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Metrô do Recife: incêndio no VLT é o limite do abandono. O que mais falta acontecer?

Para quem acompanha a notícia de fora, sem muitos detalhes, pode achar que foi um episódio isolado. Mas não é verdade. É mais uma consequência da indiferença com que o sistema metroferroviário pernambucano vem sendo tratado pelo governo federal

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Roberta Soares

Publicado em 25/04/2022 às 14:00 | Atualizado em 28/04/2022 às 9:23
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O incêndio em um dos VLTs (Veículos Leves sobre Trilhos) que operam na Linha Diesel do Metrô do Recife, na tarde de sábado (23/4), no Cabo de Santo Agostinho, Grande Recife, foi o limite do abandono do sistema pernambucano.

Se a imagem do veículo em chamas, com uma vasta fumaça preta por trás, já assusta, imagine para quem estava lá dentro?

Não houve feridos por pouco. E se alguma pane impedisse a abertura das portas, impedindo a saída rápida dos passageiros?

O fato de a Linha Diesel ser aberta em praticamente toda sua extensão - nos dois ramais: Cabo de Santo Agostinho e Rodoviária - ajudou na fuga dos usuários.



Para quem acompanha a notícia de fora, sem muitos detalhes, pode achar que foi um episódio isolado.

Mas não é verdade. É mais uma consequência da indiferença com que o sistema metroferroviário pernambucano vem sendo tratado pelo governo federal.

Descaso de pelo menos dez anos, mas que foi potencializado com a atual gestão federal, que decidiu repassar para a gestão privada a operação dos cinco sistemas da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU): Recife, Belo Horizonte, Natal, João Pessoa e Maceió.

Ou pelo menos os que conseguiu deixar atrativo para as concessões públicas - estima-se que o de BH (já em processo) e o do Recife (que está com os estudos quase finalizados).



Dessa vez, o problema foi na Linha Diesel, que é pequena perto do sistema elétrico - responde pelo transporte de 1.150 passageiros - algo próximo a 1% da demanda de passageiros do Metrô do Recife, atualmente de 300 mil pessoas por dia.


Mas reflete o todo. A situação crítica de todo o sistema.

Na semana passada, os dois ramais da Linha Centro do metrô ficaram sem operar por mais de 24h, depois que um cabo se rompeu na Estação Ipiranga, estratégica na bifurcação que a rede elétrica faz nos ramais Camaragibe e Jaboatão dos Guararapes.

Severino Soares/JC Imagem
Linha Diesel não está funcionando na manhã desta segunda-feira (25) - Severino Soares/JC Imagem


A Linha Diesel já vem dando problemas faz tempo. O ramal para o Cabo de Santo Agostinho é o que tem a operação mais confiável.

Já o ramal Rodoviária está sem operar por falta de VLTs há semanas.

Faltam metrôs, faltam VLTs e faltam recursos. O Metrô do Recife mal consegue recursos até para se manter. Há anos opera com bem menos do que precisa. Investimento é coisa do passado.

Para 2022, teve R$ 85 milhões aprovados para custeio (despesas básicas de operação), mas até agora apenas R$ 37 milhões foram liberados. A necessidade seria de, pelo menos, R$ 150 milhões.
Também não houve orçamento para investimentos em 2022. As informações são oficiais da CBTU.

RECUPERAR METRÔ DO RECIFE CUSTARÁ CARO

O sistema pernambucano caminha para ser repassado à gestão privada, numa concessão pública semelhante à que está sendo implantada pelo governo federal no Metrô de Belo Horizonte, em Minas Gerais.

O processo em Minas Gerais, inclusive, está avançado. A desestatização da CBTU na Região Metropolitana de Belo Horizonte foi aprovada pelo governo federal e a previsão é de que o sistema receba um total de R$ R$ 3,7 bilhões, considerando todos os investimentos e aportes.

Reprodução
VLT incendiado no Cabo de Santo Agostinho - Reprodução

O Governo Federal vai investir R$ 2,8 bilhões para viabilizar a construção da Linha 2 do metrô mineiro que atende Belo Horizonte e cidades próximas, além de obras de modernização e ampliação da Linha 1, intervenções previstas no processo de desestatização da CBTU.

O aporte é fruto de um acordo alinhado entre o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), o Ministério da Infraestrutura e o governo de Minas Gerais.

Confira a série de reportagens Metrôs - Uma conta que não fecha

Além dos recursos federais, o Executivo mineiro vai aportar outros R$ 428 milhões, o que elevará o montante de investimentos para R$ 3,2 bilhões. Os investimentos totais estão estimados em R$ 3,7 bilhões e serão complementados pela iniciativa privada, que terá o direito de explorar os serviços.

A concessão prevê a execução de investimentos para modernização e ampliação da Linha 1 e para a construção da Linha 2.

A CBTU-MG teve a desestatização qualificada no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), por meio do Decreto n. 9.999/2019, e a elaboração dos estudos necessários ao processo de desestatização e concessão estão sendo conduzidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O processo será semelhante para o Metrô do Recife - caso seja, de fato, aprovado. Os estudos seguem sendo feitos também pelo BNDES e têm avançado. No caso do sistema pernambucano, a última estimativa de investimentos necessários para deixar o metrô “apresentável” a uma possível concessão privada seria de R$ 1,5 bilhão.

Os valores foram informados, ainda em agosto de 2021, pela Secretaria Executivo de Parcerias e Estratégias de Pernambuco, que integra a Secretaria de Planejamento e Gestão e coordenada as Parcerias Público Privadas (PPPs) do Estado.

Foto: Diego Nigro/JC Imagem
Crime aconteceu na estação de VLT do local nesta segunda-feira (1º) - Foto: Diego Nigro/JC Imagem

RESPOSTA CBTU

Por nota, a CBTU Recifese posicionou sobre o incêndio e a interrupção da operação. Mas não entrou na questão do sucateamento do sistema.

Confira:

“A CBTU Recife informa que as causas do incêndio estão sendo analisadas pela área de manutenção da empresa, que tão logo emitirá um parecer sobre os motivos que podem ter levado ao fato. O prejuízo ainda não foi estimado.

Esclarecemos ainda que a CBTU está em contato com as empresas municipais que atendem as áreas afetadas pela suspensão momentânea do serviço para suporte nas linhas de ônibus. A Companhia reitera que trabalha para que o ramal seja normalizado o mais rápido possível, dentro das normas de segurança da empresa”.

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