TRÂNSITO

VELOCIDADE: motoqueiros são os que mais excedem a VELOCIDADE nas ruas

Dados acendem mais um alerta em tempos de explosão do serviço de transporte de passageiros por motos, como o Uber, 99 e inDrive Moto nas cidades do Norte e Nordeste do Brasil

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Roberta Soares

Publicado em 21/09/2023 às 15:10 | Atualizado em 22/09/2023 às 11:02
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Mais uma estatística recente evidencia o perigo da condução imprudente das motocicletas e o impacto que elas podem causar à saúde pública e à mobilidade urbana. Principalmente em tempos de explosão do serviço de transporte de passageiros por motos, como o Uber, 99 e inDrive Moto nas cidades do Norte e Nordeste do Brasil.

Os condutores de motocicletas são os que mais excedem a velocidade nas ruas em comparação com os outros tipos de veículos. Os motoqueiros responderam por 35% do desrespeito aos limites de velocidade no Recife em 2023, enquanto os veículos leves representaram 21% e os veículos pesados 14%.

Os dados fazem parte do Relatório de Velocidade no Recife, fruto de mais uma pesquisa observacional realizada na capital pela Johns Hopkins University, dos Estados Unidos. E foi apresentado durante o Fórum Internacional de Fiscalização e Segurança Viária, evento realizado pela segunda vez na capital pernambucana em parceria com a Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU).

O fórum, inclusive, reuniu instituições de referência nas áreas de fiscalização, desenho urbano e gestão de dados de sinistros de trânsito (não é mais acidente de trânsito que se define. Entenda).

MOTOQUEIROS SÃO OS MAIS VULNERÁVEIS E OS QUE MAIS DESRESPEITAM AS REGRAS DE TRÂNSITO

“A nova pesquisa aponta que houve uma redução ao desrespeito em relação a 2020, por exemplo, mas os índices ainda são muito altos e parecem ter estabilizado, o que também é muito preocupante. Em 2020, 49% dos motoqueiros desrespeitaram o limite de velocidade e agora são 35%”, explica o coordenador executivo da Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária, Dante Rosado.

“Esses 35% são um percentual altíssimo. Significa dizer que um em cada três motociclista desrespeita os limites de velocidade. E se torna ainda mais preocupante porque os motoqueiros são extremamente vulneráveis, já que só têm o capacete como proteção”, segue alertando Dante Rosado.  Considerando todos os condutores, o desrespeito à velocidade caiu de 37% em 2020 para 24% em 2023.

 

DIVULGAÇÃO/Iniciativa Bloomberg
Relatório de Velocidade no Recife é fruto de mais uma pesquisa observacional realizada na capital pela Johns Hopkins University, dos Estados Unidos. E foi apresentado durante o Fórum Internacional de Fiscalização e Segurança Viária, evento realizado pela segunda vez na capital pernambucana em parceria com a Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) - DIVULGAÇÃO/Iniciativa Bloomberg

O desrespeito às regras de trânsito entre os motoqueiros não para por aí, apesar da vulnerabilidade de quem conduz ou é passageiro das motocicletas, como já destacou Dante Rosa. O relatório aponta, ainda, que 10% dos motoqueiros ainda não usam o capacete corretamente, apesar de ele ser o único equipamento que o protege.

E quando o recorte é sobre as vias locais do Recife, esse percentual sobre para 20%. “Muita gente vai analisar: há, mais 90% usam da forma correta. Só que é preciso considerar que o capacete é o único equipamento que ainda protege os ocupantes de motos”, alerta o coordenador da Iniciativa Bloomberg.

APESAR DOS DADOS, RECIFE SEGUE DESLIGANDO A FISCALIZAÇÃO DE VELOCIDADE À NOITE

Vale destacar que, apesar dos dados assustadores constatados no Relatório de Velocidade a partir da fiscalização e operação da própria CTTU, o Recife segue “desligando’ toda fiscalização à noite, inclusive e principalmente a de velocidade.

BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
Constatação faz parte do Relatório de Velocidade no Recife e acende mais um alerta preocupante em relação às motos - BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM

São quase 17 anos assim, depois que a Justiça de Pernambuco determinou que nenhum condutor fosse multado entre às 22h e às 5h na capital.

