PESQUISA CNT RODOVIAS: estradas brasileiras seguem péssimas, apesar de a economia do Brasil ser rodoviária
País segue com quase 70% da malha rodoviária avaliada considerada regular, ruim ou péssima
Por mais um ano, a Pesquisa CNT Rodovias constata que a malha rodoviária do Brasil segue ruim e perigosa, mesmo com a economia brasileira tendo predominância no transporte rodoviário. E, o que é pior: as estradas do País estão ainda um pouco piores em 2023 do que estavam em 2022, embora o crescimento seja pequeno.
Quase 70% (67,5%) da malha rodoviária avaliada foi considerada regular, ruim ou péssima, enquanto apenas 32,5% receberam avaliação de ótima ou boa. Na comparação entre os percentuais dos últimos dois anos, fica claro uma relativa estabilidade do quadro ruim de conservação.
Em 2022, o Brasil teve 66% da malha considerada ruim e 34% avaliada como boa - o que revela uma piora da avaliação favorável. Ou seja, não avançamos em quase nada de um ano para o outro.
A constatação faz parte dos resultados da 26ª edição da Pesquisa CNT de Rodovias, divulgada pela CNT e pelo SEST SENAT nesta quarta-feira (29/11). A pesquisa ainda é o maior estudo sobre infraestrutura rodoviária no Brasil. O levantamento 2023 avaliou 111.502 quilômetros de rodovias pavimentadas, o que corresponde a 67.659 quilômetros da malha federal (BRs) e a 43.843 quilômetros dos principais trechos estaduais.
MODELO DO NOVO PAC É LUZ NO FIM DO TÚNEL
Apesar de o cenário seguir ruim nacionalmente, a CNT destaca o otimismo com a previsão de investimentos do Novo PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) do governo federal. O Novo PAC prevê R$ 185 bilhões em investimentos para as rodovias e o transporte rodoviário, dos quais R$ 112,8 bilhões são da iniciativa privada (60,7%) e R$ 73,0 bilhões
do governo federal (39,3%).
A CNT destaca, inclusive, o perfil de estimular a parceria com a iniciativa privada do Novo PAC. “Essa realidade demonstra uma recuperação da capacidade de investir com duas frentes, via Estado e/ou por meio de relações de colaboração com a iniciativa privada, contemplando concessões e parcerias”, diz.
INVESTIMENTOS PRECISAM SER PERMANENTES
A confederação, entretanto, reafirma o que vem defendendo há anos: a necessidade de os investimentos terem continuidade para viabilizar a reconstrução, restauração e manutenção das rodovias. E avalia que os esforços da entidade parecem começar a ter resultados porque, em 2023, o custo operacional do transporte rodoviário de cargas teve uma leve redução: passou de 33,1% em 2022 para 32,7% este ano.
- DIA MUNDIAL DAS VÍTIMAS DO TRÂNSITO: Brasil mata mais de 33 mil pessoas por ano no trânsito. Onze morrem por dia nas rodovias federais
- RODOVIAS: colisões no TRÂNSITO matam 56 pessoas nas estradas federais durante o feriadão de FINADOS
- RODOVIAS: Ministério dos Transportes institui, em portaria, Política de Outorgas Rodoviárias
- RODOVIAS: quase mil colisões e mais de mil pessoas feridas no trânsito durante o feriadão de Nossa Senhora Aparecida
O custo operacional é calculado em decorrência da má conservação do pavimento das rodovias no Brasil.
“Rodovias de qualidade fazem com que ônibus e caminhões consumam menos combustível e, assim, poluam menos. Também reduzem os sinistros de trânsito (não é mais acidente de trânsito que se define. Entenda) e, consequentemente, provocam menos mortes e mutilações”, alertou o presidente da CNT, Vander Costa, durante a apresentação dos dados.
Por outro lado, a mesma CNT destaca que o cenário futuro pode ser pior, já que a PLOA 2024 (Projeto de Lei Orçamentária Anual de 2024) sofreu uma redução de 4,5% no volume de recursos para o setor em relação ao autorizado no orçamento para infraestrutura de transporte em 2023. E que, por isso, a confederação, trabalha para viabilizar um aumento na dotação de recursos para o transporte e a logística do País por meio de emendas para intervenções prioritárias em 2024.
