Um leitor da Coluna Mobilidade afirmou sobre o triste episódio em que uma condutora de 81 anos morreu afogada ao tentar realizar a travessia pelo Túnel Felipe Salgado, mais conhecido como Túnel do Jordão, na Zona Sul do Recife: “Não era para alagar, não era para alguém tentar passar num túnel alagado, era para a autoridade de trânsito ter alguém lá para impedir a tentativa. E não era nem pra existir um túnel desses no meio da cidade”.
As afirmações do leitor, por mais que tenha exageros e desagrade a muita gente, têm verdades que precisam ser consideradas. Que a condutora do Honda Fit, por razões que ainda não são conhecidas (e provavelmente nunca serão), foi imprudente ao tentar fazer a travessia do Túnel do Jordão, é fato.
Se conhecia o percurso e o risco que o equipamento sempre representou em épocas de chuvas, não deveria ter entrado. E, se não conhecia, os motivos eram ainda maiores para não ter forçado a passagem.
Mas também é verdade o que o leitor afirma: diante do risco e do histórico do Túnel do Jordão, o poder público não poderia ter deixado o equipamento sem uma vigilância permanente.
E, nesse caso, a responsabilidade deve ser dividida entre o governo de Pernambuco, via Departamento de Estradas de Rodagem (DER-PE) - órgão que construiu, que opera e que mantém o túnel - e a Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU), responsável pela circulação nas vias da cidade e, portanto, a quem cabe bloquear o acesso.
Um outro leitor afirmou à Coluna Mobilidade que no domingo tentou fazer a travessia pelo equipamento e, com facilidade, furou o "bloqueio" do poder público, feito com cavaletes. Não forçou a travessia porque estava com a família e percebeu o risco.
Caso contrário, não haveria ninguém que o impedisse de se arriscar.
Infelizmente, como tem sido comum nas relações com o poder público, estadual, federal e municipais, as respostas limitam-se a notas oficiais que quase sempre deixam diversos questionamentos no ar.
A desculpa sobre o Túnel do Jordão que não é mais aceita
O posicionamento oficial do governo de Pernambuco informando que o Túnel do Jordão está alagado porque o vandalismo e furto impediram o escoamento da água é um argumento que não é mais aceitável.
É algo considerado inadmissível na engenharia civil e em pleno Século 21, com a tecnologia guiando a vida das pessoas. Ainda mais num equipamento que tem problemas básicos, frequentes há dez anos, como é o caso do Túnel do Jordão.
O alerta é feito pela Associação Brasileira de Engenheiros Civis (ABENC).
“Não se pode aceitar esse tipo de situação. Um equipamento como esse não pode passar dez anos alagado quando chove. É preciso que o sistema de escoamento funcione”, alerta Stênio Cuentro, presidente da ABENC.
“Um problema desses uma vez, tudo bem. Mas é preciso resolver. Essa desculpa só vale uma vez. Hoje em dia você embute os cabos, fazendo o chamado envelopamento de concreto dos cabos e da bomba. E ainda usa um dispositivo que alerta no próprio celular toda vez que a bomba parar. Esse alerta vai para uma central de monitoramento”, explica.
A solução, que poderia ter evitado a morte da condutora, representa um investimento de R$320 mil.
CONFIRA o que disse o DER-PE:
“O Departamento de Estradas de Rodagem (DER) lamenta o acidente ocorrido na manhã desta quarta-feira (03) e informa que, desde o final de julho, a circulação de veículos no Túnel Felipe Camarão precisou ser interrompida por uma ação de vandalismo que atingiu todo o sistema elétrico e as bombas hidráulicas responsáveis por drenar as águas pluviais das pistas do túnel, no bairro do Jordão.
Com isso, o tráfego foi desviado para rotas alternativas. Agentes de trânsito auxiliaram orientando os motoristas nas vias de acesso ao equipamento, que estava devidamente sinalizado indicando sua interdição.
Em decorrência dos atos recorrentes de furto e vandalismo, ocorridos em junho e julho, o DER registrou quatro boletins de ocorrência junto à Polícia Civil e instalou câmeras de monitoramento.
O órgão informa ainda que foi preciso elaborar um novo projeto de restauração do sistema de drenagem e está providenciando a aquisição dos equipamentos necessários para restabelecer o funcionamento das bombas do Túnel. O investimento necessário será de R$ 320 mil”.
CONFIRA o que disse a CTTU/Recife
"A Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) informa que mantém monitoramento e sinalização com cavaletes no Túnel Felipe Camarão, no bairro do Jordão, durante os momentos de chuva, quando a área precisa ser interditada.
As ações da CTTU, no entanto, atuam de forma a apoiar a operação do Departamento de Estradas e Rodagens (DER), órgão responsável pela área do Túnel. A CTTU avisou à população acerca da interdição em tweet publicado às 6h59 de hoje, bem como o assunto foi veiculado em meios de comunicação de amplo alcance".
Responsabilidade sobre o Túnel do Jordão
O Túnel do Jordão tem dez anos de construído e já teve outros problemas estruturais, como a falha de execução da laje superior que provocou a interdição por meses. O equipamento fez parte das obras de triplicação da Estrada da Batalha, executada em 2012 pelo governo de Pernambuco.
Para quem não sabe, o Túnel do Jordão é fundamental para a conexão da periferia da Zona Sul do Recife com a PE-08, a Estrada da Batalha, ligando o Recife a Jaboatão dos Guararapes. A Estrada da Batalha é um importante corredor que dá acesso à BR-101, na saída sul do Grande Recife.
Toda a operação e manutenção do Túnel do Jordão, assim como da Estrada da Batalha, são feitas pelo DER-PE. A CTTU/Recife cuida da circulação no equipamento e é o órgão que garantiu ter isolado a área a partir das 6h59 desta quarta-feira, quase duas horas antes do afogamento.
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