“É uma situação bem difícil, reconheço. Mas, enquanto a sociedade não entender que a velocidade é o grande vilão do trânsito, não vamos conseguir mudar esse cenário, inclusive reverter decisões judiciais como a que vigora no Recife, por exemplo. As pessoas precisam entender que a fiscalização precisa ser permanente”, destaca Dante Rosado.

O coordenador lembra que a velocidade faz toda a diferença nos sinistros de trânsito. “A OMS (Organização Mundial da Saúde) reconhece a velocidade como a causa e a gravidade dos sinistros no trânsito. É ela que faz toda a diferença. É ela que define a gravidade da lesão. O condutor pode estar alcoolizado ou manuseando o celular ao volante, mas será a velocidade desenvolvida que fará a diferença”, ensina.

CONFIRA o Relatório de Velocidade no Recife na íntegra:

RELATO?RIO Velocidade Recife 2023 by Roberta Soares on Scribd

CINTO DE SEGURANÇA NO BANCO DE TRÁS AINDA É IGNORADO

Outro dado curioso do Relatório de Velocidade no Recife é que a sociedade ainda ignora a importância do uso do cinto de segurança no banco de trás dos veículos, o que é determinado pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB).

O uso do cinto de segurança entre passageiros adultos no banco traseiro foi de apenas 53% . “É um cenário nacional, infelizmente. As pessoas ainda acham que é importante e obrigatório usar apenas quando estão no banco da frente. Que no banco de trás estão mais protegidos, o que não é verdade. O passageiro pode ser lançado para frente e fora do veículo numa colisão e ainda provocar ferimentos sérios nos ocupantes do banco da frente, por exemplo”, alerta Dante Rosado.

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Relatório de Velocidade no Recife é fruto de mais uma pesquisa observacional realizada na capital pela Johns Hopkins University, dos Estados Unidos. E foi apresentado durante o Fórum Internacional de Fiscalização e Segurança Viária, evento realizado pela segunda vez na capital pernambucana em parceria com a Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) - DIVULGAÇÃO/Iniciativa Bloomberg
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Relatório de Velocidade no Recife é fruto de mais uma pesquisa observacional realizada na capital pela Johns Hopkins University, dos Estados Unidos. E foi apresentado durante o Fórum Internacional de Fiscalização e Segurança Viária, evento realizado pela segunda vez na capital pernambucana em parceria com a Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) - DIVULGAÇÃO/Iniciativa Bloomberg

Mas a visão do especialista é, mais uma vez, de que com educação é possível mudar o entendimento da sociedade. Afinal, não conseguimos alcançar essa mudança com o cinto de segurança no banco dianteiro?

RESULTADOS POSITIVOS

Mas nem tudo são notícias ruins no Relatório de Velocidade no Recife. Também foi identificada uma mudança de comportamento dos condutores. Apontou que, no Recife, 98% dos condutores respeitam o limite de velocidade onde há fiscalização eletrônica - com medo das multas, é fato.

Os dados também revelam que as ações de prevenção aos sinistros têm surtido o efeito positivo no que diz respeito à adequação dos condutores às leis de trânsito. Entre novembro de 2020 e abril de 2023 o comportamento inseguro diminuiu de 37% para 24% em toda a cidade.

ENTENDA A METODOLOGIA DA PESQUISA

A pesquisa é observacional, ou seja, realizada a partir da observação dos pesquisadores, sem notificação das infrações. Desde 2020, a Johns Hopkins International Injury Research Unit tem parceria com a Universidade Federal do Ceará para realizar observações nas vias.

Os métodos de coleta de dados foram desenvolvidos pela Johns Hopkins International Injury Research Unit e implementados em colaboração com a Universidade Federal do Ceará. A seleção dos locais de observação foi feita proporcionalmente ao volume de tráfego e as observações foram realizadas entre 7h e 19h.

Na última rodada de observações, para velocidade, foram 47.436 observações (abril de 2023); para uso de capacete, foram 45.295 observações (dezembro de 2020); e para uso de cinto de segurança e retenção infantil, foram 46.901 observações (dezembro de 2020).
Dezesseis locais de observação foram selecionados aleatoriamente.

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