Com queda na ocupação das UTIs e dos indicadores da covid, médicos relatam aumento no número de cirurgias eletivas em Pernambuco
A liberação para as cirurgias eletivas teve início no último dia 1º, quando o governo de Pernambuco avançou no plano de convivência, devido à continuidade na queda de casos do coronavírus
Com a recente autorização da retomada, em Pernambuco, da realização de cirurgias e procedimentos eletivos (aqueles que podem ser adiados e/ou reprogramados sem prejuízo à saúde do paciente), médicos já percebem um aumento no volume de intervenções que estavam suspensas desde março deste ano, mês em que se iniciou a segunda onda de covid-19 no Estado.
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A liberação para as operações teve início no último dia 1º, quando o governo de Pernambuco avançou no plano de convivência, devido à continuidade na queda de casos do coronavírus. Antes disso, estavam permitidos apenas os procedimentos com anestesia local, sem necessidade de intubação e internação hospitalar.
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Entre as especialidades que mais tiveram cirurgias suspensas, está a cirurgia plástica, que somou uma série de cancelamentos de procedimentos não emergenciais de março deste ano até junho. "Foram quase 80 dias sem cirurgias, somados aos 90 dias do ano passado. Na nossa área, de 95% a 98% dos procedimentos, são eletivos, adiáveis, sem pressa para serem realizados. Mas agora, com a queda dos casos de covid, temos retomado as cirurgias. Tenho feito pelo menos uma por dia", diz o cirurgião plástico Pedro Pita.
Ao longo do período de suspensão das cirurgias eletivas, o médico conta que fez apenas de cinco a dez procedimentos em pacientes que foram internados por terem complicado em decorrência do coronavírus e que, após a recuperação da fase aguda da doença, permaneceram com úlcera por pressão (ferida que aparece quando a pessoa fica muito tempo deitada na mesma posição). "Nesses casos, havia uma necessidade médica que não poderia ser adiada. Mas agora, neste momento de retomada, já voltamos a realizar cirurgias plásticas nas mamas e lipoaspiração, entre outras", destaca Pita.
A assistente social Jéssica Alline de Melo e Silva, 32 anos, é uma das pacientes que aguardaram a queda dos indicadores da pandemia no Estado para se submeter a um procedimento cirúrgico. Ela foi operada no último dia 15. "Coloquei uma prótese mamária. Fiz uma consulta no começo do ano e fiz todos os exames. Mas foi preciso aguardar a liberação para fazer a cirurgia com segurança. Aguardei tranquilamente, pois sabia que isso era necessário para evitar o risco de contaminação", relata Jéssica, que já recebeu as duas doses da vacina contra a covid-19. "Minha cirurgia foi bem tranquila. Só passei um dia no hospital. Estou feliz e satisfeita porque fiz um procedimento que queria há muito tempo."
Na cirurgia urológica, os procedimentos emergenciais e essenciais não foram suspensos. Mas atualmente os cirurgiões dessa especialidade percebem que os blocos cirúrgicos voltaram a ficar lotados. "Há um grande movimento nos hospitais. Por vezes, temos até dificuldade para fazer o internamento imediato e precisamos aguardar liberação", diz o médico urologista Misael Wanderley Junior.
Outro tipo de procedimento cuja realização caiu durante a pandemia foram as cirurgias bariátricas, indicada no tratamento da obesidade. Houve uma queda em 70% no número de procedimentos desse tipo realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no último ano, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM). Alguns hospitais, mesmo com a suspensão das eletivas, continuaram a realizar esse tipo de intervenção, já que o Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou recomendação que dispõe sobre a continuidade das cirurgias bariátricas e metabólicas eletivas no período da pandemia da covid-19.
"A obesidade é uma doença grave que, por si só, pode agravar os quadros de covid-19, inclusive em pacientes jovens. Então, a bariátrica não deve ser vista como uma cirurgia estética", frisa o presidente da SBCBM/Regional Pernambuco, Guilhermino Nogueira.
O médico destaca ainda que a cirurgia bariátrica foi classificada este mês, pelo Ministério da Saúde, como um dos procedimentos eletivos essenciais e que deverá ser priorizada na saúde pública e suplementar com retomada dos procedimentos em até 12 semanas. A recomendação integra as Diretrizes da Atenção Especializada no Contexto da Pandemia de Covid-19, publicada pela pasta no último dia 7. A inclusão da cirurgia para o tratamento da obesidade no documento veio dos esforços da SBCBM, pois milhares pacientes precisam ser operados devido ao agravamento de comorbidades associadas ao excesso de peso.
Apesar de as cirurgias eletivas terem sido retomadas, o governo de Pernambuco frisa que a realização delas fica condicionada à disponibilidade de leitos, insumos e medicamentos utilizados para intubação dos pacientes na unidade onde será feita a intervenção cirúrgica. "Dessa forma, as unidades devem estabelecer medidas de gestão que possibilitem a organização dos fluxos e garantam a retomada dos serviços assistenciais eletivos de forma gradativa, com cronograma estabelecido adequado ao contexto e a especificidade de cada unidade", informa a Secretaria Estadual de Saúde (SES). Segundo o órgão, não é possível quantificar quantas cirurgias eletivas já foram realizadas desde 1º julho, pois os dados só são consolidados em dois meses no sistema.
A SES ainda acrescenta que, nas unidades que precisarem manter medidas restritivas devido aos atendimentos relacionados à covid-19, os servidores públicos poderão ser mantidos em outras atividades no âmbito da assistência hospitalar ou teletrabalho.