Estradas de Pernambuco: entre a degradação pública e o desgaste social do pedágio

Apesar dos investimentos feitos desde 2011, de quase R$ 4 bilhões, o passivo da malha rodoviária é desafio certo do futuro governador de Pernambuco
Roberta Soares
Publicado em 23/08/2022 às 9:15
REQUALIFICAÇÃO Estradas pernambucanas precisam de melhorias Foto: FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM


Que as últimas gestões do PSB - desde Eduardo Campos - fizeram um grande e importante investimento nas estradas de Pernambuco, não há como negar. São R$ 2 bilhões com o Plano Caminhos de Pernambuco e mais R$ 1,9 bilhão investido no Programa Caminhos da Integração, de 2011. Mas sistema viário é um setor permanentemente mutável. Principalmente quando não há fiscalização e controle do uso - como acontece no País.

Por isso, o passivo de requalificação, reconstrução e implantação de estradas existe e sempre exige investimentos pesados. Por mais que se faça, é preciso sempre fazer mais e mais. E quando se faz, em pouco tempo é necessário refazer.

CONFIRA o especial multimídia DESCAMINHOS

Conheça o projeto de pedágio para três rodovias de Pernambuco. Audiências públicas acontecem esta semana

No caso de Pernambuco, estamos falando de 12,5 mil quilômetros de rodovias, a quarta maior malha rodoviária do Nordeste. São 142 rodovias estaduais e 13 estradas federais existentes no Estado.

Sendo assim, as estradas também estão entre os desafios do futuro governador. O gestor chegará com um pacote de concessão de rodovias estaduais pronto para ser licitado e alguns projetos estruturadores fundamentais que terá que desatar.

GUGA MATOS/JC IMAGEM - Por mais que se faça, é preciso sempre fazer mais e mais. E quando se faz, em pouco tempo é necessário refazer

É o caso, por exemplo, da implantação do Arco Metropolitano, projeto de infraestrutura rodoviária que há quase 20 anos é discutido para desafogar a Região Metropolitana do Recife sem nunca ter saído do papel, e da restauração e futuro da BR-232 até Caruaru, no Agreste pernambucano.

“Se o Arco vai arrodear ou não a Área de Proteção Ambiental (APA) Aldeia Beberibe, temos que resolver. Mas o importante é que ele seja implantado, que vire realidade. Isso o futuro governador terá que fazer. Terá que desatar”, alerta Avelar Loureiro Filho, empresário que comanda o Movimento Pró-Pernambuco, entidade que engloba 32 instituições do setor produtivo do Estado.

 

 

ARTES JC - Os principais desafios do futuro governador

OUTROS DESAFIOS:

“A Região Metropolitana do Recife precisa desse projeto. A quarta perimetral da cidade (a BR-101) não suporta sozinha. Concluir os projetos deve ser prioridade”, segue, defendendo que o Arco seja concedido à operação privada. “Mesmo não sendo tão viável quanto a BR-232, por exemplo, mas é importante que seja para ter maior eficiência”, afirma.

O Arco Metropolitano segue no impasse. Em maio deste ano, após idas e vindas e recomendações do TCE-PE, a Secretaria de Infraestrutura de Pernambuco (Seinfra) contratou o consórcio responsável pela elaboração dos estudos em geral para o Trecho Norte (Lote 1: BR-408, em Paudalho, até a BR-101 Norte, em Goiana).

FILIPE JORDÃO/ACERVO JC IMAGEM - PE-60, principal acesso ao Lioral Sul do Estado, está no pacote das concessões que o futuro governador receberá pronto

Devem durar um ano. Somente após a conclusão dessa etapa será possível escolher o traçado viável.

Já o traçado Sul (Lote 2: BR-408, em Paudalho, até a BR-101 Sul, no Cabo de Santo Agostinho), que possui 45,3 quilômetros de extensão, já possui a licença prévia ambiental aprovada pela Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH).

ARTES JC - Os principais desafios do futuro governador

Segundo a Seinfra, também está em andamento a elaboração dos estudos complementares e projetos executivos de engenharia para esse lote, que é o menos polêmico.

