Infraestrutura para a bicicleta ainda a desejar na capital e no Grande Recife, oito anos depois de criação do Plano Diretor Cicloviário
Criado em 2014, o Plano Diretor Cicloviário (PDC) da Região Metropolitana do Recife teve apenas 20% implementado
No dia 4 de fevereiro, o Plano Diretor Cicloviário (PDC) do Recife e Região Metropolitana (RMR) - um estudo que custou quase R$ 1 milhão de recursos públicos para indicar as ruas e avenidas onde deveriam ser implantadas infraestrutura para a bicicleta - comemorou oito anos com pouquíssimos avanços. Apenas 20% do que foi projetado na época, auge da gestão estadual de Eduardo Campos (PSB), foi executado na prática. O levantamento e alerta são da Ameciclo (Associação Metropolitana de Ciclistas do Recife), que comemorou o “desaniversário” do PDC, gesto que a entidade vem repetindo pelo menos desde 2017, quando começou a perceber que o documento criado para guiar a implementação de infraestrutura cicloviária na cidade começava a enfrentar dificuldades para sair do papel e ser visto, de fato, nas vias da cidade.
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O plano previa a construção de 590 km de ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas em todo o Grande Recife - quase 200 km somente na capital - até 2024, a um custo estimado de R$ 340 milhões (valores da época). Mas levantamento da Ameciclo aponta que, a apenas dois anos do prazo final estabelecido para implantar toda a rede (dez anos), bem menos da metade do que foi projetado terminou executado. Apesar de os ciclistas estarem nas ruas em grande volume, aumentado com a pandemia de covid-19 e a crise econômica que a acompanha.
Ainda de acordo com a Ameciclo, são pelo menos 25 mil ciclistas pedalando diariamente na RMR. Se considerarmos as que usam a bike para ir ao trabalho, estudar ou para o lazer - mesmo que não diariamente -, esse número chega a 100 mil pessoas. Os dados têm como base as 49 contagens que a entidade já realizou em 24 pontos diferentes da capital e do Grande Recife. Somente em oito cruzamentos diferentes, foram computadas 25 mil pessoas que pedalam diariamente.
O DESAFIO AINDA SÃO AS GRANDES AVENIDAS
A ausência de infraestrutura para a bicicleta nas grandes avenidas e corredores viários é o que mais incomoda os ciclistas porque elas são as mais perigosas para pedalar. São vias onde a velocidade ultrapassa os 60 km/h, e que, por isso, precisariam de mais segurança para a mobilidade ativa. “É o caso da Avenida Caxangá, local que foi palco da violenta morte do ciclista e trabalhador Flávio Antônio, em novembro de 2021, atingido pelo pneu de um carro que estava em alta velocidade. São em avenidas semelhantes, como a Agamenon Magalhães, a Mascarenhas de Morais e a Avenida Norte que o PDC prevê ciclovias, já que estas retém o maior número de colisões e atropelamentos da capital. Apesar da propaganda da gestão de João Campos sobre a implantação de ciclofaixas pela cidade, a rede cicloviária instalada hoje não leva o ciclista de sua região de moradia para as regiões de trabalho, concentradas no centro da cidade e na zona costeira, ou não faz o caminho que ciclistas fazem no seu cotidiano”, afirma Vanessa Santana, uma das coordenadoras da Ameciclo.
A entidade de ciclistas defende que, para contemplar todos e todas, a estrutura cicloviária deveria estar nas avenidas principais porque são o percurso que carros, ônibus e bicicletas realizam. Mas para a Ameciclo, a gestão municipal da capital insiste em jogar o ciclista para as vias adjacentes, aumentando seu roteiro e negando a segurança necessária na via principal por entender que o carro não pode ser “secundarizado”.
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PLANO EMERGENCIAL IGNORADO
Outra reclamação dos ciclistas é que, no auge da pandemia de covid-19, ainda em 2020, a Ameciclo construiu uma proposta de plano emergencial para implantação de estrutura cicloviária no Recife e disponibilizou para a prefeitura. Era uma solução para o alto risco de contágio identificado no transporte coletivo e nos terminais integrados. Foi estabelecido um limite de implantação de 25 km em quatro fases elencadas, mas a proposta foi ignorada pela gestão municipal.
Seria um total de 87,2 km, implantados a um custo entre R$ 2,5 milhões e R$ 4,2 milhões, que proporcionariam uma cobertura de malha cicloviária para 589 mil pessoas (39% da população). Essa malha passaria perto de 352 mil postos de trabalho (56% dos empregos). Os dados foram simulados a partir da metodologia PNB (People Near Bike) do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP).
RECIFE DIZ TER IMPLEMENTADO QUASE 80% DO PDC
A Prefeitura do Recife contesta as críticas dos ciclistas e insiste que tem avançado na ampliação da malha cicloviária da cidade. Diz que em 2021 implantou 19 km de novas estruturas, priorizando, especialmente, a conexão entre as rotas. Contabilizando os nove anos da gestão municipal do PSB, a cidade passou a ter 159 km de malha cicloviária, o que representa um aumento de 560% desde 2013, quando havia apenas 24 km. Diz, ainda, que projeta e implanta as rotas cicloviárias complementares estabelecidas no PDC. E que, até o momento, o Recife foi a cidade que mais avançou na execução do plano, com 77,8% da meta concluída. E mais: que até 2024, implantará 178,3 km de rotas complementares, como determinado no PDC.
GOVERNO DE PERNAMBUCO FAZ PROMESSAS
Já o governo de Pernambuco - responsável pela implantação das rotas metropolitanas - informou que, até o fim de março, estará concluído o termo de cooperação técnica com a Prefeitura do Recife para dar continuidade ao planejamento e elaboração de projetos e ações cicloviárias com foco nos grandes corredores que vêm sendo tratados também no Comitê de Corredores Exclusivos, instância estadual que envolve vários órgãos e municípios da RMR. “Atualmente, o termo encontra-se sob análise do departamento jurídico da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh). No mesmo prazo também será formalizado o conselho consultivo do Escritório da Bicicleta, colegiado que discute políticas públicas voltadas à ciclomobilidade”, informou por nota.
Confira a resposta da CTTU na íntegra:
“A Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) conta, hoje, com 159 km de malha cicloviária implantada na cidade, o que corresponde a um aumento de 560% desde 2013, quando havia 24 km no município. De acordo com o Plano Diretor Cicloviário, a Prefeitura do Recife deve implantar, até 2024, 178,3 km de rotas complementares. Até o momento, 77,8% dessa meta foi alcançada, fazendo do Recife a cidade que mais avançou no cumprimento do PDC.
Além da estrutura cicloviária, existe, ainda, um plano de readequação de velocidade nas vias para 40 km/h, onde há ciclofaixas e 30 km/h, onde há ciclorrotas e áreas compartilhadas. A readequação da velocidade é feita com sinalização, fiscalização eletrônica - como no caso da Zona 30 do Bairro do Recife - ou, ainda, com redesenho urbano para diminuição da calha viária - como no caso da Zona 30 da Ilha do Leite. De acordo com o ITDP, o Recife é a 4° capital com a rede cicloviária mais acessível do Brasil, com 26% da população atendida com rotas cicláveis em uma distância de até 300 metros.
No que diz respeito à Rota Ciclável da Avenida Caxangá, é importante lembrar que, de acordo com o Plano Diretor Cicloviário, se configura como uma rota metropolitana, ou seja, de responsabilidade do Governo do Estado”.