Greve de ônibus: greve dos motoristas de ônibus passa, mas problemas continuam no transporte público do Grande Recife

Transporte sofre com frota velha, lotação nos horários de pico, ausência de corredores exclusivos e perda de R$ 20 milhões/mês com invasões

Publicado em 14/08/2024 às 12:17 | Atualizado em 14/08/2024 às 12:41

Os ônibus que rodam na Região Metropolitana do Recife voltaram a circular normalmente nesta quarta-feira (14/8), como previsto, após motoristas e empresários fecharem um acordo trabalhista mediado pela Justiça do Trabalho. Mas, para os passageiros e também os motoristas, a greve passou, mas os problemas do transporte público coletivo do Grande Recife continuam.

E eles são muitos, inúmeros. E podem ser percebidos facilmente nas ruas. Inclusive por quem não é cliente do sistema de transporte coletivo. “Comemoro o fim da greve dos motoristas, sem dúvida, porque ficamos sem transporte. Mas a situação segue muito ruim. Ônibus lotados nos horários que mais precisamos e muito trânsito, o que piora a situação. Além disso, ainda temos receio de que venha um novo reajuste da passagem”, resume o universitário Paulo José Silva, que retomou as aulas na universidade após o fim do movimento.

ALTA EVASÃO, FROTA DE ÔNIBUS VELHA E AUSÊNCIA DE PRIORIDADE VIÁRIA SÃO OS PRINCIPAIS PROBLEMAS

GUGA MATOS/JC IMAGEM
Com uma frota que nunca foi tão velha, o sistema de ônibus do Grande Recife sofre - GUGA MATOS/JC IMAGEM

Com uma frota que nunca foi tão velha, o sistema de ônibus do Grande Recife sofre. A idade média dos coletivos está em 6 anos, o que nunca foi imaginável no sistema. Em algumas das 10 operadoras (oito permissionárias e dois consórcios), o cenário é pior do que em outras, é fato e precisa ser destacado.

O ar-condicionado nos coletivos é quase uma lenda urbana. Está presente em apenas 15% da frota de 2.600 ônibus. Os ônibus também não têm muita prioridade viária nas ruas. Os corredores centrais e as faixas exclusivas estão em menos de 10% dos trajetos dos coletivos no Grande Recife, segundo dados do setor.

O Sistema BRT (Bus Rapid Transit) é outro exemplo dos problemas que se acumulam no transporte público do Grande Recife. Sonhado para ser o chamado “metrô sobre rodas”, fracassou e chega aos dez anos de operação desacreditado pelos passageiros, sucateado e sendo um das portas para a evasão que domina o sistema na Região Metropolitana do Recife.

EVASÃO CHEGA A 20% EM ALGUMAS LINHAS DE ÔNIBUS

Guga Matos/JC Imagem
Quando não deixa o transporte público para usar os apps de moto, como Uber e 99 Moto, o passageiro invade o sistema. No Recife, flagrante são diários. É a desmoralização do setor - Guga Matos/JC Imagem
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Quando não deixa o transporte público para usar os apps de moto, como Uber e 99 Moto, o passageiro invade o sistema - Guga Matos/JC Imagem
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.No Recife, flagrante são diários. É a desmoralização do setor - Guga Matos/JC Imagem

Na RMR, infelizmente, está pagando passagem quem quer. A quantidade de pessoas entrando pela porta traseira dos ônibus, invadindo as estações de BRT pela área de desembarque dos veículos e até mesmo pulando catracas diante de passageiros e motoristas que já estão se acostumando à prática, impressiona.

Em algumas empresas, essa evasão está chegando aos 20%. Há muito tempo era de 10% a 11%, o que já era considerado alto. O prejuízo com as invasões nos ônibus e estações de BRT já foi estimado pelo próprio governo do Estado em R$ 20 milhões por mês.

Nem os operadores conseguem evitar, nem o governo de Pernambuco - gestor do sistema de ônibus no Grande Recife - consegue usar a força policial para minimizar as invasões. A prática do ‘surf nos ônibus’ também tem crescido assustadoramente, com cenas de adolescentes e até crianças em corredores de transporte importantes do Recife. Sem o medo da punição, os ‘surfistas’ saíram dos subúrbios.

MODERNIZAÇÃO DO SISTEMA SEM PREVISÃO, AUSÊNCIA DO ESTADO E CRISE COM FECHAMENTO DA VERA CRUZ

CIRIO GOMES/ JC IMAGEM
Ônibus foram depredados durante a greve de motoristas no Grande Recife - CIRIO GOMES/ JC IMAGEM

O transporte público do Grande Recife também sofre com a ausência de perspectivas. Esse, talvez, seja o mais angustiante dos problemas. Enquanto o mundo pratica a descarbonização do transporte público coletivo urbano e o Brasil discute (com exceção de São Paulo, que têm, de fato, uma frota de aproximadamente 500 ônibus elétricos em operação), o sistema metropolitano do Recife só tem feito ensaios. No passado, o Sistema de Transporte Público de Passageiros da RMR (STPP/RMR) testou o elétrico, que não deu certo, e agora testa o ônibus a gás.

Confira o desempenho das empresas permissionárias do STPP/RMR:

Avaliacao de Desempenho Das... by Roberta Soares

Fechando o pacote de problemas, a dificuldade de finalizar a licitação das linhas de ônibus na Região Metropolitana do Recife que, após 11 anos de iniciada, tem previsão de virar realidade apenas entre o fim de 2025 e o início de 2026. Sem segurança jurídica, as oito operadoras que ainda não têm contrato de concessão pública (apenas o Conorte e a MobiBrasil têm) reduzem os investimentos na compra de veículos novos, comprometendo a qualidade do serviço para os passageiros.

Reflexo dessa crise foi a recente saída do sistema de transporte da RMR da empresa Vera Cruz, que entregou as linhas que operava ao governo do Estado. 

Confira o desempenho das concessionárias do STPP/RMR:

RAQD-1-Semestre-de-2023 by Roberta Soares


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