O transporte público por ônibus segue sofrendo as mazelas provocadas pela pandemia de covid-19. Levantamento atualizado da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) aponta que o setor acumulou, nos últimos três anos, uma perda financeira na ordem de R$ 36 bilhões. O rombo seria referente ao período entre 2020 e 2023.
Os ônibus, assim como os sistemas sobre trilhos, amargaram uma perda de demanda de passageiros que chegou a 80% e, mesmo agora, três anos depois do início da crise sanitária, ainda não conseguiram recuperar o volume de antes da pandemia.
O levantamento da NTU aponta que a situação está menos ruim no pós-pandemia, mas que a recuperação foi apenas parcial. E que, diante da demora do retorno dos passageiros, a expectativa é de que eles tenham deixado o sistema de vez, cada um por uma razão. Entre elas, as principais são a crise econômica, os aplicativos de mobilidade urbana e o avanço do home office.
De acordo com os estudos realizados, a demanda atual atingiu 82,8% dos níveis verificados na pré-pandemia. “Mas perdemos, definitivamente, uma parcela de clientes para o e-commerce, o home-office, os aplicativos de mobilidade e para a carona solidária”, lamenta Francisco Christovam, presidente-executivo da NTU.
A perda de passageiros também provocou, segundo a NTU, redução de 90 mil empregos diretos no setor entre o início da pandemia e o início de janeiro de 2023. Outro impacto foi a interrupção da prestação de serviço por 55 operadoras/consórcios operacionais do País.
O relatório da NTU revelou, ainda, que a implementação da Tarifa Zero virou um fenômeno do pós-pandemia, especialmente nas cidades de pequeno porte, com população menor do que 50 mil habitantes.
Essas cidades, inclusive, representam 55% dos casos. Atualmente, no total, já são 74 cidades que adotaram a gratuidade total da passagem no País. Dessas, 67 municípios implementaram a Tarifa Zero em todo o sistema de transporte, durante todos os dias da semana.
PASSE LIVRE: Pernambuco poderá ter GRATUIDADE nos ÔNIBUS em datas específicas
Em três cidades, a passagem gratuita abrange todo o sistema apenas em dias específicos da semana. E, nas quatro cidades restantes, engloba parcialmente o sistema, durante todos os dias da semana.
Diante do cenário de perda praticamente definitiva de 17% da demanda de passageiros, a NTU avalia que existem três desafios a serem superados, a curto prazo, pelas empresas: tentar recuperar os passageiros que deixaram o ônibus e optaram por outros modos de deslocamento; não perder mais passageiros e atrair novos clientes.
“Estamos cientes de que esse desafio é muito maior agora, porque, depois da pandemia, alguns atributos da viagem sofreram mudanças significativas. Atualmente, os passageiros se tornaram mais exigentes e, para eles, não basta que o serviço tenha regularidade e confiabilidade. Hoje, eles querem também pontualidade, segurança, conforto, menos lotação e melhores condições de espera dos ônibus nas estações de embarque e desembarque”, avaliou o presidente.
Apesar do estrago promovido pela pandemia de covid-19, o mesmo estudo da NTU aponta que o olhar do País para o transporte público mudou um pouco. O poder público e a sociedade parecem estar mais atentos à importância social dos sistemas de ônibus, metrôs e trens.
O levantamento mostra que, antes da covid-19, apenas São Paulo e Brasília tinham subsídios expressivos em relação ao custo total de produção dos serviços. Agora, são 59 sistemas de transporte urbano, com subsídios permanentes, abrangendo 159 cidades.
O transporte da Região Metropolitana do Recife é um exemplo. Com a pandemia de covid-19, o governo de Pernambuco ampliou os subsídios públicos, que em 2022 chegaram a R$ 250 milhões. E a expectativa é de que, em 2023, chegue a R$ 400 milhões.
O estudo também revela que foram implementadas 153 iniciativas de concessão de subsídios pontuais, em 138 sistemas de transportes coletivos urbanos, para garantir a continuidade da oferta do transporte durante a crise sanitária.
“Até o momento, 38 sistemas já fazem a diferenciação da tarifa de remuneração, que cobre os custos da prestação do serviço, para a tarifa pública, que é o valor pago pelo passageiro, para realizar a sua viagem. Essa prática já abrange 12 capitais e regiões metropolitanas e outras 26 cidades”, explica Francisco Christovam.
A separação de tarifas, já prevista na Lei Federal Nº 12.587/2012, está inserida em duas
propostas de criação de um novo marco legal para o transporte público no Brasil. Uma delas tramita no Senado Federal: trata-se do Projeto de Lei nº 3278/2021, apresentado pelo então senador, Antonio Anastasia, que torna obrigatória a separação das tarifas.
A segunda proposta foi elaborada pela Secretaria Nacional de Mobilidade Urbana, órgão do antigo Ministério do Desenvolvimento Regional, atual Ministério das Cidades, e ainda não foi apresentada ao Congresso Nacional.