TRÂNSITO mata 2 pessoas por minuto e 3.200 por dia no mundo, diz OMS
Apesar de progressos, a segurança no trânsito segue sendo uma questão global urgente, principalmente porque, diferentemente das doenças, as colisões e atropelamentos provocam mortes evitáveis
A situação da letalidade do trânsito mundial já foi pior, é fato, mas ainda segue ruim. Pelo menos é o que aponta o Relatório Global de Status 2023 da Organização Mundial de Saúde (OMS), divulgado em Genebra, na Suíça, na semana passada.
O número de mortes no trânsito diminuiu ligeiramente para 1,19 milhão por ano, mas os sinistros de trânsito (não é mais acidente de trânsito que se define. Entenda) seguem provocando duas mortes por minuto e mais de 3.200 por dia.
O trânsito, inclusive, segue sendo a principal causa de morte de crianças e jovens de 5 a 29 anos. “O trágico número de mortes em sinistros de trânsito está indo na direção certa, para baixo, mas está longe de ser rápido o suficiente. Continua sendo uma crise persistente de saúde global, com pedestres, ciclistas e outros usuários vulneráveis enfrentando um risco agudo e crescente de morte", alertou o diretor-geral da OMS, o médico Tedros Adhanom Ghebreyesus.
E seguiu alertando sobre o absurdo que são as mortes no trânsito por serem evitáveis. "A carnificina em nossas estradas é evitável. Pedimos a todos os países que coloquem as pessoas, e não os carros, no centro de seus sistemas de transporte, garantindo a segurança de pedestres, ciclistas e outros usuários vulneráveis das estradas", pediu.
APENAS DEZ PAÍSES CONSEGUIRAM REDUZIR AS MORTES NO TRÂNSITO EM MAIS DE 50%
Entre os Estados Membros da ONU, 108 países relataram uma redução nas mortes relacionadas ao trânsito entre 2010 e 2021. Mas apenas dez países conseguiram uma redução superior a 50%: Bielorrússia, Brunei, Dinamarca, Japão, Lituânia, Noruega, Federação Russa, Trinidad e Tobago, Emirados Árabes Unidos e Venezuela.
E outros 35 países obtiveram progresso considerado significativo, entre 30% e 50%.
AS VÍTIMAS SEGUEM SENDO OS MAIS POBRES E VULNERÁVEIS
O relatório da OMS mostrou, ainda, que o fardo das mortes evitáveis no trânsito é global e que as maiores vítimas são os mais vulneráveis. 28% das mortes globais no trânsito ocorreram na Sudeste Asiático da OMS, 25% no Pacífico Ocidental, 19% na região Africana, 12% nas Américas, 11% no Mediterrâneo Oriental e 5% na região Europeia.
Nove em cada 10 mortes ocorrem em países de baixa e média renda, e as fatalidades
nesses países são desproporcionalmente mais altas em comparação com o número de veículos e estradas que possuem. O risco de morte, inclusive, é 3 vezes maior em países de baixa renda do que em países de alta renda, embora os países de baixa renda tenham apenas 1% dos veículos motorizados do mundo.
52% de todas as fatalidades no trânsito são dos chamados usuários vulneráveis das estradas: pedestres (23%); condutores de veículos de duas e três rodas, como motocicletas (21%); ciclistas (6%); e usuários de dispositivos de micro-mobilidade, como e-scooters (3%).
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As mortes entre ocupantes de carros e outros veículos leves de quatro rodas diminuíram ligeiramente para 30% das fatalidades globais.
MORTES DE PEDESTRES AUMENTARAM NA ÚLTIMA DÉCADA E REPRESENTAM 23% DOS ÓBITOS MUNDIAIS
As mortes de pedestres aumentaram 3% para 274 mil entre 2010 e 2021, representando 23% das fatalidades globais. As mortes entre ciclistas aumentaram quase 20% para 71.000, representando 6% das mortes globais. Enquanto isso, a pesquisa indica que 80% das estradas do mundo não atendem aos padrões de segurança para pedestres e apenas 0,2% têm faixas para ciclistas, deixando esses usuários vulneráveis de forma perigosa.
E, embora 9 em cada 10 pessoas pesquisadas se identifiquem como pedestres, apenas um quarto dos países têm políticas para promover caminhadas, ciclismo e transporte público.
PAÍSES IGNORAM PADRÕES DE SEGURANÇA NO TRÂNSITO
O relatório da OMS revela, ainda, que o mundo - inclusive os países ricos - segue ignorando a promoção de leis e padrões de segurança. Apenas seis países têm leis que atendem às melhores práticas sugeridas pela OMS para todos os fatores de risco. São eles: velocidade, dirigir sob influência de álcool e uso de capacetes para motociclistas, cintos de segurança e dispositivos de retenção infantil).
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Enquanto 140 países (dois terços dos Estados Membros da ONU) têm tais leis para pelo menos um desses fatores de risco. Vale destacar que 23 desses países modificaram suas leis para atender às melhores práticas da OMS desde o Relatório Global de Status sobre Segurança no Trânsito de 2018.
FROTA VEICULAR MUNDIAL VAI DOBRAR ATÉ 2030 E FALTA DE CONTROLE SOBRE SEGURANÇA DE VEÍCULOS SEGUE
O relatório da OMS aponta que a frota global de veículos está prevista para dobrar até 2030. E, apesar dessa previsão assustadora, apenas 35 países - menos de um quinto dos Estados Membros da ONU - legislam sobre todos os recursos-chave de segurança de veículos, como sistemas de frenagem avançados, proteção de impacto frontal e lateral, entre outros.
O relatório também revela lacunas significativas na garantia de infraestrutura rodoviária segura, com apenas 51 países - um quarto dos Estados Membros da ONU - possuindo leis que exigem inspeções de segurança que cubram todos os usuários das estradas.
ENTENDA A IMPORTÂNCIA DOS RELATÓRIOS DA OMS
O Relatório Global de Status da OMS sobre Segurança no Trânsito de 2023 é o quinto de uma série que mede o progresso na redução das mortes no trânsito. O mais recente abrange o período de 2010 a 2021 e estabelece uma base para os esforços de atendimento à meta da Década de Ação das Nações Unidas 2021–2030 de reduzir pela metade as mortes no trânsito até 2030.
O relatório foi produzido com o apoio da Bloomberg Philanthropies. Desde 2007, a Bloomberg Philanthropies comprometeu US$ 500 milhões para apoiar intervenções de segurança no trânsito em países de baixa e média renda e cidades em todo o mundo.
"Nossa missão na Bloomberg Philanthropies é salvar o maior número possível de vidas, e uma das melhores maneiras de fazer isso é tornar as estradas mais seguras para todos e em todo o mundo", disse Michael R. Bloomberg, fundador da Bloomberg LP e Bloomberg Philanthropies, e Embaixador Global da OMS para Doenças Não Transmissíveis e Lesões.