Lições do julgamento da "Tragédia da Tamarineira", colisão provocada por um motorista bêbado que deixou três mortos no Recife
No trânsito, não há segunda chance. Nunca haverá. Nem para as vítimas diretas do sinistro de trânsito - mortos, mutilados e feridos -, nem para aqueles que o provocaram
Toda pessoa, jovem ou adulta, que conduz um veículo motorizado deveria assistir ao julgamento da chamada “Tragédia da Tamarineira”, que está sendo transmitido remotamente pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE). Todos. Quem não viu, deveria ver. São muitas as lições a serem tiradas deste julgamento.
Muitas e angustiantes lições, mesmo antes da condenação do réu, o jovem João Victor Ribeiro de Oliveira, - que é certa e será pesada. A maior de todas é: entender que um veículo motorizado é uma arma poderosa que, usada da forma e nas condições erradas, mata, mutila e destrói tudo ao redor.
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Completamente tudo. Não só para as vítimas, mas também para quem provoca o sinistro de trânsito (não é mais acidente de trânsito que se define. Entenda a razão). E todos que o cercam.
E não há uma segunda chance. Nunca haverá. Nem para as vítimas diretas do sinistro de trânsito - mortos, mutilados e feridos -, nem para aqueles que o provocaram. O julgamento de João Victor comprovou essa constatação.
O desespero do jovem ao ouvir o depoimento comovente do advogado Miguel da Motta Silveira Filho, que perdeu a esposa, o filho de 3 anos, a babá grávida, e que luta para curar a filha de 5 anos das graves sequelas deixadas, confirma toda essa análise.
"Eu não queria fazer isso, me perdoe, me mate, me mate, eu não queria machucar a sua família, me perdoe por favor", gritou João Victor, aos prantos, num desespero que forçou a interrupção da sessão, já suspensa temporariamente momentos antes do emocionado depoimento de Miguel da Motta.
Veja o momento:
Há quem diga que foi encenação por parte do réu, numa tentativa de comover o corpo de jurados - que, assim como a sociedade brasileira em geral, ainda tem muita complacência com os crimes de trânsito. Está deixando de o ser, mas ainda há um longo caminho nessa evolução. Mas os gritos do réu não pareceram encenação. De verdade. A impressão foi de um arrependimento desesperador e angustiante. Um arrependimento dilacerante. De um ato que não tem volta. Muito menos suas consequências. Todas elas.
João Victor, pelas informações já divulgadas ainda na época do sinistro, em 2017, e agora confirmadas durante o depoimento, era um motorista infrator contumaz, totalmente irresponsável ao volante e habituado a beber muito e a conduzir veículos em alta velocidade.
Vítimas:
Não é à toa que avançou o semáforo 22 segundos depois de ele estar fechado para a via em que trafegava, e ainda desenvolvia 108 km/h quando destruiu o veículo em que estavam as vítimas, circulando a 30 km/h.
Tinha, inclusive, problemas de saúde com a dependência de drogas lícitas e ilícitas, chegando a ser internado por duas vezes. E passando por várias situações relacionadas ao abuso de álcool, cocaína e maconha.
Acompanhe o julgamento:
A maioria dos motoristas brasileiros não é assim - graças a Deus. Estima-se que menos de 5% dos condutores cometem ao menos duas infrações de trânsito no ano.
Mas a prudência ao volante, o respeito à velocidade limite das vias, o não consumo de álcool antes de dirigir e, tão importante quanto, o não uso do celular estando na direção de um veículo, ainda são desafios urgentes e permanentes para a segurança viária.
Você, caro leitor e condutor de veículos, pode estar pensando: “Mas eu, mesmo quando bebo, não dirijo nessa velocidade, não faria jamais o que esse jovem fez. E, ao volante, só uso o meu smartphone com cuidado, apenas quando o veículo está parado”.
Esqueça. No trânsito, tudo é muito rápido e perigoso. É preciso estar atento o tempo todo, porque os eventos acontecem em segundos. É bem como os motoristas flagrados pela fiscalização estacionados em locais proibidos costumam dizer: “Foi só um minutinho”.
É claro que estamos falando de um episódio que chocou a todos pela violência da colisão e imprudência extrema do motorista. E também de vítimas cercadas por instrução, educação e condições financeiras para fazer o caminho certo na busca pela punição dos culpados. Não há como negar.
O Brasil, e Pernambuco não é diferente, coleciona casos de impunidade nos crimes de trânsito - tanto no âmbito da investigação policial, como no andamento do caso quando se transforma em processo judicial. Mas existem exceções e elas têm sido mais frequentes ano a ano. A criação da Lei Seca e algumas alterações no Código de Trânsito Brasileiro (CTB) são a prova real desse processo. Mesmo lento, ele está acontecendo.
Por tudo isso, por toda a tristeza e angústia que dominaram o julgamento da “Tragédia da Tamarineira” até agora, pelo sofrimento quase palpável nas declarações do advogado Miguel da Motta e pelos gritos de arrependimento do réu, João Victor, fica aqui o apelo: NÃO BEBAM E DIRIJAM, NÃO EXCEDAM A VELOCIDADE DAS VIAS E NÃO DIRIJAM USANDO O CELULAR - hábito que, de tão perigoso, já está sendo comparado aos motoristas bêbados.