Se levarmos em consideração isoladamente o recorte do número de pessoas com diagnóstico confirmado de covid-19, dia após dia em Pernambuco, assistimos a um declínio diário no volume de novos infectados. Essa visualização dos dados, contudo, exige cautela e deve ser interpretada no cenário de incertezas imposto pela pandemia. Apesar de o Estado ter apresentado queda no número de doentes nos últimos quatro dias (saiu de 1.849 novos casos no último dia 22 para 488 na terça-feira, 26), autoridades de saúde, médicos, sanitaristas, epidemiologistas e bioestatísticos avaliam que é precoce afirmarmos que deitamos a curva epidêmica. Ou seja, precisamos de mais alguns dias para falar se há (ou não) desaceleração da disseminação em Pernambuco.
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“Há uma indicação de que o número de internações tenha diminuído nos últimos dias, mas ainda são dados preliminares. Não dá para dizer que é uma tendência permanente. Estamos avaliando o tempo inteiro esse cenário. Essa é uma doença nova, e estamos aprendendo com ela a cada momento. Estudos recentes mostram que a covid-19 não se comporta com um pico único; ela se comporta em ondas, geralmente de aumento e redução de casos mediados principalmente pelas medidas de isolamento social”, explicou o secretário de Saúde do Recife, Jailson Correia, na terça-feira (26), em coletiva de imprensa online.
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Projeções feitas em abril apontavam maio como um mês difícil no que se refere ao enfrentamento da epidemia no Estado. De fato, está sendo duro acompanhar a dinâmica da assistência hospitalar, que continua a sentir a pressão que a covid-19 faz na disponibilidade de leitos de unidade de terapia intensiva (UTI). Mesmo com a queda de casos confirmados a partir do sábado (23), a rede estadual de saúde continua a trabalhar no limite em relação à disponibilidade de vagas de terapia intensiva. Ontem permaneciam ocupados, com pacientes que têm diagnóstico confirmado e outros ainda com suspeita de covid-19, 98% dos 615 leitos de UTI administrados pela Secretaria Estadual de Saúde (SES). Além disso, na segunda-feira (25), a fila de espera por vagas de terapia intensiva, no Estado, chegava a cerca de 180 doentes, segundo informou a secretária-executiva de Vigilância em Saúde de Pernambuco, Luciana Albuquerque. Só isso já retrata o quanto ainda não é tempo de se comemorar a queda no gráfico de novos casos diários.
“Nós precisamos nos preparar para o médio e longo prazos. Enquanto a doença e a epidemia persistirem, nós precisaremos viver momentos de aumento de número de casos mediados com as medidas de isolamento social para diminuir a transmissão, o que pode acontecer eventualmente no processo de abertura progressiva, planejada e gradual das atividades. Se houver novo aumento (nesse cenário), precisaremos tomar novas medidas”, esclareceu Jailson Correia.
Professor do Programa de Pós-Graduação em Informática Aplicada da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Jones Oliveira de Albuquerque explica que a oscilação no número de casos que acompanhamos nos últimos dias no Estado lembra o que já ocorreu no Reino Unido, França, Estados Unidos e Espanha. “Os gráficos desses países, no meio da pandemia, sofreram acelerações e desacelerações como estas que estamos vivendo agora em Pernambuco”, frisa Jones. Ele acrescenta que o Reino Unido já teve quatro oscilações grandes, que saíram de 1.100 para 480 óbitos. “As pessoas começaram a comemorar e, logo depois, esse gráfico voltou para 1.180 mortes. Por isso, é muito cedo para fazermos qualquer prognóstico para o nosso Estado”, conclui o professor.
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