21 cidades de Pernambuco já somam mais assassinatos em 2022 do que em todo o ano de 2021
Como explicação para explosão da criminalidade, especialistas apontam a migração de facções para os municípios com menos policiamento
Crescente, a violência em Pernambuco agora se espalha por mais municípios do interior. Levantamento feito pela coluna Ronda JC, com base nas estatísticas da Secretaria de Defesa Social (SDS), apontou que 21 cidades já registraram mais assassinatos no primeiro semestre de 2022 do que em todo o ano de 2021 (veja quadro mais abaixo).
Segundo especialistas, a migração de facções para municípios com menos policiamento e os crimes de proximidade têm relação com aumento dos homicídios.
Entre janeiro e junho deste ano, 1.858 pessoas foram mortas em Pernambuco. Um crescimento de 10,7% em relação ao mesmo período de 2021, quando houve 1.679 assassinatos.
A região do Agreste apresenta quadro mais preocupante. Ao todo, 440 mortes no primeiro semestre. Foram 78 a mais que em 2021. O aumento foi de 21,5%.
"O quadro geral de segurança pública no Estado já inspira atenção. Desde o final de 2021, os homicídios vêm tomando uma dinâmica de crescimento. Parte desse aumento pode estar ligado à ação de grupos criminosos armados que estão procurando territórios com mais oportunidades para os negócios relacionados à criminalidade. Isso é muito perigoso, porque pode se tratar de uma migração de facções para essas cidades", afirma a socióloga Edna Jatobá, que é coordenadora executiva do Gabinete Assessoria Jurídica Organizações Populares (Gajop).
Durante os últimos anos, Caruaru, principal município do Agreste, foi alvo de preocupação das autoridades ligadas à segurança do Estado por causa da violência desenfreada.
Com investimento em mais policiamento - inclusive com novo batalhão da PM - e em operações para desarticular grupos criminosos, os números começaram a cair em Caruaru no ano passado. E, no primeiro semestre de 2022, houve queda de 53,8% nos assassinatos.
Cidade vizinha, Santa Cruz do Capibaribe vive situação oposta. Ao longo de 2021, a polícia somou 17 homicídios. Já no primeiro semestre deste ano, 18 vidas foram perdidas por causa da violência.
Segundo policiais ouvidos pela coluna, parte expressiva dessas mortes tem como motivação a disputa pelo domínio do tráfico de drogas - o mesmo que provocava a elevação de crimes contra a vida em Caruaru.
Os dados reforçam a tese de migração de facções para outras cidades. - e nem tão distantes das que os grupos já atuavam.
"Esses deslocamentos precisam ser mapeados e acompanhados pela inteligência policial para evitar que aconteça o rápido estabelecimento e mais mortes nessas cidades. Muitas vezes essas cidades contam com baixo efetivo por se tratarem de cidades pequenas, afastadas, e que tiveram histórico de não ter violência letal nos últimos anos", destaca Edna Jatobá.
À coluna Ronda JC, o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de Pernambuco avalia que a migração das facções no Estado tem um caráter "expansionista, através da tomada e ampliação do seu território".
"São grupos ou bandos originários daqui, nascidos em periferias dos municípios, que ganham alguma dimensão e comumente se associam com facções maiores, normalmente de outros Estados", diz o órgão.
O Gaeco afirma que trabalha em conjunto com as polícias Civil e Militar na identificação das facções e dos seus líderes.
A socióloga Edna Jatobá lembra ainda que, em algumas cidades do Sertão, há uma frequência maior das mortes por proximidade, que são aquelas que ocorrem no "calor da emoção", como numa briga de vizinhos ou entre parentes, por exemplo.
"Isso pela facilidade de acesso às armas e por causa da baixa presença policial."
DELEGACIAS FECHADAS
Além de menos policiamento no interior, outro problema são as delegacias. A maioria só funciona de segunda à sexta-feira, das 8h às 18h.
Das 21 cidades onde já houve mais homicídios do que em todo o ano de 2021, nenhuma delegacia funciona à noite ou fim de semana. Quem precisa registrar queixa fora do horário comercial sofre com a falta do serviço.
Um descaso antigo e sem sinalização de solução por parte do governo de Pernambuco.
Procurada pela coluna, a Polícia Civil não quis discutir o problema da violência no interior do Estado.