VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Primeira esposa será testemunha de defesa de Pedro Eurico. 'Um grande amigo'; veja o que ela diz

Ex-secretário de Justiça e Direitos Humanos de Pernambuco foi indiciado por crimes relacionados à Lei Maria da Penha contra a ex-mulher

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Raphael Guerra

Publicado em 12/12/2021 às 17:08 | Atualizado em 12/12/2021 às 18:20
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A defesa de Pedro Eurico vai contar com o depoimento da primeira esposa para apresentar a tese de que o ex-secretário de Justiça e Direitos Humanos de Pernambuco não era uma pessoa violenta. A psicanalista Maria Helena Barros e Silva, que se relacionou durante 27 anos com Eurico, confirmou à coluna Ronda JC que será testemunha de defesa - em caso de o indiciamento virar processo penal. Na última quarta-feira (08), o ex-secretário foi indiciado pela Polícia Civil por crimes relacionados à Lei Maria da Penha contra a mais recente ex-mulher, a economista aposentada Maria Eduarda Marques de Carvalho. O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) deve decidir, nos próximos dias, se ele será denunciado ou não à Justiça. 

Maria Helena afirmou que conviveu com Pedro Eurico por quase 30 anos e que, até hoje, é um grande amigo. "Vivi com Pedro Eurico durante 27 anos e já afirmei para ele que prestarei depoimento em justiça no momento que ele precisar. Essa senhora (Maria Eduarda), durante muitos anos fez ameaças e terrorismo com meus filhos e minha sogra, já falecida, criando tensões intensas no meu meio familiar", declarou à coluna. 

"Não compactuo com a dimensão leviana que as palavras vêm tomando em nossos tempos e me recuso a lançar holofotes na Sociedade do Espetáculo, como diz (o escritor francês Guy) Debord. É o que tenho a dizer” , completou.

Em nota, divulgada na última sexta-feira, a defesa de Pedro Eurico disse que "acredita na total elucidação dos fatos que envolvem as denúncias apresentadas por sua ex-mulher, durante divórcio litigioso no qual se discutem questões patrimoniais".

"A defesa estranha a pressa com a qual foi concluída a investigação, sem terem sido ouvidas testemunhas importantes, como a primeira esposa do investigado, com a qual ele conviveu por 23 anos, sua ex-namorada e pessoas que se colocaram à disposição para prestar depoimento. Seria importante, nesse momento, ouvir a versão daqueles que conviveram com o casal", afirmou o texto. 

DENÚNCIAS

A Polícia Civil não divulgou, oficialmente, por quais crimes Pedro Eurico foi indiciado, sob o argumento de que "maiores informações não podem ser repassadas em função da Lei Federal 11.340/06 (Lei Maria da Penha), com o Artigo 20 do Código de Processo Penal e o Artigo 3, parágrafo 2 da Resolução 346/2020 do Conselho Nacional de Justiça e também pela Lei de Abuso de Autoridade." A assessoria do MPPE disse que os autos estão sendo analisados pela 7ª Promotoria de Justiça Criminal do Paulista. O inquérito é referente à queixa prestada pela ex-mulher em 1º de novembro deste ano. 

As supostas agressões sofridas foram denunciadas pela ex-mulher de Pedro Eurico em entrevista à TV Jornal na última terça-feira. Na mesma noite, a assessoria de Eurico divulgou nota declarando que ele pediu afastamento do cargo.

Segundo a mulher, o relacionamento entre os dois sempre foi conturbado e marcado por agressões e ameaças de morte, desde o ano 2000, ainda na fase de namoro, quando a primeira queixa foi registrada à polícia. No total, ao longo dos últimos 21 anos, foram dez boletins de ocorrência registrados. "Sempre acreditei que Pedro Eurico iria cumprir com o que me dizia: não ser mais violento, não ser agressivo. Mas era tapa, murro, chute...", afirmou Maria Eduarda.

TV JORNAL/REPRODUÇÃO
ANOS DE SOFRIMENTO Maria Eduarda Carvalho relatou que sofria agressões e até ameaças de morte. Foram dez queixas na polícia - TV JORNAL/REPRODUÇÃO

Em janeiro deste ano, segundo a ex-mulher, houve a última agressão física. "Decidi: agora não dá mais. Ele passou a semana inteira batendo porta, gritando, dizendo que não ia mais aguentar esse relacionamento. Uma madrugada, ele acordou e mandou eu sair de casa. Peguei minha bolsa e sai de casa", descreveu.

Em 1º de novembro, ela voltou a procurar a polícia para registrar outra queixa. Informou que o ex-marido teria tentado invadir a casa onde ela estava morando, em Olinda. No dia seguinte, ela conseguiu uma medida protetiva expedida pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE). Mas, segundo ela, cinco dias depois ele teria descumprido e tentado ir até o apartamento.

Os dois estão em processo de separação. Eurico nega qualquer tipo de agressão e, em nota, atribui denúncias a "uma sórdida trama de interesse patrimonial".

ENTIDADES REPUDIAM

A Secretaria Estadual da Mulher (SecMulher-PE) se posicionou, na quinta-feira, sobre as denúncias de violência doméstica envolvendo o ex-secretário de Justiça e Direitos Humanos. Em nota conjunta com a Câmara Técnica para o Enfrentamento da Violência de Gênero/PE e com o Conselho Estadual dos Direitos da Mulher, a SecMulher-PE afirmou que "repudia todas a formas de violência contra as mulheres e vêm a público manifestar veemente apoio a economista Maria Eduarda Marques de Carvalho".

"Atitudes como essa vão de encontro ao direito das mulheres à liberdade de viverem em seus lares, locais de trabalho, meios de transporte público, universidades e em todos os estabelecimentos públicos e privados sem violência, seja por força de um patriarcalismo arraigado, seja pelo temor daquelas que mesmo agredidas e violentadas têm de denunciar situações corriqueiras. Entendemos não ser necessário que uma vida humana seja desperdiçada com sofrimentos físicos, psicológicos e até ser perdida para que cada um (a) de nós, indigne-se e repudie a violência diária praticada contra as mulheres em nossa sociedade", disse texto divulgado nas redes sociais.

A Ordem dos Advogados do Brasil - Seccional Pernambuco (OAB-PE) também divulgou nota de repúdio a Pedro Eurico.

"A OAB-PE defende que todo e qualquer tipo violência contra a mulher deve ser rigorosamente investigada e os responsáveis, exemplarmente punidos, com respeito à legislação vigente. Não há espaço na sociedade para minimizar fatos que atentem contra a dignidade das mulheres em qualquer situação. A OAB-PE, por meio da Comissão da Mulher Advogada, acompanhará o inquérito policial instaurado, a fim de garantir a sua higidez, e tomou as providências, de ofício, para a apuração da conduta no âmbito ético-disciplinar", pontuou nota assinada por Ingrid Zanella, presidente em exercício da OAB-PE, e por Isabelita Fradique, presidente da Comissão da Mulher Advogada.

 

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