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Por ruas mais calmas e humanas: limite de velocidade de 30 km/h já

A necessidade de reduzir o limite de velocidade das ruas e avenidas nas cidades é defendida pela ONU na 6ª Semana Global de Segurança no Trânsito

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Roberta Soares

Publicado em 09/05/2021 às 9:00 | Atualizado em 25/05/2021 às 12:39
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Dentro do Maio Amarelo, mês que desde 2014 é destinado a reflexões sobre a insegurança viária e a violência no trânsito, uma discussão vem ganhando força: a necessidade de reduzir o limite de velocidade das ruas e avenidas nas cidades. De tão importante, quem assumiu a liderança por essa discussão foi a Organização das Nações Unidas (ONU), que pelo sexto ano consecutivo realiza a 6ª Semana Global de Segurança no Trânsito entre os dias 17 e 23 de maio, com o tema Ruas pela Vida (Streets for Life).

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O movimento defende limites de 30 km/h (#Love30) como norma em vias onde as pessoas e o tráfego de veículos mais se misturam. Mas por que essa defesa? Segundo dados da ONU, as ruas com baixos limites de velocidade salvam vidas. Criam ruas saudáveis, ecológicas e adequadas para a convivência. Ou seja, criam ruas para a vida.

Samuel Caetano/PCR
Segundo a OMS, velocidades superiores a 30 km/h potencializam as chances de mortes no caso de colisões no trânsito. Por isso a importância de destacar o espaço do pedestre, principalmente na travessia - Samuel Caetano/PCR

Estudos apresentados pela ONU na página de divulgação da Semana Global de Segurança no Trânsito mostram que a redução de uma milha por hora (1 mph) na velocidade nas vias urbanas pode promover a diminuição de até 6% no número de vítimas. Os dados são da Organização Mundial de Saúde (OMS), que aponta que um aumento de 1 km/h na velocidade média leva a um acréscimo de 3% no risco de perda e de 4% a 5% de mortes. Indica, ainda, que velocidades superiores a 30 km/h potencializam as chances de mortes no caso de colisões no trânsito.

ARTES JC
Com a redução dos limites máximos de velocidade permitidos nas cidades, o risco de morte por atropelamento é reduzido em 80% - ARTES JC

Além do alerta, o movimento da ONU está recolhendo assinaturas por todo o mundo para que os legisladores estabeleçam em seus países limites de velocidade mais baixos nas ruas e áreas onde as pessoas caminham e se socializam. Essa é a proposta do #Love30: que a velocidade de 30km/h seja adotada no mundo. Isso porque, em 2022, os líderes mundiais realizarão uma reunião de alto nível sobre segurança no trânsito e a ONU quer apresentar a mobilização mundial para a criação de ruas para a vida (streets for life). Tudo dentro da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.

THIAGO LUCAS/ ARTES JC
Por que reduzir a velocidade das vias? - THIAGO LUCAS/ ARTES JC

Razões para adotar o limite de 30km/h

* As ruas a 30 km / h são seguras e saudáveis.
* Protegem todos que nelas circulam, especialmente os mais vulneráveis, como pedestres, ciclistas, crianças, idosos e pessoas com deficiência.
* As ruas a 30 km/h são ecológicas. São essenciais para alcançar a mobilidade com zero de carbono.
* As ruas limitadas a 30 km/h facilitam a convivência.

Daniel Tavares/PCR
Pelo sexto ano consecutivo realiza a 6ª Semana Global de Segurança no Trânsito entre os dias 17 e 23 de maio, com o tema Ruas pela Vida (Streets for Life) - Daniel Tavares/PCR

Alguns mitos da redução de velocidade das vias:

* Limitar a velocidade a 30 km/h não faz diferença
Evidências em todo o mundo mostram que as ruas com limites de velocidade baixos reduzem o risco de ferimentos graves e salvam vidas. Em Toronto, no Canadá, o número de eventos de trânsito diminuiu 28% quando o limite de velocidade passou de 40 km/h para 30 km/h em 2015. Houve uma redução de dois terços no número de feridos graves e mortais.

Em Bogotá, na Colômbia, a implantação de zonas limitadas a 30 km/h reduziu em 32% a mortalidade no trânsito. Dirigir mais rápido faz com que a visão periférica dos motoristas se estreite e o tempo de reação diminua.

