Feminicídios crescem 35,7% em Pernambuco; abril registrou recorde de casos
Maioria das mulheres tem entre 25 e 64 anos; Saiba mais sobre o perfil das vítimas da violência
A manicure Dione Gomes da Silva, 40 anos, saiu de casa, em Camaragibe, no Grande Recife, para visitar o namorado na Imbiribeira, Zona Sul da capital pernambucana. Horas mais tarde, ela teve o corpo jogado no Rio Tejipió, no bairro de Afogados, no dia 03 de janeiro deste ano. Entre janeiro e abril, 38 mulheres, assim como a manicure, foram vítimas de feminicídio em Pernambuco, segundo estatísticas da Secretaria de Defesa Social (SDS). Foram dez casos a mais do que no mesmo período de 2020. Um aumento acumulado de 35,7%. Somente no mês passado, foram 11 vítimas - um recorde nunca visto desde o ano de 2017, quando a SDS começou a contabilizar os feminicídios no Estado.
E os números chamam ainda mais atenção porque os homicídios de mulheres (incluindo os feminicídios e outras motivações) também cresceram no Estado. Foram 85 registros entre janeiro e abril contra 76 no mesmo período do ano passado.
Em entrevista à coluna Ronda JC, a gestora do Departamento de Polícia da Mulher, Fabiana Leandro, avalia que o aumento dos casos de feminicídios pode ter relação com a pandemia da covid-19. “É reflexo da pandemia porque as vítimas estão mais tempo junto com os agressores. Na maioria dos feminicídios, a vítima nunca procurou uma delegacia para fazer uma queixa”, explica, reforçando a necessidade do registro do boletim de ocorrência.
No último mês de abril, 3.125 denúncias de violência doméstica e familiar foram registradas nas delegacias pelas mulheres. Um aumento de 13,68% em relação ao mesmo período de 2020, quando houve 2.749 queixas. “Diferente dos crimes comuns, esse aumento de boletins de ocorrência é positivo, porque mostra que as vítimas estão procurando ajuda e que a polícia pode impedir que a violência continue. Quando há queda de queixas é porque pode haver uma subnotificação, as mulheres podem estar com medo de denunciar”, diz a delegada.
Fabiana Leandro conta que está planejando, em parceria com a Secretaria Estadual da Mulher, ações de conscientização para estimular o crescimento das denúncias. Em paralelo, também está em fase de confecção um procedimento padrão para atendimento às vítimas nas delegacias.
PREVENÇÃO
A delegada Ana Elisa Sobreira, que neste mês assumiu a Secretaria Estadual da Mulher, afirma que pretende ampliar as ações de prevenção nos próximos meses. “Estou levando um pouco da minha experiência na polícia. Foram seis anos no combate à violência contra a mulher. E posso afirmar que a prevenção é a maior saída. Por isso, vamos ampliar as ações com base na educação. Vamos dar palestras nas escolas, apresentar a Lei Maria da Penha, mostrar a essas mulheres que elas podem estar passando por relacionamentos abusivos sem se dar conta disso. Vamos mostrar que elas não estão sozinhas, apresentando a rede de proteção que é forte aqui no Estado”, afirma a secretária à coluna Ronda JC.
Ana Elisa diz que as campanhas também vão focar nos casos de mulheres que foram salvas graças às denúncias registradas. “A gente vai mostrar que vale a pena. Temos meios de ajudar a acabar com esse ciclo de violência. Tem a tornozeleira eletrônica, tem o abrigamento que a vítima pode ir junto com seus dependentes. Enfim, uma série de medidas para ajudá-la.”
Um dos meios que as mulheres podem pedir orientações é pelo número da Ouvidoria da Secretaria da Mulher: 0800-281-8187. A ligação é gratuita.
CASO DIONE
O feminicídio de Dione, citado no início da reportagem, chocou os pernambucanos no início do ano. O corpo, com lesões no pescoço, possivelmente porque ela foi ferida na casa do acusado, foi encontrado após buscas do Corpo de Bombeiros. Maurício Alves de Andrade, 43, réu por por feminicídio e ocultação de cadáver, continua preso. Testemunhas relataram que brigas entre o casal eram comuns.
No próximo dia 18 de junho, Maurício sentará no banco dos réus. Será a audiência de instrução e julgamento do caso, Segunda Vara do Tribunal do Júri Capital. Nesta data, testemunhas de acusação e de defesa serão ouvidas, além do interrogatório do réu. Concluída esta fase, o juiz responsável decidirá se Maurício irá a júri popular.