Mulheres, adultos jovens (20 a 59 anos) e negros. Esse é o perfil da maioria dos casos leves do novo coronavírus em Pernambuco, segundo análise feita com base nos dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES). Um retrato sobre o total de 98.401 casos detectados do novo coronavírus, ao longo de quase cinco meses de epidemia no Estado, revela que 75,8% são confirmações de pessoas que apresentaram sintomas leves da doença. Outros 24,2% são de pacientes que evoluíram com a forma grave da infecção, o que geralmente exige internamento em leito de enfermaria ou unidade de terapia intensiva (UTI). As primeiras impressões sobre o perfil de casos, em fevereiro, com base nos registros da China, já traziam essa representação. A questão é que cada epidemia, e não é diferente com a covid-19, tem suas particularidades ligadas à maneira com que cada população vive. A pandemia toma forma de acordo com fatores comportamentais, biológicos e sociais de cada grupo.
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Em Pernambuco, como mostrou reportagem publicada no domingo (2) nesta coluna Saúde e Bem-Estar, o novo coronavírus é mais letal nos homens (representa 55,2% das mortes) do que nas mulheres, embora ambos os sexos adoeçam pela forma grave em mesma proporção: 50%,5% dessas confirmações são em homens, e 49,5% mulheres. Mas são elas quem predominam entre os 74.589 casos leves: 55,6% são mulheres e 44,4% são homens. Então, o sexo seria um dos fatores relacionados com a evolução da covid-19? Não se chegou a um consenso ainda sobre essa questão, mas o que se sabe é que, tomando como base as atitudes que as mulheres têm diante dos cuidados em geral com a saúde, elas tendem a ser menos suscetível a complicações severas da infecção. Por serem mais preocupadas com o autocuidado, elas estariam mais preparadas organicamente a responder às ameaças do novo coronavírus.
"Ainda não temos uma resposta definitiva. Provavelmente as causas comportamentais são muito importantes. Sabe-se que homens realizam menos o autocuidado e têm mais doenças crônicas como diabetes e hipertensão. Essas são comorbidades que têm sido relacionadas a uma proporção importante dos óbitos por covid-19", esclarece o médico sanitarista Tiago Feitosa, doutor em Saúde Pública. Ontem agentes de saúde da Prefeitura do Recife começaram a visitar casas de pessoas dos grupos de risco da doença no bairro de San Martin e outros da Zona Oeste da cidade, a fim de evitar que essas pessoas sejam infectadas e apresentem complicações.
O médico Tiago Feitosa acrescenta ainda que, em linhas gerais, por questões culturais, os homens circulam mais e ainda estão presentes numa frequência maior do que as mulheres no mercado de trabalho, o que exige deslocamento e maior exposição em áreas onde o risco de transmissão tem se mostrado mais alto.
Já em relação à faixa etária, os casos leves ganham notoriedade dos 20 aos 59 anos, representando 80,7% dos registros desse tipo em Pernambuco. A partir dos 60 anos, grupo que predomina entre os casos graves da doença, a frequência de casos leves é de 12,2%. No público infantojuvenil (0 a 19 anos), 7,1% tiveram sintomas amenos da infecção. Esses dados denotam o quanto a idade têm realmente um papel importante na gravidade da doença. É por isso que, mesmo os mais jovens, especialmente que vivem com idosos no mesmo lar, não devem menosprezar os cuidados fora de casa. As medidas são essenciais para que eles não se tornem vetores da doença para os mais velhos.
"Não dá para ninguém se sentir seguro com um cenário em que se tem, no Estado, a cada hora, duas ou três pessoas enterradas vítimas da covid-19, segundo dados oficiais. E a cada hora, 60 a 70 cidadãos são infectados pelo vírus", adverte a médica epidemiologista Ana Brito, da Fiocruz Pernambuco.
Um recorte sobre as mortes, os casos graves e leves pelo novo coronavírus em Pernambuco ainda traz à tona que o fator raça/cor é o mesmo nas três condições. A maioria é formada por negros nas análises: eles estão em 77% dos óbitos, em 77,2% dos quadros severos da doença e em 58,6% dos casos leves.
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