Metrô do Recife é um problema de todos: União, Estado e prefeituras precisam se incomodar diante da destruição do sistema
Todos precisam parar de fingir que não têm responsabilidade. Sistema de transporte público beneficia a sociedade em geral, mesmo aqueles que só usam o automóvel
O Metrô do Recife é um problema de todos. Embora a gestão, no caso do equipamento pernambucano, seja do governo federal, o governo do Estado e as prefeituras da Região Metropolitana precisam deixar de indiferença diante da destruição do sistema.
É preciso agir. E logo. Antes que o metrô pare de vez.
Não apenas sobre o aspecto financeiro - no caso do transporte metroferroviário, dos governos federal e estadual -, mas também pela ótica moral.
O governador do Estado e os prefeitos da RMR precisam se incomodar com a vergonhosa situação a que chegou o metrô, que em Pernambuco é metropolitano - ou seja, atende ao Grande Recife.
Embora tenha a maior parte dos 71 quilômetros de sua rede elétrica no Recife, o metrô atende diretamente os municípios de Jaboatão dos Guararapes, Camaragibe e Cabo de Santo Agostinho.
Mas, indiretamente, beneficia todas as cidades da RMR porque a lógica do transporte público do Grande Recife é a do Sistema Estrutural Integrado (SEI), de integração tarifária e física entre ônibus e metrô e ônibus com ônibus.
E faz tempo. Desde meados dos anos 1980. Ou seja, o passageiro de Igarassu ou de Paulista, onde o metrô não chega, pode usar o sistema metroferroviário para chegar ao Cabo, por exemplo, e só pagar uma passagem.
Sendo assim, todos são responsáveis.
Sob o aspecto moral, é preciso que não só os prefeitos, mas também as bancadas legislativas eleitas pelo povo pernambucano se incomodem com a destruição do Metrô do Recife.
Articulações, idas à Brasília e pressão sobre o governo federal precisam ser feitas. Estado e prefeituras precisam dar as mãos e buscar isso.
Os funcionários do metrô, assim como os passageiros, não têm força para isso sozinhos. E são eles que estão sofrendo.
Para o passageiro, pouco importa quem é o responsável: ele quer um sistema que funcione, que não seja tão caro e que o leve com o mínimo de conforto e previsibilidade ao seu destino.
Quem usa o transporte público sabe disso. Agora, planejar o transporte público sentado no gabinete ou andando de carro não funciona.
A chamada desestatização do Metrô do Recife (redução da participação ou exclusão da gestão do Estado) está sendo discutida desde 2020.
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Os custos orçados para “arrumar” o sistema estão, por enquanto, orçados em R$ 1,5 bilhão.
E a discussão é quanto cada ente (Estado e União) terá que injetar antes de modelar uma concessão pública.
Além disso, quanto o Estado - no caso da estadualização - terá que colocar anualmente no sistema, mesmo ele passando a ser operado pela iniciativa privada.
Atualmente, denuncia o SindMetro, o Metrô do Recife tem dez composições completamente sucateadas e opera sem um número razoável de trens, o que provoca intervalos de 17/20 minutos e, consequentemente, viagens menos confortáveis devido à superlotação dos vagões.
“Atualmente estamos operando com sete ou oito metrôs na Linha Centro, de três a quatro na Linha Sul e um VLT na Linha Diesel. Estamos chegando a uma situação na Linha Sul de ter apenas três metrôs em operação, impossibilitando o seu funcionamento, ou seja, com possibilidade de paralisação daquela linha”, denunciou o novo presidente da entidade, Luiz Soares.
Para complicar a situação, o governo de Pernambuco passou anos sem repassar os valores referentes às utilizações dos cartões VEM no Metrô. Pelas contas da CBTU, os valores passam dos R$ 100 milhões entre 2012 e 2020.
Voltou a pagar, garante o Estado - o que é verdade.
SITUAÇÃO SEMELHANTE NOS ÔNIBUS
O sistema de ônibus é vítima da mesma indiferença que sofre o Metrô do Recife.
Até hoje o consórcio que sacrificou a antiga EMTU - cuja criação em 2008 custou R$ 3 milhões - só teve a adesão da capital e de Olinda. Cadê os outros municípios da RMR?
Recife aderiu porque, sem ele, o Consórcio sequer existiria, já que 80% das linhas do sistema passam ou estão na capital.
No momento de sua criação, faziam parte do arranjo apenas três entes federativos metropolitanos: o governo de Pernambuco, e os municípios de Olinda e Recife.
E até hoje, 14 anos depois, os demais municípios metropolitanos ainda não aderiram. Seguem fazendo “cara de paisagem”.
Lembrando que a intenção em extinguir a EMTU-Recife era permitir que o novo órgão gestor pudesse desenvolver uma nova relação a partir do compartilhamento da responsabilidade da gestão entre Estado e municípios.
Ainda estamos longe disso. Infelizmente.