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Baixíssima procura pela vacina de gripe revela que Pernambuco já esqueceu maior epidemia de influenza vivenciada há 4 meses

Já se passaram mais de 15 dias de campanha, e só 5% dos idosos foram imunizados contra a gripe em Pernambuco

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Cadastrado por

Cinthya Leite

Publicado em 20/04/2022 às 11:01 | Atualizado em 20/04/2022 às 16:19
Análise
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Todo o Estado de Pernambuco viu os casos de gripe aumentarem de forma acelerada entre dezembro e janeiro deste ano. Só de casos graves da doença, que precisaram de hospitalização, foram mais de 1,3 mil pessoas acometidas em pouco mais de 30 dias.

E infelizmente, desse total, 319 evoluíram para o óbito. A maioria (mais de 90% dos adoecimentos, em média) foi infectada pela nova cepa, a Darwin, que faz parte do tipo influenza A (H3N2).

Essa mesma cepa, que contribuiu para um aumento de casos de gripe em um período atípico no Estado, faz parte da composição da vacina oferecida durante a campanha de vacinação contra influenza, iniciada no último dia 4 de abril. Mas já se passaram mais de 15 dias de mobilização, e apenas 5% dos idosos, grupo que tem maior risco para ter formas graves da infecção, foram imunizados contra a gripe em Pernambuco. 

A taxa de cobertura vacinal também preocupa entre os trabalhadores da saúde, que estão extremamente expostos a agentes infecciosos, como vírus e bactérias. Entre eles, só 10% tomaram a vacina contra a influenza. 

O governo estadual e as prefeituras, responsáveis pela aplicação das vacinas, convocam a população, mas é preciso fazer mais, especialmente neste período em que tradicionalmente se inicia a sazonalidade (termo que se refere a uma determinada estação ou época) das infecções respiratórias no nosso Estado e demais localidades do Nordeste.

Campanha não é só informar o público de qualquer forma. Uma campanha de vacinação precisa fazer com que, independentemente dos meios, todas as ações conversem entre si em relação ao tom de voz, à mensagem, à identidade visual, a fim de criar um relacionamento com o público-alvo e sensibilizar em relação à causa - que, neste caso, é a importância da vacinação contra gripe. 

Estamos num momento em que há muita influência de notícias falsas que circulam nas redes sociais sobre imunização. As autoridades sanitárias precisam trabalhar para acabar com a percepção enganosa de que não é preciso mais vacinar porque a epidemia de gripe foi embora. Ainda há muitas pessoas susceptíveis à infecção, principalmente pela nova cepa: a H3N2 Darwin. Um exemplo é que, no ano passado, a cobertura vacinal contra a influenza em Pernambuco ficou abaixo de 80%, propiciando um grande contingente de pessoas vulneráveis ao adoecimento. 

Alerta sobre baixa adesão 

Na terça-feira (19), em coletiva de imprensa, o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, fez um alerta sobre a baixa adesão das campanhas de vacinação contra a influenza e sarampo, que ocorrem simultaneamente desde o dia 4 de abril. Segundo os registros feitos pelos municípios nos sistemas de informação, apenas 5% dos idosos, de um público total estimado em mais de 1,2 milhão de pessoas, foram imunizados contra a gripe em todo o Estado. E apenas 10% dos trabalhadores da saúde, de um público total estimado em 259.370 pessoas, tomaram a vacina contra a influenza. Ainda menor é a cobertura para o sarampo nos trabalhadores da saúde, que está em 8,6%. 

"Não podemos esquecer que vivenciamos, entre dezembro de 2021 e janeiro deste ano, a maior epidemia de influenza que o Estado já enfrentou. Foi pior até mesmo que os danos causados pela variante ômicron da covid-19. Então, fazemos um chamamento a todos os idosos acima de 60 anos para que procurem o posto de saúde mais próximo de suas casas para tomar a vacina contra a gripe", destacou Longo.

O Dia D da campanha de vacinação contra gripe 

O Dia D de mobilização social das campanhas está marcado para 30 de abril. A meta é imunizar pelo menos 95% dos grupos elegíveis para sarampo (população-alvo de 862.895 pessoas) e 90% para influenza (população-alvo de 3.366.854 pessoas). 

A vacina trivalente contra a influenza, utilizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), é produzida pelo Instituto Butantan. Ela é eficaz contra as cepas H1N1, H3N2, incluindo a cepa Darwin, e tipo B. A formulação é constantemente atualizada para que a dose seja efetiva na proteção contra as novas cepas do vírus. Historicamente, o período de sazonalidade das doenças respiratórias, onde se registra um maior número de ocorrências, é observado entre os meses de março e junho. 

As etapas da campanha de vacinação contra gripe e sarampo

Na primeira etapa da campanha, até 2 de maio, podem receber a vacina da influenza e do sarampo, de forma simultânea, os trabalhadores da saúde (público estimado em 259.370 pessoas). Já o grupo de pessoas idosas com mais de 60 anos (1.252.642 pessoas) recebe apenas a imunização contra a influenza.

Na segunda etapa da campanha, entre 3 de maio de 3 de junho, serão vacinadas contra influenza e sarampo, de forma simultânea, crianças de 6 meses a 4 anos de idade (público de 603.525 crianças).

Já as gestantes, puérperas, povos indígenas, professores das escolas públicas e privadas, pessoas com comorbidades, pessoas com deficiência permanente, caminhoneiros, trabalhadores de transporte coletivo rodoviário de passageiros urbano e de longo curso, trabalhadores portuários, profissionais das forças de segurança e salvamento e das forças armadas, funcionários do sistema prisional, população privada de liberdade e adolescentes e jovens sob medidas socioeducativas receberão a imunização contra a influenza. No Estado, esse público-alvo representa 1.854.842 pessoas.

"Apenas dois grupos recebem a vacina contra o sarampo. São eles: o trabalhador da saúde e as crianças de 6 meses até 5 anos de idade. Na primeira etapa da campanha, o trabalhador da saúde será contemplado, concomitantemente, com uma dose da vacina contra influenza e com outra dose do imunizante contra o sarampo. Já na segunda etapa, é o grupo das crianças que será contemplado, ao mesmo tempo, com as doses de influenza e sarampo", explica a superintendente de Imunizações do Estado de Pernambuco, Ana Catarina de Melo. A vacina utilizada contra o sarampo é a tríplice viral, que protege do vírus do sarampo, caxumba e rubéola.

Ou seja, as crianças poderão se vacinar contra a influenza e o sarampo, de forma simultânea, na segunda etapa da campanha. "Por isso, é essencial que a população se mobilize e procure os postos de vacinação nesse período, de acordo com as etapas para cada grupo prioritário", diz Ana Catarina de Melo. 

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