O mês de dezembro começou com milhares de casos de influenza A no Rio de Janeiro, e essa epidemia de gripe surpreende especialistas porque iniciou em plena primavera e já se dissemina a outros Estados às vésperas do verão. Mesmo com uma vigilância em saúde reconhecida pelo trabalho de detectar problemas que oferecem riscos à população, Pernambuco só confirmou e divulgou o primeiro caso de influenza A (o tipo responsável pela epidemia atual em alguns Estados brasileiros, além do Rio de Janeiro) de 2021 oito dias após um laboratório privado ter liberado o resultado positivo do paciente. Outro detalhe importante é que a investigação só foi iniciada porque a esposa dele fez contato com o Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde de Pernambuco (Cievs/PE) para informar sobre os sintomas gripais e diagnóstico do marido.
A Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou que o laboratório privado não fez a comunicação, ao Cievs/PE, sobre o resultado do paciente, o que deveria ter ocorrido, mesmo o teste sendo feito num serviço particular. Por outro lado, mesmo diante do cenário atual de epidemia de influenza em alguns Estados brasileiros, decorrente de nova cepa (H3N2 Darwin), a secretaria não divulgou nota técnica às unidades de saúde, a fim de alertar sobre a necessidade de os serviços notificarem a ocorrência de casos ao Cievs/PE.
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"As ocorrências começaram a ser analisadas pelos Cievs após contato da mulher de 48 anos com o centro. Ela relatou que o marido, o homem de 48 anos, teve contato com trabalhadores vindos de São Paulo que estavam com sintomas gripais. Ele começou a apresentar sintomatologia em 7 de dezembro, tendo realizado exame em laboratório privado. O resultado, liberado em 10 de dezembro, foi positivo para influenza A não subtipada e negativo para covid-19", divulgou, em nota, a Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES) no último sábado (18), oito dias após o teste positivo.
Desde o dia 9 de dezembro, em coletiva de imprensa, o JC questiona a SES sobre a ocorrência de influenza no Estado. Naquela data, o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, garantiu que a vigilância epidemiológica não tira de vista os resultados das amostras de vírus respiratórios. "Temos feito uma amostragem bem significativa, pois toda a testagem de srag (síndrome respiratória aguda grave) e dos nossos centros de testagem tem considerado todo o painel viral, que inclui também análise para influenza. E a gente não tem visto realmente a ocorrência de gripe aqui no Estado", disse o secretário naquela ocasião.
Na última sexta-feira (17), um dia antes de a SES divulgar os primeiros casos de H3N2 no Estado, a reportagem voltou a questionar o Estado sobre possíveis casos de influenza, após médicos terem relatado aumento no número de pessoas com sintomas gripais compatíveis com a cepa H3N2 Darwin, nas unidades de saúde, que não positivaram para covid-19. "Continuamos sem detecção de influenza", disse a secretária-executiva de Vigilância em Saúde da SES, Patrícia Ismael, no dia 17. No entanto, no sábado (18), a SES anunciou os três primeiros casos do ano de H3N2, dias após o vírus já circular em Pernambuco.
O que teria ocorrido? Uma falha na vigilância? Questionada pelo JC, a secretaria informa que "a confirmação de determinadas doenças precisa ser realizada em laboratório reconhecido pelo Ministério da Saúde (MS), e a influenza é uma delas – no caso relatado, o resultado positivo do homem de 48 para a influenza A não subtipada foi em unidade privada, não reconhecida pelo MS, sendo necessária a investigação realizada pelos Cievs Pernambuco e Recife". Além disso, a SES destaca que "mantém canal aberto com os serviços de saúde, profissionais de saúde e a população em geral para receber informações de interesse sanitário e fazer a devida checagem. Por fim, ratifica que, ao ser informada dessa ocorrência pela mulher de 48 anos, uma profissional de saúde, realizou, em parceria com o município de residência dos pacientes, responsável pela investigação, todos os trâmites para averiguar a situação e dar a devida resposta à sociedade no menor tempo possível".
