Estrada de Aldeia, no Grande Recife, é teste diário contra a vida
Trafegar por ela é perigoso, caminhar ou pedalar, ainda mais. A ausência de mecanismos de segurança viária - o mínimo, o básico - impressiona
JC nas Estradas
A Coluna Mobilidade está percorrendo alguns dos principais eixos rodoviários da Região Metropolitana do Recife na série de reportagens JC nas Estradas. A proposta é mostrar os gargalos viários, o impacto da transformação de muitas dessas estradas em avenidas urbanas para a população, e dentro do possível, fazer sugestões que possam melhorar a infraestrutura. Para validar as visitas, conta com a parceria de engenheiros do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-PE).
Confira a série de reportagens JC NAS ESTRADAS
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Ela é perigosa demais. É sinuosa demais e não tem infraestrutura para minimizar o perigo. A PE-027, mais conhecida como Estrada de Aldeia, na Zona Oeste do Grande Recife, é um teste diário contra a vida. De ponta a ponta, os 20 quilômetros mais urbanos da via têm um perigo iminente. O excesso de velocidade e a ausência de segurança para pedestres e ciclistas o potencializam. A Estrada de Aldeia é mais uma entre tantas rodovias da Região Metropolitana do Recife que viraram a rua de casa da população, extremamente urbanas e humanas, sem que o poder público percebesse a transformação.
PE-027 É PURO PERIGO
Trafegar por ela é perigoso, caminhar ou pedalar, ainda mais. A ausência de mecanismos de segurança viária - o mínimo, o básico - impressiona. Estreita em quase sua totalidade, a Estrada de Aldeia ainda é repleta de curvas sem qualquer tipo de sinalização. Perigosas, expõem qualquer um que esteja no trânsito: pedestres, ciclistas e até mesmo os motoristas. O pavimento está péssimo e falta acostamento. Calçadas não existem em nenhum trecho. Ciclovia, então, é um sonho. A situação da via, principal acesso dos moradores do reduto verde do Grande Recife, é de falta de atenção e de abandono.
Com o adensamento da região, que segundo o Fórum Socioambiental de Aldeia aumentou demais desde a pandemia, o volume de tráfego cresceu e, com ele, o medo de quem precisa circular pela rodovia. Segundo dados do Departamento de Estradas de Rodagem de Pernambuco (DER-PE), são 20 mil veículos passando por ela diariamente. Em 2020, eram 15 mil.
Esse medo é ainda maior para quem vive às margens dela. Luzia Santana da Silva, dona de casa, tem histórias tristes para contar residindo no local há 32 anos. Já viu duas pessoas serem esmagadas por automóveis na porta de casa. O alargamento dos primeiros dois quilômetros melhorou a vida dos motoristas ao reduzir as retenções rotineiras na saída e entrada da estrada, mas sem a infraestrutura para a circulação de pessoas, expôs ainda mais quem reside na área.
“A velocidade dos veículos aumentou demais, colocando a gente em perigo. Até mesmo na subida. Perdi um inquilino e um vizinho mortos praticamente em casa. Um deles foi um veículo que estava subindo a ladeira. O outro estava na frente da residência. Vivemos com medo e ninguém se atreve a ficar na porta de casa. Precisaria ter mais controle de velocidade e mais espaço para as pessoas circularem com segurança”, diz. Pedalar, então, é ainda mais perigoso. A velocidade dos veículos assusta. “Seria muito bom ver uma ciclovia aqui. Ajudaria demais. É muito arriscado usar a bicicleta porque os carros não respeitam. Estão sempre apressados”, afirma o pedreiro Sérgio Silva, que quase diariamente usa a Estrada de Aldeia para trabalhar.
Vencida a fase íngreme da rodovia, nos 18 quilômetros restantes o excesso de velocidade dos veículos e o despreparo da rodovia para controlá-la segue. E fica ainda mais acentuado com as curvas da estrada. A ausência de acostamento e de travessias para pedestres também se prolonga na via. “Aldeia virou o laboratório do caos, com problemas sérios e que só aumentam porque o adensamento já é grande é só faz crescer. Temos uma Área de Preservação Ambiental (APA) que é completamente ignorada. São variados problemas. O trecho até o km 14 é o mais crítico e contamos com apenas dois equipamentos de fiscalização eletrônica. E do km 14 até o km 20 são as quedas de árvores que representam outro perigo”, alerta a vice-presidente do Fórum, Ludmila Portela.
SOLUÇÕES
O engenheiro Stênio Cuentro, vice-presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Pernambuco (Crea-PE), destaca que a PE-027 precisa de soluções de segurança viária para ontem e que elas têm que ser diferentes porque a rodovia tem características diferentes. "É mais um exemplo de uma estrada urbana e humana, ainda tratada como rodovia. Isso precisa ser visto. São problemas e soluções diferentes. E baratas. A ladeira de entrada da PE, por exemplo, precisa ganhar calçadas e maior redução de velocidade. O pontilhão de acesso tem que ser alargado para acabar com o gargalo do tráfego. Ao longo dela, principalmente até o km 6 e nas imediações do km 10, precisa ganhar calçadas, ciclovias e iluminação adequada porque é uma via urbana”, diz.
Stênio Cuentro lembra que a Estrada de Aldeia tem uma grande vantagem sobre outras rodovias estaduais que cortam o Grande Recife porque ela não recebe tráfego pesado de caminhões, por exemplo, o que ajuda na recuperação e manutenção do pavimento. “Isso influencia positivamente no custo dos projetos. São intervenções de baixo custo para a engenharia civil e que protegem o ciclista e o pedestre”, atesta.
É mais um exemplo de uma estrada urbana e humana, ainda tratada como rodovia. Isso precisa ser visto. São problemas e soluções diferentes. E baratas. A ladeira de entrada da PE, por exemplo, precisa ganhar calçadas e maior redução de velocidade. O pontilhão de acesso tem que ser alargado para acabar com o gargalo do tráfego. Ao longo dela, principalmente até o km 6 e nas imediações do km 10, precisa ganhar calçadas, ciclovias e iluminação adequada porque é uma via urbana”,Stênio Cuentro, vice-presidente do CREA-PE
AÇÕES DO ESTADO
O governo de Pernambuco garante estar cuidando da Estrada de Aldeia. Por nota, a Secretaria de Infraestrutura e Recursos Hídricos (Seinfra) informou que a via tem recebido as ações de manutenção do Programa Caminhos de Pernambuco, realizadas pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER). “O órgão executa de forma rotineira os serviços de manutenção da pavimentação, capinação das margens e limpeza dos dispositivos de drenagem da rodovia, que possui 37,5 quilômetros de extensão, a partir da PE-005, em Camaragibe, até o entroncamento com a PE-041, no município de Araçoiaba”, diz a nota.
De Chã de Cruz até Araçoiaba, de fato, a PE-027 é uma rodovia na essência e está com operação tapa-buraco - o que não resolve os problemas do pavimento, apenas adia a reconstrução da via. Mas no trecho urbanizado, pelo menos por enquanto, não há nenhum projeto para transformá-lo numa rota menos perigosa e mais humanizada. De acordo com o Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRV) de Pernambuco, desde o início deste ano, quatro acidentes foram registrados na rodovia.
É mais um exemplo de uma estrada urbana e humana, ainda tratada como rodovia. Isso precisa ser visto. São problemas e soluções diferentes. E baratas. A ladeira de entrada da PE, por exemplo, precisa ganhar calçadas e mai
Stênio Cuentro, vice-presidente do CREA-PE