Confira o artigo assinado por Jurandir Fernandes, vice-presidente honorário da UITP (Associação Internacional de Transportes Públicos), sobre a oportunidade única que o Brasil tem de avançar, pelo transporte público, na descarbonização do transporte.
Por Jurandir Fernandes
A transição dos veículos a combustão para os elétricos representa uma oportunidade sem precedentes para o Brasil, especialmente ao setor de transporte coletivo e à indústria nacional de ônibus elétricos. Esta mudança não é apenas uma substituição tecnológica, mas uma chance de reimaginar nossas cidades e de fortalecer nossa liderança no mercado latino-americano de ônibus.
O Brasil está excepcionalmente posicionado para liderar esta revolução na mobilidade urbana. Nossa matriz elétrica, composta por cerca de 90% de fontes renováveis, nos coloca em vantagem competitiva global. Além disso, o País está pronto para enfrentar este desafio através de grandes indústrias multinacionais aqui instaladas com destaque para algumas genuinamente nacionais a exemplo da:
•WEG: Uma das maiores e melhores produtoras de motores elétricos do mundo, a WEG está na vanguarda da tecnologia de propulsão elétrica.
•Marcopolo: Reconhecida internacionalmente pela qualidade de suas carrocerias, a Marcopolo já está produzindo ônibus elétricos.
•Eletra: Pioneira na eletrificação de ônibus no Brasil, a Eletra tem expertise única em conversão e produção de ônibus elétricos.
•Caio: Outra grande encarroçadora brasileira, a Caio está desenvolvendo modelos elétricos em parceria com fabricantes de chassis.
Complementando a capacidade do País de enfrentar a transição para os veículos elétricos, temos um setor de autopeças robusto com uma rede de distribuição cobrindo todo o território nacional.
O Brasil se destaca também como liderança em biocombustíveis, a exemplo do etanol, oferecendo desde já a possibilidade de uma rota de transição suave através dos veículos híbridos e mantém aberta a oportunidade de se utilizar o H2 a ser produzido a partir da reforma deste mesmo etanol. Além de ser o segundo maior produtor mundial, o País possui uma rede de distribuição nacional de etanol junto aos postos de combustíveis.
Estas empresas não só estão preparadas para atender o mercado brasileiro, mas têm potencial para reconquistar o mercado de ônibus da América Latina, exportando tecnologia de ponta e sustentável.
RESISTÊNCIA DA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO E AUTOMOTIVA TRADICIONAL
No entanto, esta transição continuará enfrentando resistências significativas, principalmente das indústrias do petróleo e automotiva tradicional. As ações empregadas são clássicas. De um lado atuam os lobbies políticos para a manutenção de subsídios e de vantagens fiscais às antigas indústrias, além de pressões para retardar aprimoramentos legais para beneficiar as novas indústrias baseadas em energias renováveis e eletrificação.
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De outro lado, disseminam-se desinformações através de campanhas ressaltando as limitações da eletrificação ou os riscos dos carros elétricos. Apesar destes obstáculos, a história nos mostra que estas táticas apenas atrasam o inevitável.
ALÉM DA SIMPLES SUBSTITUIÇÃO: REPENSANDO A MOBILIDADE URBANA
É crucial entender que a transição para veículos elétricos deve ser acompanhada por uma reformulação abrangente do transporte urbano. Não podemos simplesmente trocar congestionamentos de carros a combustão por congestionamentos de carros elétricos. O foco deve ser:
•Priorização do Transporte Coletivo: Investir em corredores exclusivos e sistemas BRT elétricos.
•Integração Multimodal: Conectar ônibus elétricos com todos os modais e áreas de pedestres.
•Tecnologia Inteligente: Implementar sistemas de gerenciamento e informações em tempo real aos passageiros.
•Redesenho Urbano: Criar cidades mais compactas e caminháveis, reduzindo a necessidade de deslocamentos longos.
CONCLUSÃO: UM FUTURO BRILHANTE E SUSTENTÁVEL
A transição para ônibus elétricos e o fortalecimento do transporte coletivo representam uma oportunidade única para o Brasil. Podemos não apenas melhorar drasticamente a qualidade de vida em nossas cidades, mas também nos posicionar como líderes globais em mobilidade sustentável.
Com empresas genuinamente nacionais liderando o caminho, o Brasil tem o potencial de criar uma indústria de ônibus elétricos de classe mundial. Isso não só atenderá às necessidades domésticas, mas também permitirá que o país retome sua posição de liderança no mercado de ônibus da América Latina e além.
Ao abraçar esta transição com entusiasmo e investimento estratégico, o Brasil pode criar cidades mais habitáveis, uma indústria nacional robusta e um modelo de desenvolvimento sustentável. O futuro da mobilidade urbana é elétrico, coletivo e, com nossa determinação e inovação, pode ser decididamente fundamental para o nosso desenvolvimento.
Vamos liderar esta revolução!