A "mula" que operava dentro do Palácio do Planalto e desempenhava o papel de camelô, com dinheiro do contribuinte

Leia a coluna Política em Brasília
Romoaldo de Souza
Publicado em 11/08/2023 às 18:34
Operação PF: Bolsonaro e Mauro Cid Foto: DIDA SAMPAIO/Estadão Conteúdo


O dramaturgo americano, Arthur Miller (1915-2005), tinha 34 anos quando concluiu “Death of a Salesman”, que em português ganhou o nome de “A Morte do Caixeiro Viajante”. A obra destaca Willy Loman, o vendedor que comprou o sonho errado e acabou vendendo produto contaminado para toda família. O sonho americano tornou-se pesadelo ou, como diz o professor Obed Rodrigues de Souza: “É uma profunda reflexão sobre como o homem pode investir seus talentos na idéia errada do que é ser feliz e buscar a realização onde encontrará só a morte”. Se ainda não leu o livro, recomendo.

O que leva um general do glorioso Exército de Duque de Caxias (1803-1880) e seu filho [do general], um tenente-coronel a embarcarem numa “viagem” recheada de pedras preciosas, joias, um relógio de grife? Ganância, certeza de impunidade ou simplesmente ligaram o dane-se!

Em nota, a corporação informou que “vem acompanhando as diligências realizadas por determinação da Justiça e colaborando com as investigações em curso. Cabe destacar que o Exército Brasileiro não compactua com eventuais desvios de conduta de quaisquer de seus integrantes.”

A operação “Lucas capítulo 12, versículo 2” [“Não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido”] cumpriu nesta sexta-feira (11), mandados de busca e apreensão em endereços do general Mauro César Lourena Cid; o filho, o tenente-coronel Mauro Cid; e o advogado Frederick Wassef, que trabalhou para a família Bolsonaro.

Segundo a Polícia Federal, “os investigados são suspeitos de utilizar a estrutura do Estado para desviar, por meio de vendas no exterior, bens de alto valor patrimonial”. Ainda conforme a corporação, a operação constatou que “os valores obtidos dessas vendas foram convertidos em dinheiro em espécie e ingressaram no patrimônio pessoal dos investigados, por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores”.

PELA METADE DO DOBRO
Um resumo desse roteiro tragicômico, passo a passo:
Passo um: o então presidente da República Jair Bolsonaro (PL) ganha, na Arábia Saudita, em 2019, um Rolex. Em vez de ser entregue para fazer parte do acervo de presentes que as autoridades recebem, o ajudante de ordens do presidente, tenente-coronel Mauro Cid, pega o relógio, isso no mês de junho do ano passado, viaja aos Estados Unidos e vende por R$ 333 mil (valor de hoje). Cid recebe o dinheiro e deposita na conta que o pai, general Mauro Lourena Cid, mantém no exterior.

Passo dois: O Tribunal de Contas da União (TCU) descobre que o relógio foi negociado e determina que a joia deve ser devolvida ao acervo nacional de presentes. É aí que entra a terceira personagem, o advogado Frederick Wassef. Ele [re]compra o mesmo Rolex por um valor “bem acima do que tinha sido vendido". A Polícia Federal revela que em “14 de março deste ano, o advogado voltou ao Brasil”. O relógio foi entregue a Mauro Cid que o devolveu ao tenente Osmar Crivelatti, assessor do ex-presidente Bolsonaro, e, assim, está guardado em um cofre no Palácio do Planalto.

POSSE PRESTIGIADA
A posse do arcebispo de Olinda e Recife, dom Paulo Jackson, neste domingo (13), vai contar com a presença da cúpula da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Confirmaram presença o arcebispo de Porto Alegre (RS) e presidente da CNBB, dom Jaime Spengler; o arcebispo de Goiânia (GO) e primeiro vice-presidente, dom João Justino; e o bispo auxiliar de Brasília (DF) e secretário-geral da entidade, dom Ricardo Hoepers.

O paraibano de São José de Espinharas, Paulo Jackson, será o 9º arcebispo e não será surpresa se o papa Francisco lhe nomear cardeal. Pela histórica luta em defesa dos Direitos Humanos a arquidiocese de Olinda e Recife já o fez por merecer. No Vaticano, não é segredo que o engajamento do clero contra a Ditadura Militar (1964-1985) pode ter levado Roma a adiar essa nomeação.  

MEU VOO MINHA VIDA
O “Voa Brasil”, programa do governo federal para vender passagens aéreas a R$ 200 cada trecho, deve ser lançado até o fim de agosto. A estimativa do ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França, é de que 1,5 milhão de passagens, por mês, sejam ofertadas pelo programa, em períodos de baixa procura: de março a maio e de agosto e novembro.” Inicialmente, serão beneficiados aposentados e pensionistas que não terem tenham voado nos últimos 12 meses”.

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