A percepção de aumento dos novos casos de covid-19, sinalizada nas duas últimas semanas em Pernambuco, começa a aparecer nos indicadores da assistência hospitalar e a mobilizar o sistema de saúde. Pelos dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES), divulgados no boletim epidemiológico de ontem, 79% dos 786 leitos de terapia intensiva (UTI) e 54% das 833 vagas de enfermaria estão ocupados com pacientes que apresentam síndrome respiratória aguda grave (srag) com suspeita ou confirmação da infecção pelo novo coronavírus. Desde o início da pandemia, autoridades de saúde têm alertado para o fato de que todo índice de ocupação de leitos a partir de 80% denota uma zona de criticidade e exige capacidade de resposta. Perto disso no que tange às UTIs, o Estado diz, através da assessoria de comunicação da SES, que tem acompanhando os indicadores e que a taxa entre 80% e 85% ainda oferece margem de segurança para um possível aumento mais intenso de casos.
É fato que, após o pico da pandemia, centenas de leitos foram desativados pela queda no volume de pacientes que exigiam um cuidado especializado para quadros respiratórios. Há um mês (3/10), o Estado tinha 903 vagas de UTI para pacientes com suspeita ou confirmação de covid-19. Entre elas, 68% estavam ocupadas. Em números absolutos, permanece praticamente uma quantidade igual de pacientes internados em terapia intensiva. Também um mês atrás, em relação a enfermarias, Pernambuco tinha 1.185 leitos, e 33% estavam com pacientes. Ou seja, comparando com o cenário atual (54% das 833 vagas ocupadas), mais pessoas estão hoje em vaga desse tipo no Estado.
Os leitos de UTI geridos pela Prefeitura do Recife também estão ocupados com um maior número de pacientes, em comparação com um mês atrás. O Hospital Provisório Recife 1, localizado na Rua da Aurora, em Santo Amaro, área central do Recife, estava nessa terça-feira (3) com 80 pessoas em terapia intensiva, com sintomas de covid-19. No dia 3 de outubro, a unidade estava com 45 pacientes. Houve incremento também nas vagas de enfermaria da prefeitura: de 59 ocupadas, passou-se para 67 no mesmo período. Esse cenário reflete o quanto os casos de srag já mobiliza as unidades de saúde. Um olhar apenas para os casos graves da doença na capital apontam um leve aumento na comparação entre setembro e outubro, com 146 e 155 casos respectivamente.
Ainda assim, com base nos casos gerais (somando leves e graves) confirmados do novo coronavírus, o Recife anunciou nessa terça que outubro foi o mês com menor número de pessoas infectadas (2.001) e óbitos (a prefeitura diz que foram registrados 23, e a soma das confirmações de mortes dos boletins de do mês passado aponta para 72 mortes no total) em decorrência de complicações da infecção na cidade. "A gente teve também o menor número de óbitos registrados por covid, que representam 3% do número de mortes ocorridas no mês de maio. Mas é muito importante que a prevenção continue; nós estamos com 130 agentes fazendo a sanitização e já fizeram quase 120 mil visitas. É muito importante que a população continue tomando também todos os cuidados, a limpeza das mãos, o uso do álcool e uso permanente da máscara. É fundamental que todos utilizem a máscara para continuar controlando a covid em nossa cidade", declarou o prefeito Geraldo Julio.
Diferentemente dos balanços feitos em meses anteriores, a prefeitura não divulgou o acumulado dos números de outubro referentes aos atendimentos nas unidades de referência da atenção básica para covid-19. Na comparação de setembro com agosto, a queda foi de 36%. A reportagem do JC questionou a assessoria de comunicação da Secretaria de Saúde do Recife (Sesau) sobre o comparativo de outubro com setembro. Como resposta, recebeu a informação de que não tinha o dado em mãos e que não conseguiu contato com a área técnica. Ainda questionamos a falta da análise dos indicadores do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência no balanço mensal da gestão municipal sobre a covid-19. A Sesau informou não ter conseguido os dados.
Em reportagem publicada, no último dia 28, neste JC, foi publicado o aumento nos indicadores de chamados do Samu a casos suspeitos da infecção pelo novo coronavírus. "A gente começa a perceber uma mudança. Os números estão aumentando, embora não seja ainda uma subida sustentada. Pelo comportamento da doença, e o mundo tem mostrado isso, a segunda onda é praticamente inevitável. Apesar de falarmos tanto que a pandemia não acabou, porque ainda há transmissão comunitária, as pessoas cada vez mais não acreditam nisso e acabam negligenciando os cuidados", destacou, na última semana, o médico Leonardo Gomes, diretor-geral do Samu Metropolitano do Recife.
Estado e Prefeitura do Recife têm falado que o atual momento é de flutuações de casos, o que pode ocorrer após passado o pico da pandemia. Por enquanto, os indicadores mostram que não se trata de segunda onda da covid-19, até porque estamos com números bem menores do que tivemos no auge da pandemia, em maio. Mas os dados do momento são maiores do que a fase em que houve tendência de queda ou estabilidade. "Durante o processo de convivência (com a covid-19), flutuações podem acontecer, porque o vírus continua circulando de forma sustentada no Estado. Mas até agora essas oscilações estão dentro de um patamar de controle, sem tendência clara de aumento ou de uma segunda onda. Dessa forma, não podemos tomar medidas pela impressão de apenas uma semana. Precisamos ter a configuração de tendência em períodos maiores", destacou o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, em coletiva de imprensa na última quinta-feira (29).
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