O que a polícia já sabe sobre a invasão e mortes em prédio de luxo em Boa Viagem
Empresário atirou na ex-mulher, na filha dela e no namorado da jovem. Depois, disparou contra a própria cabeça
Com informações da TV Jornal
A Polícia Civil começou a ouvir testemunhas para esclarecer a ação do empresário de 50 anos que invadiu o Edifício Morada dos Navegantes, no bairro de Boa Viagem, Zona Sul do Recife, e atirou na ex-mulher, de 48 anos, na filha dela, de 21, e no namorado da jovem, de 28. Em seguida, o suspeito se matou com um tiro na cabeça. O caso chocante aconteceu na manhã desta sexta-feira (08).
Segundo informações iniciais repassadas pela polícia e por vizinhos, o empresário e a ex-mulher estavam separados há poucos dias - após um relacionamento de mais de cinco anos. Ele teria cometido o crime porque não aceitava o fim do relacionamento.
Por causa do comportamento do suspeito, a ex-mulher havia solicitado aos funcionários que não deixassem ele entrar no edifício.
Horas antes do crime, o empresário foi visto circulando nas proximidades. Estaria fazendo uso de bebidas alcoólicas, inclusive.
"Ele ficou arrodeando o prédio. A ordem era para ele não subir mais, porque não morava mais aqui, já que estava separado. Mas ele pegou a passagem do carro que estava saindo e subiu a rampa armado", relatou o zelador Roberto dos Santos.
O zelador disse que chegou a conversar com o homem e que pediu para ele se afastar.
"Eu cheguei perto dele e perguntei 'não é nada com a gente, né?'. E ele disse: 'não, só vou pegar o elevador. E eu disse: 'você não sabe que não pode?'. Aí, ele mandou eu me afastar", afirmou o zelador.
"A gente ligou para o apartamento e disseram para não deixar ele subir. Mas como a gente não deixaria, se ele estava armado? Quatro ou cinco minutos depois escutamos os tiros", completou.
A costureira Marla Souza, que mora no prédio ao lado, ouviu os disparos. "Os tiros foram um em sequência do outro. Escutamos três tiros e depois mais dois, [enquanto gritavam] 'solta, me larga'. Mas a gente não sabia de onde vinha. Foi desesperador", contou.
Além da polícia, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) também foi acionado para fazer o socorro das vítimas.
O namorado da enteada do empresário foi levado até o Hospital da Restauração, na área central do Recife. Ele deu entrada às 9h28 na unidade com um tiro no peito. Menos de uma hora depois, o óbito foi confirmado.
A ex-mulher do empresário e a filha dela foram encaminhadas para o Complexo Hospitalar Unimed Recife.
A polícia informou que o estado de saúde da primeira vítima era considerado gravíssimo, porque o tiro foi na cabeça e houve muita perda de massa encefálica. Já a filha foi atingida por um tiro de raspão no pescoço. O estado de saúde era estável.
A assessoria da Unimed foi procurada pelo JC, mas afirmou que, pela Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), não pode divulgar o estado de saúde das vítimas.
INVESTIGAÇÃO DO CRIME EM BOA VIAGEM
O delegado Sérgio Ricardo, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), deu início às investigações. Ele não concedeu entrevista à imprensa. Por meio de nota, a Polícia Civil declarou que o caso está sob o comando da 3ª Delegacia de Polícia de Homicídios.
O perito criminal Ranon Barros, do Instituto de Criminalística de Pernambuco, esteve no local da tragédia. Na saída, falou o que a perícia já conseguiu identificar em relação à dinâmica do crime.
"A situação se deu no corredor (do 4º andar). Há duas perfurações nas paredes do hall. Fizemos registros e imagens para determinar se houve algo no apartamento ou não. O socorro prestado para as vítimas acaba dificultando a determinação da dinâmica exata [do tiroteio]. O que a gente pode determinar é que tinha uma vítima na proximidade do local em que ele (empresário) se lesionou", disse o perito.
A arma de fogo usada no crime foi uma pistola 380. Ela foi recolhida por policiais militares antes da chegada da perícia. Ranon disse não ter conhecimento, ainda, se ela era legalizada.
Casos de feminicídios em Pernambuco
A Secretaria de Defesa Social (SDS) somou, entre janeiro e maio deste ano, 34 casos de feminicídio. Foram 12 mortes a menos do que no mesmo período do ano passado.
Além disso, 16.614 vítimas de violência doméstica procuraram as delegacias do Estado para denunciar seus agressores nos cinco primeiros meses deste ano.
Uma das apostas do Departamento de Polícia da Mulher (DPMul) para diminuir os casos de feminicídio é a realização da apreensão da arma de fogo do agressor - medida que está prevista na Lei Maria da Penha. No ano passado, segundo o DPMul, houve aumento de 450% nas apreensões em relação a 2020.