* Limitar a velocidade a 30 km/h é impopular
Pesquisas mundiais mostram que a maioria das pessoas concorda que 30 km/h é o limite de velocidade apropriado em áreas residenciais. E que, quando essas ruas que tiveram a velocidade reduzida conseguem diminuir os congestionamentos, eles tornam-se muito populares.

Uma recente pesquisa global da YouGov em 11 países para a Child Health Initiative (iniciativa para a saúde infantil) mostrou que 74% dos entrevistados apoiaram as restrições em ruas próximas às escolas, incluindo a limitação de velocidade, porque permitiriam que crianças caminhassem ou pedalassem com segurança.

MARCOS PASTICH/PCR
Urbanismo tático no Recife - MARCOS PASTICH/PCR
Samuel Caetano/PCR
Recife implantou uma "gigante" faixa de pedestres na Avenida Nossa Senhora do Carmo, no Centro, num trecho que tem um alto volume de pessoas fazendo travessia - Samuel Caetano/PCR
Daniel Tavares/PCR
Urbanismo tático no Recife - Daniel Tavares/PCR
Daniel Tavares/PCR
Urbanismo tático no Recife - Daniel Tavares/PCR
Daniel Tavares/PCR
Urbanismo tático no Recife - Daniel Tavares/PCR

No Reino Unido, 70% dos motoristas concordaram que 30 km/h é o limite apropriado para ruas residenciais. Na Escócia, 65% foram a favor, e uma em cada quatro pessoas afirmou que seria estimulada a caminhar ou pedalar se a mudança fosse promovida.

* Limitar a velocidade a 30 km/h aumentará a duração da viagem
Testes realizados em situações reais demonstraram que na maioria das viagens habituais na cidade a diferença horária entre conduzir a uma velocidade máxima de 30 km/h ou 50 km/h é mínima. O congestionamento e o tempo de espera nos semáforos têm um impacto maior na duração da viagem do que a velocidade com que os veículos viajam.

* Limitar a velocidade a 30 km/h só é válido para alguns países
De fato, muitos dos países pioneiros que adotaram a medida são de alta renda. Mas a implementação de limites de baixa velocidade nas ruas é possível em qualquer país, com bons resultados. É o caso de bairros da África, América do Norte, Ásia, Europa, América Latina e Australia.

* Limitar a velocidade a 30 km/h prejudica os motoristas
As ruas com limites de velocidade baixos beneficiam também os motoristas. A poluição do ar afeta todos os usuários das estradas, mas os motoristas profissionais estão muito mais expostos a ela, o que aumenta o risco para sua saúde.

Marcos Pastich/PCR
O movimento defende limites de 30 km/h (#Love30) como norma em vias onde as pessoas e o tráfego de veículos mais se misturam - Marcos Pastich/PCR

URBANISMO TÁTICO

O Recife tem avançado na humanização das ruas utilizando o urbanismo tático, algo inimaginável há quatro anos, por exemplo. Atualmente, são diversas áreas da cidade que têm recebido a ferramenta. A Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) tem feito uso do urbanismo tático para criar áreas de trânsito calmo na cidade. Ele tem baixo custo e é de rápida implantação, oferecendo segurança para pedestres e ciclistas.

Segundo a autarquia, já são mais de 34 áreas no Recife que receberam as intervenções, que somam mais de 7.400 metros quadrados e beneficiam 350 mil pessoas. E tudo isso por apenas R$ 590 mil reais - valor investido apenas em 2020. Um investimento pequeno para os benefícios. A CTTU informa que a redução nos eventos de trânsito é fato depois da implantação do urbanismo tático.

Entre janeiro e fevereiro de 2019, ocorreram 24 eventos de trânsito com vítimas nas áreas que receberam a ferramenta. E, após as intervenções, entre janeiro e fevereiro de 2020, o número caiu para 14 eventos com vítimas, o que representa uma redução de 41%. Áreas como o Largo da Paz, em Afogados, na Zona Oeste do Recife, tiveram sete registros com vítimas neste período de 2019 e, no ano seguinte, apenas duas ocorrências. Na Avenida Cruz Cabugá, no Centro da capital, o número também caiu de 23 para 14 no mesmo período. Já na Avenida Conde da Boa Vista, também no Centro, a mudança foi de 22 para quatro eventos de trânsito com vítimas no período.

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