Sujeira, abandono e descrença em melhora são retratos da PE-15; Governo tem projeto de requalificação
Rodovia que corta Olinda e Paulista e é eixo de entrada do Recife e acumula problemas. Via ganha projeto de requalificação, orçado em R$ 22 milhões, para começar em outubro de 2021
Uma nova chance para a PE-15, rodovia que se transformou numa avenida urbana de acesso à capital e que corta os municípios de Olinda e Paulista, na Região Metropolitana do Recife. Essa é a promessa do governo de Pernambuco com um novo projeto que começou a ser gestado na Secretaria de Infraestrutura: qualificar, urbanizar e inserir a via nas cidades cortadas por ela. E, tudo isso, com mais protagonismo para o pedestre e o ciclista. É uma tentativa de tentar tornar a PE-15 um pouco mais humanizada. No entanto, basta conversar com quem passa pela via para notar que a descrença da população é gigante diante da perspectiva de ver a PE-15 reconstruída e arrumada.
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A promessa é feita pela secretária Fernandha Batista, à frente da pasta desde janeiro de 2019. O projeto prevê um investimento de R$ 22 milhões na requalificação dos 12 quilômetros da rodovia, entre a Estação de BRT Complexo de Salgadinho, em Olinda, bem próximo ao limite com o Recife, e o Terminal Abreu e Lima, na bifurcação com a BR-101, em Paulista. Serão realizados serviços de recuperação do pavimento, incluindo o corredor de ônibus e BRT, implantação de uma nova ciclovia no mesmo desenho onde existiu um equipamento um dia, urbanização das áreas sob os três viadutos construídos no trecho (Complexo de Salgadinho, Bultrins e Ouro Preto), construção de calçadas, adequação de acessibilidade e segurança viária para os pedestres, nova iluminação em LED e modernização semafórica.
A PROPOSTA DE REQUALIFICAÇÃO DA PE-15
"Esse é o nosso compromisso. A PE-15 nunca recebeu um projeto desses, amplo e feito pelo Estado. Será a reconstrução da rodovia para torná-la uma avenida urbana. Afinal, corta as cidades de Olinda e Paulista e tem um papel fundamental como corredor de transporte para toda a RMR. São 50 mil veículos trafegando diariamente por ela. É quase o mesmo volume de tráfego do contorno urbano da BR-101, para se ter ideia da importância da via. Por isso tanto empenho para essa solução", afirma Fernandha Batista. A empresa que irá fazer o projeto executivo da requalificação está sendo escolhida por licitação pública, já em fase final. Essa etapa irá custar quase R$ 1 milhão.
Os recursos para viabilizar a elaboração e execução do projeto de requalificação da PE-15 são do governo de Pernambuco e estão no pacote do Programa Caminhos de Pernambuco, que prevê o investimento de R$ 505 milhões na infraestrutura viária do Estado. A previsão inicial da Secretaria de Infraestrutura é que as obras comecem em outubro de 2021 e que levem, em média, um ano. Segundo Fernandha Batista, o fato de não haver desapropriações agilizará a execução da obra. Os trechos da ciclovia que estão obstruídos são invasões - em sua maioria temporárias - e terão que ser retiradas.
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DESCRENÇA
Nas ruas, a descrença da população é gigante diante da perspectiva de ver a PE-15 reconstruída e arrumada. Moradores das margens da rodovia são os mais desconfiados. "É difícil de acreditar, confesso. Mas fico na torcida para que aconteça de fato. É uma avenida que precisamos usar, mas que é perigosa, esburacada, suja e escura", critica Paulo José da Silva, que mora em frente à via, em Olinda.
E são muitas as razões para tanta desconfiança. A PE-15 está um lixo. Segue suja e abandonada. O pavimento está um pouco menos ruim do que já esteve, mas as soluções são paliativas e com as primeiras chuvas vão evidenciar o histórico descaso do poder público (Estado e prefeituras) com ela. Não há segurança para pedestres e ciclistas. A ciclovia está destruída. As áreas dos viadutos têm lixo e viraram estacionamento público. A escuridão domina grandes trechos da rodovia, expondo ainda mais a insegurança para circular na via.
Quem sabe por experiência própria o quanto é difícil cuidar do espaço público sem ajuda do Estado ou de prefeituras, desconfia, mas também fica a torcida. "Será ótimo porque, sem o poder público, não conseguimos cuidar de tudo. É muito, muito difícil. E a avenida precisa de cuidado. Está muito abandonada, escura, suja. Consigo manter esse trecho porque são quase dez anos nesse trabalho de formiguinha e, mesmo assim, numa área pequena. Espero que esse projeto aconteça de verdade", diz o aposentado Aguinaldo Costa, que recuperou sozinho, há nove anos, e mantém até hoje o entorno de uma das estações de BRT na PE-15, em Olinda.
Entre os ciclistas, a notícia de que a ciclovia da PE-15 será reconstruída e que haverá uma sinalização efetiva de proteção para quem está de bicicleta e também para os pedestres, é comemorada. Mesmo com desconfiança. "De fato, não existe mais ciclovia. Existiu um dia, há muito tempo. Ela está completamente destruída e, o que ainda ficou, vive invadido pelos carros e pelo comércio. Se recuperarem mesmo, será ótimo", afirma o ciclista Michael Anderson, que diariamente usa a PE-15 de bicicleta.