A declaração da SES causa estranheza porque a confirmação da influenza, segundo a pasta, não pode ser feita por um laboratório privado. Ou seja, há outros casos, detectados em unidades particulares, que possam ter escapado aos olhos da vigilância? Para a médica epidemiologista Ana Brito, pesquisadora da Fiocruz Pernambuco, não é necessário que uma confirmação tenha que ser feita por um laboratório público. "Muito pelo contrário: todas as unidades, todos os institutos de pesquisa, sejam do âmbito privado ou público, são obrigados a registrar o diagnóstico de uma doença de notificação compulsória. É evidente que há uma clara negligência, por parte dos gestores estaduais e municipais no enfrentamento de uma doença que já estava sendo anunciada, pois há uma conexão global. A influenza não era esperada para este momento no hemisfério sul, mas diante de explosão de casos no hemisfério norte, seria inevitável a gripe não chegar", destaca Ana Brito.
A epidemiologista ressalta que a vigilância em saúde é o primeiro serviço que tem que estar em alerta e preparado para identificação de casos, a fim de tentar inibir a disseminação de doenças, como a gripe, com barreira sanitárias. "É a mesma discussão que fazemos para a covid-19. A gente nunca vai impedir a introdução de um vírus de transmissão respiratória, mas é possível retardar a disseminação e diminuir bastante a transmissão entre as pessoas se houver uma rápida detecção. Dessa forma, pode-se orientar, em tempo oportuno, quem estiver com sintomas, em relação cuidados e medidas como distanciamento físico, uso de máscara, higienização de mãos e rosto", frisa.
Os casos notificados da gripe H3N2 em Pernambuco
A Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES) confirmou, no sábado (18), três casos de influenza A (H3N2). As ocorrências envolvem uma mulher de 38 anos, que trabalha no Recife e reside em Itambé, e outra de 48 anos, da capital pernambucana, que tiveram resultado laboratorial para o vírus, além de um homem de 48 anos, também do Recife, confirmado pelo critério clínico-epidemiológico. Todos apresentaram sintomas leves, como febre, tosse, dor de garganta e cabeça, fraqueza e dores nas articulações, e não precisaram de internação. "A investigação dos casos vem sendo realizada pelos Centros de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde de Pernambuco (Cievs/PE) e do Recife", diz a SES.
Segundo a secretaria, as ocorrências começaram a ser analisadas pelos Cievs após contato da mulher de 48 anos com o centro. Ela relatou que o marido, o homem de 48 anos, teve contato com trabalhadores vindos de São Paulo que estavam com sintomas gripais. Ele começou a apresentar sintomatologia em 7 de dezembro, tendo realizado exame em laboratório privado. O resultado, liberado em 10 de dezembro, foi positivo para influenza A não subtipada e negativo para covid-19.
A mulher de 38 anos, funcionária do casal e não vacinada para influenza, começou a apresentar os sintomas em 11 de dezembro, e a de 48, que confirma ter tomado a vacina, em 14 de dezembro. Ambas negam viagem. A coleta do material biológico ocorreu em 16 de dezembro, e a análise foi realizada pelo Laboratório Central de Saúde Pública de Pernambuco (Lacen-PE). Como ambas tiveram resultado laboratorial positivo para influenza A (H3N2), foi possível fechar o caso do homem também para a doença, pelo critério clínico-epidemiológico.
"Pernambuco tem um sistema de investigação epidemiológica ativo e que analisa permanentemente quais os vírus estão circulando no Estado. Ao receber esse relato, foram realizadas todas as medidas necessárias para entender do que se tratava a ocorrência. Esse achado só reforça a importância do uso da máscara e a higienização das mãos, atitudes que ajudam a evitar diversas doenças, como a influenza e a covid-19. Quem estiver com sintomas respiratórios também deve procurar fazer a testagem para a covid-19, além de se manter em isolamento durante o período sintomático", afirma o secretário Estadual de Saúde, André Longo.
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