Horário Social vai beneficiar 10% dos passageiros pagantes dos ônibus do Grande Recife
Na prática, efeito da redução do valor da tarifa será mais político do que financeiro. Mas demonstra preocupação social
A proposta do governo de Pernambuco de criar o chamado Horário Social do transporte, quando a passagem deverá ser mais barata em R$ 0,40 nos horários fora-pico para quem pagar com o cartão VEM Comum, terá um efeito mais político do que financeiro. Pelo menos na prática. A estimativa do próprio Estado é de que o Horário Social beneficiará aproximadamente 10% dos passageiros pagantes do sistema de ônibus. Em números atuais, impactados pela pandemia, significaria quase 70 mil pessoas beneficiadas das 700 mil que atualmente pagam a passagem no sistema da RMR. Antes da crise sanitária eram 1,2 milhão de pagantes e 2 milhões de transportados - incluindo as gratuidades.
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A estimativa é técnica, feita pelo Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano (CTM), e tem como base o número de passageiros que atualmente têm pago a tarifa utilizando dinheiro ou o cartão VEM Comum. Diretamente, seriam beneficiados 60 mil passageiros que atualmente já utilizam o sistema nos horários fora do pico (das 9h às 11h e das 13h30 às 15h30) pagando com dinheiro ou VEM Comum. “Estamos apostando que os 35 mil usuários que hoje utilizam dinheiro nesses horários fora do pico passarão para o cartão VEM com a tarifa social”, explica o diretor de Operações do CTM, André Melibeu. Os outros 25 mil passageiros já pagam com o cartão VEM Comum.
Além dos 60 mil passageiros, outros 9 mil usuários que andam nos ônibus nos horários de pico e também pagam a tarifa em dinheiro ou já com o VEM Comum seriam atraídos para o Horário Social. Outra aposta do Estado. “Essa seria a migração que esperamos e ela será basicamente concentrada nos usuários da manhã. Isso porque à tarde é mais difícil, já que o passageiro que larga às 17h ou às 18h, por exemplo, não conseguirá antecipar a saída para 15h30”, reforça André Melibeu.
EMPRESÁRIOS DE ÔNIBUS DEFENDEM REAJUSTE DE 16%
Questionado se uma redução de R$ 0,40 seria suficiente para atrair os passageiros, o diretor de Operações defendeu a medida. “Acredito que sim. Principalmente para o deslocamento pela manhã. Sabemos que os usuários que utilizam o sistema nas primeiras horas, entre 5h, 6h e 7h, por exemplo, não migrarão. Mas aqueles das 8h às 9h serão atraídos. Principalmente quem já usa o cartão VEM Comum”, reforça Melibeu. A passagem nos outros horários do dia, no entanto, deverão ter um reajuste de 8,7% e 8,5% nos Aneis A e B, respectivamente.
“O importante é que estamos trazendo duas situações novas para o sistema, que poderão ajudá-lo a recuperar a demanda de passageiros. Em primeiro lugar, a criação de uma tarifa diferenciada, social, que demonstra a preocupação do governo com a inclusão social porque será uma tarifa R$ 0,40 mais barata exatamente para quem não dispõe do VEM Trabalhador e do VEM Estudante. Depois, vamos reduzir a circulação de dinheiro nos ônibus, o que facilita a operação, atualmente com menos cobradores”, argumenta o diretor de Operações do Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano (CTM), André Melibeu. As propostas serão votadas na reunião do CSTM, marcada para o dia 5 de fevereiro.
AÇÃO E REAÇÃO
A possibilidade de aumento das passagens de ônibus, seja no percentual de 8% defendido pelo Estado ou de 16% como proposto pelos empresários, já provocou reação da sociedade civil. Nem mesmo a criação do Horário Social, quando as passagens seriam R$ 0,40 mais baratas nos horários fora-pico, amenizou as críticas à proposta de majoração. A Frente de Luta pelo Transporte Público, que tem dois representantes no Conselho Superior de Transporte Metropolitano (CSTM), foi a primeira a se manifestar.
“A Frente de Luta pelo Transporte Público estranha a proposta dos empresários de aumento das tarifas de ônibus de 16%. O setor empresarial, que recebe volumosas isenções fiscais e subsídios, pouco tem entregue à população do Grande Recife e a pandemia acentuou os graves problemas. Todos os dias ônibus e terminais lotados são a ponta do iceberg. Na periferia, vários veículos quebram diariamente e os terminais de bairro têm sido desativados sem a implementação universal da integração temporal, sem universalização e gratuidade do VEM, sem ar condicionados (antes da pandemia), sem termos tarifa única, entre outras demandas, como o não início do SIMOP (sistema de monitoramento com aplicativo para os usuários). Por isso, apresentaremos e cobraremos ao Conselho Metropolitano a proposta de congelamento da tarifa no valor do Anel A”, afirmou a entidade.