A previsão é que os estudos sejam entregues até novembro. Após essa fase, será lançado o edital de contratação das obras.

MAIS DESAFIOS:

JC IMAGEM - Evandroke Castro, 36 anos, proprietário da Castro Tur, que faz passeios turísticos em Pernambuco

POPULAÇÃO IMPLORA POR MELHORIAS

A melhoria da malha rodoviária do Estado está na boca do povo. É desejo de muitos, principalmente de quem depende dela financeiramente. “A PE-60 é crítica. Cheia de buracos e de trechos não duplicados. Do Cabo de Santo Agostinho até São José da Coroa Grande, por exemplo, é uma pista simples e o risco é grande. Não tem iluminação pública, não tem segurança, não tem nada”, critica Evandroke Castro, 36 anos, proprietário da Castro Tur, que faz passeios turísticos em Pernambuco.

“Eu prefiro pagar o pedágio porque é mais seguro para mim e para os passageiros. Também é mais rápido porque não tem buracos. Gasto no pedágio, mas economizo na manutenção dos veículos”, argumenta .

CAMINHOS DA INTEGRAÇÃO

Lançado em 2011 pela então Secretaria de Transportes do Estado, o programa Caminhos da Integração investiu R$ 1,9 bilhão até 2014, em ações de conservação, construção, reforma e manutenção da malha rodoviária de Pernambuco.

FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM - A promessa antiga, feita por muitos políticos do Estado, de fazer a duplicação até Arcoverde, na entrada do Sertão, já foi deixada de lado. Agora, o percurso é maior

CONCESSÕES

Sobre o futuro da BR-232, o Movimento Pró-Pernambuco também sugere a concessão da rodovia. “A BR-232 tem que ser concedida. O Estado brasileiro, assim como Pernambuco, não suporta esse custo. Não tem outra forma que não seja a concessão pública”, diz Avelar Loureiro Filho.

“O modelo da concessão a ser adotado se discute. Por isso é importante fazer os projetos. Tê-los prontos. E começar logo para que possamos fazer uma elaboração melhor do projeto, reduzindo os riscos e, assim, conseguindo um custo menor para a sociedade”, afirma.

“O mesmo vale para a PE-60, por exemplo. É preciso transformá-la numa concessão pública. Já há outras rodovias que não podem, são mais difíceis. É o caso da PE-15 e PE-22, ambas no Grande Recife. São muito urbanas”, finaliza Avelar.

A rodovia PE-60 faz parte do pacote de estradas que já têm um projeto de concessão pronto, aguardando apenas ajustes e o mercado de licitações ficar um pouco mais estável - a guerra da Ucrânia, a crise econômica e as Eleições 2022 têm interferido.

O pacote, elaborado pelo BNDES sob coordenação da Secretaria de Planejamento de Pernambuco (Seplag), prevê a cobrança de pedágio em três rodovias estaduais: PE-60, a mais famosa; a PE-90, que liga Toritama, no Agreste, ao município de Carpina, na Zona da Mata Norte; e a PE-50, que conecta Limoeiro à BR-232, em Vitória de Santo Antão, também no Agreste pernambucano.

CONFIRA os detalhes do Pacote de Concessões Rodoviárias de Pernambuco

CAMINHOS DE PERNAMBUCO

Lançado em maio de 2019, inicialmente o Programa Caminhos de Pernambuco tinha um planejamento de investimentos no valor de R$ 505 milhões. Mas com a pandemia de covid-19, o governo do Estado o inclui no Plano Retomada, ampliando os recursos a serem investidos na melhoria da infraestrutura viária para R$ 2 bilhões até o fim de 2022.

Segundo informações da Secretaria de Infraestrutura de Pernambuco, 31 obras tinham sido concluídas até agosto deste ano, totalizando 470 quilômetros de rodovias. E outras 39 estão em andamento, somando 892 quilômetros de rodovias requalificadas.

Até agora, são mais de R$ 1,4 bilhão investido em 1.363 quilômetros em todas as regiões do Estado. Obras que também geraram 20 mil empregos diretos.

TAGS
mobilidade eleições 2022 Estradas Pedágio
Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory