O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), tem gravitado entre um aguerrido estudante secundarista que ainda veste a camiseta com os dizeres “fora daqui o FMI” e o centralizador que nomeia auxiliares para cargos do segundo escalão, ignorando partidos aliados como se não houvesse votação amanhã.
O Lula 3.0 [numa referência ao seu terceiro mandato] tem vociferado contra a política de juros e a independência do Banco Central e seu presidente, Roberto Campos Neto, a ponto de ter aprovado manifestações como da ministra da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos, que falou do Bacen como se fosse um bicho-papão da política financeira.
“É preciso ter uma política de juros a altura dos desafios nacionais. O Banco Central tem que baixar a taxa Selic, e nós vamos ter que garantir isso nas ruas” conclamou a ministra que também preside do PCdoB, um dos derradeiros partidos comunistas no mundo democrático.
Quando chamou o economista Paulo Câmara, ex-governador de Pernambuco, ao Palácio do Planalto, e lhe entregou de bandeja a Presidência do Banco do Nordeste, Lula sabia que era preciso fazer “ouvidos de mercador” para as críticas de sua própria legenda e do PSB, um dos partidos satélites desse terceiro mandato.
Paulo Câmara recém se desfiliou do PSB. Outras nomeações enfiadas goela baixo também se deram, recentemente, como na Presidência dos Correios [Fabiano Silva] e Edegar Pretto que vai para a Conab. Ambos militantes do PT.
Esse flerte de Lula por momentos em que vira as costas aos aliados “pode ter consequências seríssimas na primeira votação importante, aqui no Congresso Nacional”, advertia um líder partidário, após os recentes anúncios de ocupantes de cargos.
Só as primeiras e importantes votações é que vão dizer se o presidente estará ou não sensível aos apelos dos aliados, mas uma coisa é certa. Lula voltou muito mais centralizador do que foi nos dois primeiros mandatos.