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Quarentena rígida não afasta população das ruas do Grande Recife

Mesmo com medidas mais duras de isolamento social, vida segue nas ruas como se quase nada de diferente acontecesse na Região Metropolitana do Recife

Cinthya Leite
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Cinthya Leite
Publicado em 12/05/2020 às 22:01
FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
Movimentação em Casa Amarela, Zona Norte do Recife - FOTO: FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

No Recife, oito bairros têm os maiores números de moradores que foram infectados pelo coronavírus e evoluíram para a forma grave da doença - caracterizada por quadros que geralmente exigem internamento e, em alguns casos, assistência em unidade de terapia intensiva (UTI). Estão nesta lista Boa Viagem (351 casos severos), Madalena (131), Casa Amarela (120), Iputinga (118), Várzea (112), Cohab (102), Ibura (96) e Água Fria (94). Cada um tem suas particularidades e, quando analisamos fatores como isolamento social e letalidade, as diferenças entre eles se tornam expressivas. Em muitos dos bairros da cidade, assistimos a uma menor adesão às medidas que se tornaram, a partir desta terça-feira (12), mais restritivas para circulação de pessoas. Todos nós estamos sujeitos ao adoecimento, mas os grupos mais vulneráveis, que têm exposição facilitada ao vírus por condições de moradia, questões sociais e sem poder fazer um isolamento adequado, são os que mais têm sofrido com a epidemia.

Embora Boa Viagem, Zona Sul da cidade, lidere o ranking em número absoluto de casos, é um bairro onde teoricamente a maioria da população encontra condições socioeconômicas mais favoráveis para permanecer em casa. Com menos casos do que Boa Viagem, Cohab, também na Zona Sul, tem a letalidade mais alta entre os bairros com maior quantidade de moradores que apresentaram a forma grave da covid-19. Na Cohab, já se confirmaram 18 mortes causadas pela doença, o que eleva a letalidade para 17,6% - quase o triplo do índice de Boa Viagem.

“Uma pandemia como esta afeta indiscutivelmente mais a população pobre. É preciso que todos se conscientizam que a situação é crítica e, apesar de ser mais dura para as pessoas com condições socioconômicas menores, ela não deixa de dilacerar vidas e gerar sofrimento em pessoas com melhores condições”, salientou o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, em coletiva de imprensa online realizada no último dia 8.

Enquanto nos bairros mais nobres do Recife, as ruas são visivelmente mais vazias, um movimento frequente e diário se observa em vias de outras localidades, onde o distanciamento social se torna difícil pelo tamanho das casas e por causa da falta de comida. Muitos vão às ruas questões de sobrevivência, para sustentar a família levando alimento para casa, mas há outros que desrespeitam mesmo a quarentena proposta. É nesse ponto onde as autoridades governamentais e municipais precisam atuar e fazer uma maior vigilância.

Na manhã desta terça-feira (12), em Casa Amarela, Zona Norte do Recife, as ruas próximas à feira livre estavam cheias. O bairro tem uma letalidade alta, de 7,5%, o que mostra que, a cada 100 pessoas que fazem a forma grave da covid-19, pelo menos sete vão morrer. Na Zona Oeste, Iputinga e Várzea também preocupam, com letalidade de 10,1% 9,8%, respectivamente, e com presença expressiva de pessoas circulando nas vias. Saindo da capital a caminho de outros municípios do Grande Recife onde a quarentena rígida, decretada pelo Governo de Pernambuco, foi implantada, constatam-se também baixos índices de isolamento. É o caso de Jaboatão dos Guararapes, Camaragibe, Olinda e São Lourenço da Mata.

Pelo teor da quarentena, para esses grupos que continuam a sair de casa, será dada uma orientação para retornarem às suas casas, quando ocorrer fiscalização. Para aqueles que precisam mesmo se deslocar, o recomendado é manter o distanciamento e utilizar máscara. O decreto da quarentena não alterou o funcionamento das feiras e mercados, que permanecem abertos. São locais onde mais se observam aglomerações.

Em nota, a Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano da Prefeitura do Recife informou que faz fiscalizações diárias em esquema de rondas em todas as regiões da cidade, vistoriando estabelecimentos comerciais, obras e comércio de rua. “São realizadas diariamente fiscalizações nos 20 mercados públicos municipais e nos oito pátios de feiras, além de feiras livres e seus arredores, orientando comerciantes e população sobre a importância do cumprimento das medidas restritivas, do distanciamento físico e do isolamento social”, diz a secretaria.

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