Após vacinar 100% da população, Fernando de Noronha inicia testes de imunidade contra a covid-19
A ilha foi a primeira localidade pernambucana a vacinar toda a população acima de 18 anos com a primeira dose do imunizante, e possui alto nível de exposição à doença por ser um destino turístico
Os cerca de 3 mil moradores do arquipélago de Fernando de Noronha começarão a ter a imunidade contra o novo coronavírus testada nesta quarta-feira (14), em primeira etapa da nova fase do estudo "Incidência e prevalência da COVID-19 no Arquipélago de Fernando de Noronha", em pesquisa aprovada pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), do Conselho Nacional de Saúde. A ilha foi a primeira localidade pernambucana a vacinar 100% da população acima de 18 anos com a primeira dose do imunizante, e possui alto nível de exposição à doença por ser um destino turístico.
O exame será feito através de coleta de sangue com análise do IgG por sorologia (de sangue) com medição quantitativa dos anticorpos contra o domínio de ligação ao receptor (RBD) da proteína spike do SARS-COV-2. O estudo acontecerá em três etapas. A primeira se inicia nesta quarta. A segunda coleta ocorrerá em setembro, 28 dias após a segunda dose da vacina. A última vai ser em fevereiro de 2022, seis meses após a segunda dose.
Todo material colhido em Noronha será enviado para processamento na Fundação de Hematologia e Hemoterapia de Pernambuco (Hemope), no Recife. Os kits para a realização dos testes foram disponibilizados pela Fiocruz e estão aguardando apenas a coleta do sangue da população para a pesquisa começar a ser, de fato, realizada.
Para fazer parte do estudo, o morador acima de 18 anos deve comparecer ao hospital de campanha do arquipélago, localizado no bairro da Floresta Velha (ao lado da Escola Arquipélago), fazer o cadastro e, em seguida, a coleta do sangue. O atendimento, que vai durar dez dias, será das 9h às 12h e 14h às 17h, durante a semana. Aos sábados, o atendimento começa às 8h e vai até às 12h. Os novecentos participantes da pesquisa realizada ao longo de 2020, que encerrou em maio passado, vão continuar também neste novo estudo, segundo a administração da ilha.
“Esse novo estudo é uma oportunidade ímpar para podermos avaliar o impacto dessa vacinação em massa do ponto de vista da imunologia humoral e celular. Será importante para sabermos se houve algum caso de adoecimento (casos graves ou leves) ou não, mesmo após a vacina, e comparar com os níveis e os índices da presença dos anticorpos e da imunidade nas pessoas”, diz Mozart Sales, especialista da Secretaria Estadual de Saúde e coordenador do Termo de Cooperação entre a Secretaria e a Organização Pan-Americana da Saúde.
Mozart reforça que os testes dessa nova fase serão ainda mais completos, porque vão incorporar também a imunidade celular, e que os resultados podem trazer resposta ao Brasil e ao mundo sobre quais medidas sanitárias devem ser adotadas.
"A partir desse acompanhamento casado entre imunologia e epidemiologia populacional, será possível ter com mais precisão a verificação do adoecimento por Covid mesmo depois da aplicação da vacina e as condições em que isso se deu, percebendo se os anticorpos caem ou não ao longo do tempo e com isso tentarmos entender o que deve ser feito do ponto de vista da prevenção ao risco de adoecimento em pessoas vacinadas", explica.
Fernando Magalhães, superintendente de Saúde da ilha, diz que além de ser um tipo de teste moderno e de difícil acesso em laboratórios particulares, por conta justamente da medição da imunidade humoral e celular, vai garantir a possibilidade da população noronhense verificar o atendimento do protocolo de entrada com o teste de IgG.
“A participação da população no estudo é importantíssima. Como vão ser três fases, esse período de extensão vai dar praticamente essa comprovação sobre a titulação do IgG para a população até meados de março do próximo ano, evitando que toda vez que o morador saia para o continente, tenha que fazer o teste RT-PCR. O nosso protocolo vai passar por algumas alterações de entrada na ilha. Mas, para quem tem o IgG, vai permanecer a mesma coisa”, destaca o superintendente.
Para Guilherme Rocha, administrador da ilha, a realização desse tipo de estudo em Noronha é uma forma de garantir que tanto a população, quanto os turistas que visitam Noronha tenham mais tranquilidade, sabendo que estão em um local onde a doença está controlada.
“Desde o início da pandemia, com todas as medidas que tomamos de prevenção para combater o coronavírus, a nossa preocupação sempre foi com a saúde e a vida das pessoas. Agora, depois de conseguir vacinar toda a população, continuamos com o mesmo pensamento de proteção ao ilhéu e também aos turistas, porque a pandemia ainda não acabou. O estudo, além de proporcionar respostas científicas importantes, nos possibilitará novas perspectivas para o acompanhamento das atividades turísticas, o funcionamento das atividades econômicas e para o dia a dia dos noronhenses, além de sermos exemplos para outros lugares que estão no combate à pandemia”.