"Julho não seria o momento" para o retorno às aulas em Pernambuco, alerta especialista

Para o médico Eduardo Jorge Fonseca, vice-presidente da Sociedade de Pediatria de Pernambuco, os indicadores atuais ainda não oferecem a segurança necessária para afirmar que o próximo mês pode ser um momento de retorno das aulas

Cinthya Leite
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Cinthya Leite
Publicado em 19/06/2020 às 8:00 | Atualizado em 19/06/2020 às 8:03
BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
Antes, os donos das instituições defendiam o retorno a partir do dia 17 deste mês, mas agora não falam mais em uma data - FOTO: BOBBY FABISAK/JC IMAGEM

Após completados três meses de suspensão das aulas presenciais em Pernambuco devido à epidemia do novo coronavírus, a discussão para o retorno às escolas em julho começa a ser ampliada, principalmente devido à tendência de estabilização da curva epidêmica no Estado. Para o médico Eduardo Jorge Fonseca, vice-presidente da Sociedade de Pediatria de Pernambuco, os indicadores atuais ainda não oferecem a segurança necessária para afirmar que o próximo mês pode ser um momento de retorno das aulas para as crianças, especialmente quando se fala sobre aquelas que têm menos de 5 anos de idade. “Diria sem medo que aguardaria mais quatro semanas, após a abertura do comércio, para analisar o comportamento de número de casos. Ainda estamos com uma curva sustentada de casos novos no Estado”, destacou Eduardo Jorge nesta entrevista à jornalista Cinthya Leite.

JORNAL DO COMMERCIO – Com a tendência da estabilização da curva da covid-19 em Pernambuco, há expectativa para retorno das aulas presenciais de escolas particulares em julho, primeiramente com turmas de educação infantil e de 3º ano do ensino médio. Como o senhor avalia isso?

EDUARDO JORGE FONSECA – É um tema bem complexo. Precisamos considerar alguns aspectos, como a socialização das crianças pequenas – algo que realmente fica perdido sem aulas presenciais, e o desenvolvimento de habilidades motoras, cognitivas dos menores de 5 anos, que se refere a um ponto mais difícil de ser trabalhado online. Por outro lado, é complicado manter essas crianças em isolamento social. Mas, com a retomada das aulas nas escolas, como será possível garantir que as crianças não vão se abraçar, não jogarão bola e não irão ao parquinho? Temos a convicção de que as crianças são protegidas da covid-19 pela ausência ou pela menor quantidade do receptor ACE-2 (células que revestem o nariz dos pequenos têm menor quantidade de receptores ACE, considerados um facilitador para entrada do vírus). Por isso, elas não fazem quadro grave. Entretanto, isso não vale para todas. Há um quantitativo que pode ter risco, especialmente aquelas com comorbidade (doença preexistente), como cardiopatia e pneumopatia – nesse ponto, entra a asma, que é extremamente comum.

JC – Como seria o cenário de retomada das aulas presenciais para os pequenos?

EDUARDO JORGE – É preciso fazer o balanceamento entre a perda de desenvolvimento social e de habilidades (com o isolamento social) versus os riscos (com a volta aos colégios) em menores de 5 anos. A gente tem recomendando que as escolas tomem todas as medidas para obrigar os maiores de 2 anos a usar máscaras, lavar as mãos duas ou três vezes por turno, trocar a máscara na hora em que for comer, ensinar a colocá-la, não fazer esporte coletivo e só atividades ao ar livre, sem ar-condicionado. De preferência, os parquinhos deveriam ser interditados, pois não acredito que se vá conseguir limpar corrimão e balanço após cada uso. Isso é uma conversa que não é factível do ponto de vista prático. Temos uma realidade diferente da Dinamarca, que escolheu (para a retomada do ano letivo) o último ano, de preparatório para o vestibular, e os pequenininhos, cujos pais precisaram voltar a atividades presenciais no trabalho. Mas isso é um cenário na Dinamarca, e não de um país chamado Brasil. Então, vejo com preocupação (essa discussão de retomada em julho) em Pernambuco, com um quantitativo de casos ainda graves. As pessoas estão aparentemente tranquilas devido a vagas de UTI (unidade de terapia intensiva) e de enfermaria que foram abertas. Isso passa falsa segurança. Não estamos mais com aquele risco de ter uma fila de 300 pacientes esperando um leito; há vagas em todas as UTIs atualmente, mas isso não significa dizer que a situação está controlada. Então, acredito que julho não seria um momento para o retorno das aulas dos pequenininhos.

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JC – O maior cuidado deve ser com menores de 5 anos?

