Romoaldo de Souza: Hugo Motta assume Câmara defendendo emendas. No Senado, Alcolumbre é contra anistia

Sem surpresas, o Centrão - aglomerado de parlamentares de diferentes partidos - fez "barba, cabelo e bigode". Vai comandar o Congresso Nacional

Publicado em 01/02/2025 às 20:47 | Atualizado em 03/02/2025 às 8:44
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CENTRÃO DE CABO A RABO

“Vixe, como eu tô feliz.
Olha só como eu tô pabo”
Os versos de João Silva (1935-2013) foram tema de solfejo dos principais líderes do Centrão. Na Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB) foi eleito presidente com 444. O paraibano derrotou Marcel van Hatten (Novo-RS), que recebeu 31 votos e o pastor Henrique Vieira (Psol-RJ), 22 votos.

PT E PL DE MÃOS DADAS

O partido do presidente Lula da Silva (PT) e o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro estavam tão unidos, mas tão juntos que fizeram “barba, cabelo e bigode”, tanto na Câmara como no Senado - onde Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) foi eleito com 73 votos, derrotando o senador Eduardo Girão (Novo-CE) e o Astronauta Marcos Pontes (PL-SP), ambos com 4 votos.

PERNAMBUCO FOI BEM

Três políticos de Pernambuco vão integrar as mesas diretoras das duas Casas Legislativas. No Senado, Humberto Costa (PT) foi eleito 2º-vice-presidente. Na Câmara, Carlos Veras (PT) foi escolhido para comandar a poderosa 1ª Secretaria. Coube a Lula da Fonte (PP) a 2ª-Secretaria.

PADRINHO DE PESO

Na primeira ameaça durante reunião de parlamentares do Centrão de tirar a 2ª secretaria do deputado Lula da Fonte, seu padrinho todo poderoso, Arthur Lyra (PP-AL), levantou a voz e disse não! O pernambucano ficou com o cargo.

ESCAPOU FEDENDO

Seis meses atrás, quem chegasse à Câmara, veria o deputado Elmar Nascimento (União Brasil-BA) acompanhado de um sem número de assessores e integrantes do “baixo clero,” paparicando o baiano. Elmar era o nome certo para substituir Arthur Lyra. Seu prestígio minguou tanto que na eleição deste sábado (1º), teve de se contentar com a 2ª-vice-presidência.

ZERO TRANSPARÊNCIA

Lyra não seria Lyra se não tivesse cometido seu derradeiro ato de autoritarismo. Proibiu a entrada dos jornalistas no Plenário da Câmara. A alegação mais descabida foi de que era preciso assegurar o sigilo do voto dos deputados. A partir de hoje, Arthur Lyra vai tomar café frio. A chaleira mudou de mão. A fila andou.

LIBERDADE AINDA QUE TARDIA

Na despedida dos microfones, o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) aproveitou o derradeiro ensejo para falar bem da democracia, dizer o que fez para que o Brasil “fosse um país mais democrático” e afirmou que seu grande sonho é governar Minas Gerais, a partir de 1º de janeiro de 2027. “Quem diz que está na política e não tem o sonho de governar o seu próprio estado, não está falando a verdade. Óbvio que isso é o desejo de qualquer político e, evidentemente, é um sonho que eu sempre tive de ser o governador do meu estado.” Pacheco é cotado para ser ministro da Indústria e Comércio.

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ISSO NÃO SE FAZ

O ainda vice-presidente da Câmara, deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP), estava chegando para uma reunião quando foi cercado por um batalhão de repórteres e cinegrafistas. Pacientemente o pastor parou, e quando ia começar sua última entrevista, chega o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) - até aquele momento, candidato à Presidência. Todo mundo deixou Marcos Pereira falando sozinho e correu para ouvir o que tinha a dizer o futuro presidente.

‘BEIJA EU, ME BEIJA’

Pode até ser apenas um gesto elegante de quem foi criado em Garanhuns (PE) e depois migrou para o Norte do país. Mas muita gente olhou com um olhar atravessado para o afago do líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT-AP), quando beijou calorosamente a mão do agora presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).

REPRODUÇÃO
Randolfe Rodrigues - REPRODUÇÃO

PEDINDO O BONÉ

O lema “O Brasil é dos brasileiros”, criado pelo ministro da Comunicação Social, Sidônio Palmeira, foi bordado em bonés azuis, distribuídos no plenário pelo ministro da Articulação Política, Alexandre Padilha. “É para se contrapor com o presidente [Donald] Trump”, cutucou o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). No dia da posse, os republicanos distribuíram bonés vermelhos com o slogan: “Make America Great Again” [faça a América grande novamente].

NA EXPECTATIVA

Eleito 2º-vice-presidente, o senador Humberto Costa disse à coluna que a base aliada do governo Lula “sabe que pode contar com Davi Alcolumbre tanto para destravar a pauta” como para “votar projetos que impulsionem a democracia”, disse.

SEM ANISTA

Humberto Costa afirmou que “não há a menor possibilidade de votação” do projeto que anistia condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), envolvidos no quebra-quebra de 8 de janeiro de 2023. “Sem chance”, resumiu o senador pernambucano.

PENSE NISSO!

O discurso do novo presidente da Câmara era mais aguardado que do presidente do Senado. Por um motivo: Hugo Motta é um novato na cadeia de comando. Davi Alcolumbre já dirigiu o Senado entre 2019-2021.

E Motta não decepcionou seus padrinhos, os caciques do Centrão, defendendo o pagamento das emendas impositivas: “Foi com as emendas impositivas, que o Parlamento finalmente se encontrou com as origens do projeto constitucional. A crise exigia uma nova postura, o fim das relações incestuosas entre Executivo e Legislativo”. Em resumo: o caixa do governo não vai ter refresco. Emenda impositiva tem que ser paga e pronto!

Alcolumbre, que tem no ministro Walter Góes, Integração de Desenvolvimento Regional, seu legítimo representante no governo Lula, ontem balançou o turíbulo para o lado do Planalto: “Anistiar condenados pelos atos de 8 de Janeiro não vai pacificar o Brasil. Esse é o tipo de assunto que vai contaminar o debate do Parlamento brasileiro”. Disse a que veio!

Ou seja, não espere muita independência entre os Poderes, não.

Pense nisso!

 

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