatro eventos com vítimas.
No caso do Recife, alguns projetos viraram permanentes, atendendo ao propósito do urbanismo tático. Não são muitos, mas eles aconteceram. A CTTU aponta cinco áreas que viraram permanentes: No eixo da Agamenon Magalhães - altura da Praça do Derby e nas imediações do Hospital da Restauração e da entrada da Rua Joaquim Nabuco - e em dois pontos da Avenida Conde da Boa Vista - cruzamento com a Rua da Soledade e com a Rua da Aurora.
É fato que muitas áreas onde o urbanismo tático foi adotado já sentem a falta da manutenção - algo fundamental já que falamos de pintura -, mas é possível perceber que a ferramenta está sendo usada livremente pela gestão municipal, ampliando o direito à cidade através de áreas, ruas e bairros um pouco mais caminháveis. Lugares onde o pedestre não se sinta mais tão intimidado.
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