Nem o PT nem o MDB. Quem vai assumir a bronca que virou o Metrô do Recife - com um déficit apenas de custeio na ordem de R$ 300 milhões ao ano - é um nome ligado ao presidente reeleito da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).
Por sorte, é um nome técnico: Dorival Martins, eletrotécnico da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), funcionário de carreira, com pós-graduação em gestão pública. Dorival Martins vai substituir Carlos Fernando Ferreira da Silva Filho, que comandava o sistema metropolitano desde abril de 2020. Na época, Ferreira foi o segundo superintendente em menos de dois meses e o terceiro desde outubro de 2019.
O nome é escolha do diretor-geral da CBTU nacional, José Marques, que segue no comando da companhia desde a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Marques é ligado a Arthur Lira e conseguiu vencer a força do senador Humberto Costa (PT), que defendia o nome do seu assessor parlamentar Dilson Peixoto.
Também foram indicados outros nomes de funcionários de carreira para ocupar funções administrativas da Superintendência da CBTU no Recife: o eletrotécnico José Inocêncio para chefia de Gabinete; o engenheiro de manutenção Adalberto Nunes para a Gerência Regional de Manutenção (GIMAN); e o eletrotécnico com pós-graduação em gestão pública Sávio Marcos para a Gerência Regional de Operação (GIOPE).
Cemitério de trens do Metrô do Recife
Havia uma expectativa de que o senador pernambucano Humberto Costa (PT-PE) conseguisse se sobrepor à força de Arthur Lira (PP-AL) - reeleito para a presidência em fevereiro com expressa votação (464 votos dos 509 deputados federais presentes). Se isso acontecesse, o nome cotado seria o do ex-vereador e ex-secretário Dilson Peixoto, petista de carteirinha.
Dilson Peixoto está como assessor legislativo do senador Humberto Costa, mas já comandou pastas e órgãos ligados à gestão do transporte público de Pernambuco, como o Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano (CTM) - gestor do sistema de ônibus da RMR - e a Empresa Pernambucana de Transporte Intermunicipal (EPTI) - que gere os ônibus intermunicipais da Zona da Mata, Agreste e Sertão.
Passageiros invadem cabine do METRÔ DO RECIFE
O ex-superintendente do Metrô do Recife, Carlos Fernando Ferreira da Silva Filho, que saiu neste sábado oficialmente do comando do sistema, vai assumir o Detran-PE.
Ligado a Anderson Ferreira, ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes e candidato derrotado ao governo de Pernambuco, foi indicado a um dos órgãos que mais arrecada para o Estado num acordo político com a governadora Raquel Lyra (PSB) que demonstra um aceno ao grupo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
No meio metroviário, Ferreira já vai tarde. Foi um gestor que pouco conhecia do Metrô do Recife e que não tinha força política para conseguir, ao menos, vencer seu desconhecimento do setor de transporte público. Também era avesso à imprensa.
O Metrô do Recife é, atualmente, um sistema abandonado, sem recursos sequer para garantir uma boa operação diária. Sem falar em investimentos, que inexistem há pelo menos cinco anos.
O déficit de custeio anual é de R$ 300 milhões.
E são muitas as consequências do abandono. Mas a principal delas é a quebra e a consequente paralisação do sistema, prejudicando os passageiros que dependem do serviço. Já foram 400 mil pessoas transportadas por dia, nas duas linhas principais do sistema: Linhas Centro e Sul. Agora, são menos de 200 mil passageiros diários (algo próximo a 160 mil).
A crise econômica aliada ao aumento de mais de 180% no valor da passagem - que subiu de R$ 1,60 para R$ 4,25 num período inferior a dois anos - e as quebras provocadas pelo sucateamento espantaram o usuário.
Também de acordo com os dados encaminhados pela CBTU, foram nove quebras somente entre janeiro e abril de 2022. Em 2021, outras 22 paralisações. Algumas superiores a 24 horas de interrupção do sistema, o que comprova o grau de desmonte do metrô. A maioria com mais de 10h.
Sem recursos para nada, o Metrô do Recife também segue sem perspectivas, o que é o mais angustiante. Não recebe recursos do governo federal, via Administração Central da CBTU e Ministério das Cidades (antigo do MDR), e ainda viu o estudo de uma possível estadualização e futura gestão privada ser engavetado pessoalmente pelo ex-governador de Pernambuco Paulo Câmara (PSB).
Em maio, o governador se comprometeu com os metroviários de que não iria avançar com o processo de estadualização e, posteriormente, concessão do Metrô do Recife à operação privada. A proposta previa
O processo de estadualização e concessão pública do Metrô do Recife seria iniciado ainda em maio de 2022. A modelagem e os valores foram apresentados ao Ministério da Economia no fim de 2021 e já tinham sido validados pela equipe técnica que está à frente dos estudos.
O governo de Pernambuco seria o gestor do futuro contrato de concessão pública do Metrô do Recife, um pacote que representaria o montante de R$ 8,4 bilhões em 30 anos. Desse total, R$ 3,8 bilhões seriam aportes públicos para reerguer o sistema e cobrir a diferença entre receita tarifária e despesa de operação.
Sendo, R$ 3,1 bilhões mobilizados pelo governo federal e R$ 700 milhões pelo governo de Pernambuco. E, dos R$ 3,1 bilhões bancados pela União (Ministério da Economia), R$ 1,4 bilhão seriam recursos que ficariam guardados para serem utilizados pelo Estado ao longo do contrato de concessão pública.
O R$ 1,4 bilhão seria a reserva para garantir o equilíbrio econômico financeiro do contrato, já que os estudos realizados em dois anos já apontaram que a receita gerada pela demanda de passageiros do Metrô do Recife não seria suficiente para cobrir o custo de operação.
O modelo a ser adotado pelo governo do Estado seria de concessão pública simples, sem contrapartida financeira ao longo do contrato.
PRIVATIZAÇÃO DO METRÔ FOI ENGAVETADA PELO PSB
COMO SERIA A CONCESSÃO PÚBLICA DO METRÔ DO RECIFE