Daquilo tudo que se esperava do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nos 100 dias de governo um ponto ainda é considerado nevrálgico e que necessita ser corrigido a tempo, sob pena de ter poucas chances de chegar com desenvoltura aos 200, 300 dias. A versão Lula 3.0 está perdendo a guerra das redes sociais. Sim é uma guerra de narrativas, de ações, de investimento e sobretudo de conhecimento. O atual governo é analógico e tem de buscar fôlego, justamente nas mídias sociais, para completar os 1.361 dias que ainda faltam. Falta povo, no governo Lula.
Outro sinal de alerta escutado por esses dias, no 4º andar do Palácio do Planalto, foi a “ponte” que o atual governo ainda não conseguiu concretizar, ligando o Poder Executivo com o Congresso Nacional. Se os 100 primeiros dias de governo são aquela fase de transição que vai dos festejos da posse e o “vamos ver” do início da gestão, deputados e 1/3 dos senadores ainda estão se ambientando, como quem espera a chuva passar. E é aí que o governo falhar. A multi-instrumentista maranhense, Dilu Melo (1913-2000), imortalizou uma moda caipira que diz assim: “Fiz a cama na varanda me esqueci do cobertor.” Com essa base aliada, o governo Lula está fadado a “passar frio” porque, como diz o ditado popular, “o cobertor é curto”.
Durante reunião ministerial, nesta segunda-feira, o presidente fez o discurso fácil. Colocou-se como “salvador da pátria” das contas públicas, “apresentamos um arcabouço fiscal para equilibras as contas públicas. O arcabouço traz o pobre de novo ao orçamento. Estamos trabalhando na reforma tributária para criar um ambiente mais dinâmico e descomplicado para o setor empresarial”, e afagou o seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que vem sendo bombardeado dentro e fora do governo. "Haddad, sei que você, de vez em quando, sofre algumas críticas. Tenho que elogiar. Sei que nunca teremos 100% de solidariedade”. Nisso o presidente tem total razão. Essa falta de solidariedade tem sido constante até mesmo dentro do seu partido, o PT, no cenário conhecido como “fogo amigo”.
Embora o presidente tenha sido certeiro ao criticar os bancos públicos que, passados 100 dias de governo, ainda não levaram adiante o programa “Desenrola”, que tem por objetivo reduzir o endividamento de 60 milhões de consumidores com renda de até dois salários mínimos por mês, para que eles voltem a comprar. “Eu lembro que eu dizia na campanha que, se a gente não fizer, dá a impressão de que a gente está enrolando o povo. Como o programa chama Desenrola, Haddad, eu queria que você, a sua equipe, fizesse uma conversa na Casa Civil, preparasse esse programa para gente lançar. Por mais dificuldade que a gente possa ter, tem que ter um começo. E nós precisamos lançar esse programa para ver se a gente termina com a dívida que envolve quase 60 milhões de pessoas que estão se endividando no cartão de crédito para comprar o que comer. Não tem sentido. vamos desenrolar, pelo amor de Deus. Vamos desenrolar aí", brincou o presidente.
O compositor mineiro, Fernando Brandt (1946-2015), deixou importante lição na canção “Nos Bailes da Vida” quando ressalta que “Com a roupa encharcada, a alma repleta de chão. Todo artista tem de ir aonde o povo está”. Talvez o excesso de governo e a falta de gente estejam deixando a desejar, no atual governo. Para sorte de Lula e, oxalá do país, esse governo ainda tem pela frente, 1.361 dias.