A Tragédia da Tamarineira - um dos crimes de trânsito que mais repercutiram em Pernambuco - virou peça principal de uma campanha educativa da Prefeitura do Recife. A imprudência ao volante, que provocou uma violenta colisão que matou três pessoas, deixou duas feridas, uma com lesões permanentes, e destruiu três famílias para sempre, é o mote da campanha “O que pode acontecer em menos de um segundo?” da Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU).
E quem estrela é o advogado Miguel Motta, que perdeu a esposa, o filho de 3 anos, a babá dos filhos, grávida, e por pouco, a filha, na época com 5 anos e até hoje lutando para retomar os movimentos. As peças lembram a história do sinistro de trânsito ocorrido no bairro da Tamarineira, Zona Norte, em 2017.
No vídeo, Miguel Motta chora, aparece várias vezes com a filha, Marcelinha, ao lado de quem trava uma luta pela recuperação, e alerta sobre a imprudência no trânsito. A campanha reproduz imagens de hospitais e médicos socorrendo as vítimas e provoca reflexão. Emociona. E, para quem conhece a história, não haveria um símbolo melhor para o alerta.
"É muito pesado viver assim. Você perder um filho e perder a esposa que você ama… E o pedido que eu faço pra cada um: ter consciência de que se você não respeitar as regras, você vai ocasionar acidentes*", conta Miguel.
Para quem não lembra, a Tragédia da Tamarineira foi provocado por um jovem - João Victor Ribeiro de Oliveira - embriagado e desenvolvendo uma velocidade tão alta - 108 km/h, mais que o dobro da regulamentada no local, que é de 50 km/h - que ele nem lembra de ter visto um semáforo diante dele.
Em março de 2022, após julgamento, o jovem foi condenado a 29 anos e quatro meses de prisão por três homicídios dolosos e duas tentativas de homicídio. O julgamento teve cenas fortíssimas e levantou muitas discussões na época sobre a responsabilidade na condução de veículos.
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A CTTU explica que o termo “acidente de trânsito” foi utilizado na campanha para deixar uma linguagem mais fácil para a população. Mas alerta que o termo correto atualmente é “sinistro de trânsito”, por compreender que essa seria uma ocorrência que poderia ter sido evitada caso as leis de trânsito fossem seguidas. A mudança na nomenclatura foi definida pela ABNT.
A campanha foi feita em parceria com o programa de segurança viária da Vital Strategies.
EXCESSO DE VELOCIDADE É COMUM ENTRE MOTORISTAS
A grande maioria dos condutores de veículos motorizados do Recife excede a velocidade limite das ruas e avenidas. O percentual, para ser preciso, é de 75% dos veículos que trafegam no Recife. Os dados são da própria CTTU, apontados no Primeiro Relatório Anual de Segurança Viária, um documento que reúne e analisa as estatísticas dos sinistros de trânsito do Recife no período de 2017 a 2020.
E quando o recorte é feito sobre os motociclistas - apesar da fragilidade que envolve a condução de motos -, o desrespeito é quase majoritário: 49% dos motociclistas trafegam acima da velocidade permitida nas ruas. O Recife tem hoje uma frota veicular de 718.308 veículos, dos quais, 166.468 são motos (23%), segundo dados de janeiro deste ano do Detran-PE. Mas, na prática, recebe a circulação diária de 1,2 milhão de veículos - quase a totalidade da frota registrada na Região Metropolitana.
A constatação impressionante de desrespeito, e que deveria, por si só, conscientizar os críticos da fiscalização eletrônica de trânsito, faz parte do Primeiro Relatório Anual de Segurança Viária, um documento que reúne e analisa as estatísticas dos sinistros de trânsito do Recife no período de 2017 a 2020. O levantamento foi elaborado pela Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) em parceria com a Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global (BIRGS), que há dois anos vem prestando consultoria à gestão do trânsito da capital e obtendo bons resultados na cidade.
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