Pesquisa CNT de Rodovias 2023 by Roberta Soares on Scribd
GASTO DESNECESSÁRIO DE COMBUSTÍVEL DEVIDO À MALHA RODOVIÁRIA RUIM
Além da insegurança viária e do custo operacional, a má conservação das estradas provoca um consumo burro e desnecessário de combustível, recorte que também é feito na pesquisa CNT Rodovias.
De acordo com os resultados relacionados à avaliação da qualidade do pavimento (56,8% regular, ruim e péssimo; e 43,2% ótimo ou bom), a CNT estima que, em 2023, 1,139 bilhão de litros de diesel serão consumidos desnecessariamente pela modalidade rodoviária do transporte nacional. A queima dessa quantidade de combustível fóssil resultará na emissão de 3,01 milhões de toneladas de gases poluentes na atmosfera (MtCO2e).
- NOVO PAC: R$ 92 bilhões em projetos e estudos para PERNAMBUCO serão detalhados nesta segunda, no Recife
- NOVO PAC: projetos de infraestrutura do NOVO PAC para PERNAMBUCO serão lançados no Recife
- NOVO PAC: rodovias ficarão com a maior parte dos recursos destinados aos transportes no Brasil
- NOVO PAC: rodovias e ferrovias terão mais de 300 obras, promete governo federal
A pesquisa mostra que a falta de qualidade da pavimentação das rodovias impacta no preço do frete e, consequentemente, dos produtos para o consumidor final. Sem rodovias de qualidade, o consumo de combustível fóssil e a emissão de gases também aumentam.
ENTENDA A PESQUISA CNT
A classificação do estado geral compreende três principais características da malha rodoviária: o pavimento, a sinalização e a geometria da rodovia. Levam-se em conta variáveis como condições do pavimento, das placas, do acostamento, de curvas e de pontes.
Em 2023, a avaliação regular, ruim e péssimo dessas características foi: 56,8% (pavimento), 63,4% (sinalização) e 66,0% (geometria da via), percentuais que também ficaram próximos aos dos registrados no ano passado: 55,5%, 60,7%, 63,9%, respectivamente.
CONFIRA OS PRINCIPAIS RESULTADOS DA PESQUISA CNT RODOVIAS
Em 2023, foram analisados 111.502 km de rodovias no Brasil, que representam 100,0% da malha pavimentada das rodovias federais
Estado Geral: 67,5% da malha rodoviária pavimentada avaliada do País apresenta algum tipo de problema, sendo considerada regular, ruim ou péssima; 32,5% da malha é considerada ótima ou boa
Pavimento: 56,8% da extensão da malha rodoviária do País avaliada apresenta problemas; 43,2% está em condição satisfatória e 0,6% está com o pavimento totalmente destruído
Sinalização: 63,4% da extensão da malha rodoviária é considerada regular, ruim ou péssima; 36,6%, ótima ou boa; 8,4% está sem faixa central; e 14,1% não tem faixas laterais
Geometria da via (traçado): 66,0% da extensão da malha rodoviária do País apresenta algum tipo de problema; 34,0% está ótima ou boa; as pistas simples predominam em 85,5%; falta acostamento em 46,9% dos trechos avaliados; e 27,1% dos trechos com curvas perigosas não têm sinalização
Pontos críticos: a pesquisa identificou 2.648 no País
Custo operacional: as condições do pavimento no País geram um aumento de custo operacional do transporte de 32,7%
Investimentos necessários: são necessários R$ 94,12 bilhões para recuperar as rodovias no Brasil, com ações emergenciais (reconstrução e restauração) e de manutenção
.
Custo dos sinistros de trânsito: o prejuízo de R$ 13,40 bilhões em 2022. No mesmo ano, o governo gastou R$ 6,70 bilhões com obras de infraestrutura rodoviária de transporte
Meio ambiente: em 2023, estima-se que haverá um consumo desnecessário de R$ 1,1 bilhão de litros de diesel devido à má qualidade do pavimento da malha rodoviária no País. Esse desperdício custará R$ 7,49 bilhões aos transportadores
Investimentos: do total de recursos autorizados pelo governo federal para a infraestrutura rodoviária, especificamente no Brasil, em 2023 (R$ 15,01 bilhões), foram investidos R$ 9,05 bilhões até setembro (60,3%)