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Vice-diretor da Opas comenta sobre caso de sarampo em investigação em Pernambuco e diz: "não podemos permitir que essas doenças voltem"

Além de falar sobre os riscos do sarampo, Jarbas Barbosa fez alerta em relação à poliomielite

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Cinthya Leite

Publicado em 16/05/2022 às 15:38 | Atualizado em 16/05/2022 às 15:43
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Após um bebê de 10 meses, residente no Recife, ter testado positivo para sarampo, na última sexta-feira (13), Pernambuco volta a acender o alerta para a doença infectocontagiosa, que é altamente transmissível. Para se ter ideia do potencial de disseminação, cada pessoa infectada pode passar o vírus para aproximadamente outras 10. A informação do caso de sarampo, na capital pernambucana, foi confirmada pela Secretaria Estadual de Saúde (SES). A pasta afirmou que será realizada uma contraprova para confirmar ou descartar a doença.

Esse cenário inquieta especialistas porque a enfermidade é uma das principais responsáveis pela mortalidade infantil em países em desenvolvimento. A transmissão acontece diretamente de pessoa a pessoa, por meio das secreções do nariz e da boca expelidas ao tossir, respirar, falar ou respirar. "Sem dúvida que (o retorno dos casos) preocupa. As Américas, como um todo, tinham conseguido a certificação de eliminação do sarampo. Mas sempre há o risco de importação de casos porque, na Europa, na Ásia e na África, continua tendo transmissão de sarampo", disse, em entrevista à Rádio Jornal, o médico sanitarista e epidemiologista Jarbas Barbosa, vice-diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).

Ele reforçou uma mensagem que, há anos, profissionais de saúde têm disseminado: "Os países têm que manter sempre uma alta cobertura vacinal, com taxa de pelo menos 95% em menores de 1 ano, e uma vigilância epidemiológica forte para identificar rapidamente o primeiro caso". O médico recorda que, em 2018, houve três surtos nas Américas: no Brasil, na Venezuela e nos Estados Unidos. Felizmente, nestes dois últimos países, os surtos foram controlados em menos de um ano, o que permitiu a esses países a manutenção do certificado de eliminação da doença.

"O Brasil fez grande campanha de vacinação contra o sarampo em 2019 e reduziu muito a transmissão, mas ela ainda persiste. Há ainda alguns casos em Roraima e tivemos em São Paulo, onde foram poucos os casos, mas que demonstram que ainda existem grupos de pessoas onde a cobertura vacinal é baixa. O caso (em investigação) de Pernambuco também chama a atenção para isso", ressaltou Jarbas Barbosa. 

No Estado, na vacinação de rotina, a cobertura da primeira dose da vacina tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola) está em 69,6% na primeira dose e 42,8% na segunda. O preconizado pela Organização Mundial de Saúde é uma cobertura mínima de 95%. 

Os últimos casos de sarampo foram confirmados, em Pernambuco, no ano de 2020, em um total de 38. Neste ano de 2022, foram notificados 26 casos suspeitos, dos quais 16 já foram descartados e 10 estão em investigação.

O vice-diretor da Opas ainda destacou que a estimativa atual é de que até 23% das crianças estão com atraso em alguma vacina do calendário de imunização. "Isso é um risco. Afinal, a gente só pode considerar a situação tranquila quando a doença é erradicada no mundo inteiro. É o caso da varíola. Ninguém mais tem preocupação com ela, não é preciso vacinar."

Ele acrescentou também que, apesar de as Américas não registrar casos de poliomielite há muitos anos, há registros no Malawi, na África, no Afeganistão e Paquistão ainda. "E sarampo ainda tem muita transmissão. Os municípios têm que olhar seus dados, ver os bairros onde a cobertura não está boa, analisar a estratégia que deve ser adotada, abrir a unidade de sábado aos sábados e domingos."

Ainda de acordo com Jarbas Barbosa, "é preciso olhar bem quais são as barreiras existem, porque não podemos permitir que essas doenças voltem".

Sobre o sarampo 

"O sarampo é uma doença infectocontagiosa da qual o Brasil era livre até 2017. No ano seguinte, voltaram a ocorrer casos no País. O sarampo é uma das principais causas de mortalidade em crianças nos países pobres. E essa é a grande preocupação, pois a doença pode complicar em crianças", explica a infectopediatra Alexsandra Costa, presidente da Sociedade de Pediatria de Pernambuco (Sopepe).

A médica explica que o sarampo pode levar a um quadro de pneumonia grave, o que aumenta as chances de os pacientes irem a óbito.

"Os principais sintomas iniciais são tosse, coriza, secreção ocular, febre alta, moleza e náuseas. A depender de como o paciente vai evoluir, podem aparecer outras manifestações. Nesse ponto, a complicação mais temida é a pneumonia causada pelo vírus do sarampo, que é grave", acrescenta Alexsandra.

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