EDUARDO JORGE – Com eles, eu me preocupo porque não há um quantitativo suficiente de professores que possa tomar conta deles intensamente (para monitorar os hábitos de higiene e de socialização, por exemplo). Os maiores, do ensino fundamental, por volta do 6º ano, até se dão bem com o ensino online e não precisam de atividades motoras externas para o aprendizado. Mas não precisariam retornar (em julho); talvez, o aprendizado não fosse tão prejudicado.

JC – É difícil pensar nesta volta em julho, não é?

EDUARDO JORGE – Acredito que precisamos ter um comportamento de uma curva mais tranquila; não estou falando de (mais) leitos de UTI, mas de (um menor) número de casos novos. Precisamos ver se, com a abertura do comércio, vamos ter ou não uma segunda onda. Diria sem medo que aguardaria mais quatro semanas, após a abertura do comércio e de shoppings, para ver o comportamento de número de casos. Ainda estamos com curva sustentada de casos novos.

JC – Juntando os últimos três dias, tivemos mais de 3 mil casos novos de covid-19 confirmados em Pernambuco. O boletim epidemiológico aponta que a maioria é de pessoas com sintomas leves...

EDUARDO JORGE – Ou seja, são mil pessoas por dia se infectando. São mil novos infectados por dia, e nós ainda não estamos sentindo os efeitos da retomada de alguns serviços. Eu acharia bem mais prudente aguardar mais quatro semanas de estabilidade de casos novos para a gente discutir com segurança o retorno à escola. Sabemos que o ônus econômico é importante (para as escolas); pais estão pagando menos, os professores continuam recebendo salário, as escolas estão com dificuldades, especialmente as pequenas. Entendemos tudo isso. Mas fico preocupado com algumas questões na faixa etária entre 2 e 5 anos de idade, como o manuseio adequado da máscara. Além disso, eles são muito acostumados a abraçar os colegas quando chegam à escola e quando vão largar. É muito difícil, mesmo com todas as orientações dadas. Ainda não é confortável a situação epidemiológica de Pernambuco para afirmarmos às famílias que os filhos vão (voltar) para as escolas.

JC – Como ficariam os alunos do ensino médio?

EDUARDO JORGE – Eles conseguem manter um afastamento social adequado na sala. Para eles, pode-se pensar numa intercalada das atividades presenciais com as aulas a distância. Ou seja, a metade da turma vem um dia presencialmente, e a outra metade fica em casa com aulas remotas. Se mantiver um distanciamento de 1,5 metro entre esses alunos maiores, além de trabalhar o uso álcool em gel com segurança, avalio que se pode pensar nessa volta.

JC – E as turmas dos primeiros anos do ensino fundamental, de 6 a 10 anos?

EDUARDO JORGE – Para elas, fica mais fácil trabalhar orientações de segurança, pois conseguem entender (as orientações) se tudo for trabalhado com uma linguagem adequada para essa faixa etária. Mas (nessa faixa etária) a plasticidade cerebral (capacidade de mudar e se adaptar) é tão grande que eu não me preocuparia com aprendizado neste ano de 2020. Sei que essas crianças recuperam rapidamente o que perderam de aprendizado. Não serão meses que atrasarão esse processo. Com a incorporação das medidas preventivas, eu creio que é possível a volta (à escola) nessa faixa etária, sabe? Porque um dia isso terá que acontecer. Agora, eu me sentiria mais confortável se isso fosse um pouquinho mais adiado para que pudéssemos ver o efeito epidemiológico da reabertura de vários locais que estavam fechados. As pessoas estão indo para as ruas agora, e não estamos tão confortáveis em Pernambuco para dizer que as crianças vão voltar em julho (para as escolas).

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O que é coronavírus?

Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China.Os primeiros coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa.

A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem com o tipo mais comum do vírus. Os coronavírus mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1.

Como prevenir o coronavírus?

O Ministério da Saúde orienta cuidados básicos para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o coronavírus. Entre as medidas estão:

  • Lavar as mãos frequentemente com água e sabonete por pelo menos 20 segundos, respeitando os 5 momentos de higienização. Se não houver água e sabonete, usar um desinfetante para as mãos à base de álcool.
  • Evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas.
  • Evitar contato próximo com pessoas doentes.
  • Ficar em casa quando estiver doente.
  • Cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar com um lenço de papel e jogar no lixo.
  • Limpar e desinfetar objetos e superfícies tocados com freqüência.
  • Profissionais de saúde devem utilizar medidas de precaução padrão, de contato e de gotículas (mascára cirúrgica, luvas, avental não estéril e óculos de proteção).

Para a realização de procedimentos que gerem aerossolização de secreções respiratórias como intubação, aspiração de vias aéreas ou indução de escarro, deverá ser utilizado precaução por aerossóis, com uso de máscara N95.

Confira o passo a passo de como lavar as mãos de forma adequada

 

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