Com explosão de infecções respiratórias na infância, Pernambuco ultrapassa 100 crianças em fila por leitos em hospitais públicos
Só em relação à UTI, 80 pessoas esperam um leito na rede pública do Estado. Todas são crianças. Além disso, outras 28 estão na fila por vaga em enfermaria
O secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, reconheceu que o Estado passa atualmente o pior momento na pediatria, com um cenário de gravidade por doenças respiratórias que não ocorria desde 2009, quando vivenciamos o surto provocado pelo H1N1 - uma nova cepa do vírus influenza A responsável por causar pandemia de gripe espanhola que assolou o mundo entre os anos de 1918 e 1920.
Com a explosão de infecções respiratórias na infância, Pernambuco retorna ao panorama severo de 2009 e agora ultrapassa 100 crianças em fila por leitos em hospitais públicos. A rede privada enfrenta a mesma superlotação de pacientes da pediatria que permanecem nas emergências aguardando transferências para vagas de terapia intensiva (UTI) e enfermaria. "Ninguém está sem assistência", garantiu Longo, nesta quarta-feira (18), em coletiva de imprensa.
Com a atualização feita diariamente, o painel que apresenta os dados de leitos de síndrome respiratória aguda grave (srag) no Estado aponta que, das 80 pessoas esperam um leito de terapia intensiva na rede pública do Estado. Todas são crianças. Entre elas, 76 aguardam uma vaga em UTI pediátrica e 4 em UTI neonatal - aquela que recebe prematuros e bebês que apresentam algum tipo de problema ao nascer.
- "Estamos saindo da fase aguda da covid-19", diz vice-diretor da Opas em entrevista à Rádio Jornal
- Vice-diretor da Opas comenta sobre caso de sarampo em investigação em Pernambuco e diz: "não podemos permitir que essas doenças voltem"
- Pernambuco monitora novos casos de hepatite misteriosa em crianças; casos notificados sobem para cinco
- Com alta de doenças respiratórias graves em crianças, Pernambuco convoca 369 concursados para reforçar a rede pública; confira
Além disso, Pernambuco começa a ter fila de espera para leitos de enfermaria na pediatria. Dos 30 pacientes que aguardam uma vaga para internamento, 28 são crianças.
Com isso, somando as filas de UTI e enfermaria, sobe para 108 o número de pequenos cujas famílias lutam por leito em rede pública, no Estado, para sobrevivência deles.
Na tentativa de oferecer assistência adequada às crianças com quadros respiratórios graves, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) anunciou o cronograma de abertura de novas vagas em hospitais públicos. Ao todo, em duas semanas, devem ser abertas 80 leitos de UTI para crianças, o que deve quase dobrar a capacidade instalada hoje.
A rede pública estadual recebeu autorização para colocar em operação, nesta quinta-feira (19), 30 novos leitos de UTI pediátrica, distribuídos pela UPAE Goiana (10), na Zona da Mata Norte; no Hospital Regional de Palmares (10), na região da Mata Sul; e na Maternidade Brites de Albuquerque (10), em Olinda.
Até o início da próxima semana, foi acertada a abertura de outros 30 leitos (junto à rede contratualizada) no Recife, no Hospital Maria Lucinda (10); em Jaboatão dos Guararapes, no Hospital Memorial Guararapes (10) e na cidade de Bezerros, no Agreste do Estado, no Hospital Jesus Pequenino (10).
No fim da semana passada, foram inaugurados 10 leitos no Hospital e Maternidade Santa Maria, em Araripina, no Sertão. Na noite da terça-feira (17), mais 10 vagas foram criadas no Hospital Eduardo Campos, em Serra Talhada.
Além disso, segundo a SES, oito leitos de enfermaria ganharam suporte ventilatório no Hospital Maria Lucinda nesta quarta-feira (18).
"Diversas vezes ressaltamos nossa preocupação com o período sazonal e, por isso, já vínhamos trabalhando para ampliar a oferta de leitos. Do ano passado para cá, mais que dobramos as vagas de UTI para este público na rede estadual, passando de 56 leitos na sazonalidade de 2021 para 116 atualmente", disse André Longo.
Ele ressaltou que Pernambuco, assim como demais Estados brasileiros, vive um grande aumento de casos de doenças respiratórias. "Há um maior grau de severidade e também frequência de solicitação de leitos, desta vez com foco nas crianças. A predominância é do vírus sincicial respiratório (VSR) e rinovírus. O número de solicitações de UTI para crianças teve aumento de três vezes, em comparação ao período sazonal do ano passado. E isso é algo que extrapola qualquer planejamento", acrescentou.
O secretário informou que, na sazonalidade das doenças respiratórias de 2021, o Estado registrava, em média, 53 solicitações por leitos de UTI infantis por semana. Na semana passada, foram 150 – número três vezes maior. A alta na demanda por internações envolvendo crianças e o aumento no fluxo de atendimentos pediátricos têm relação direta com a maior exposição das crianças aos diversos vírus.
Em crianças pequenas, de até 2 anos de idade, o vírus sincicial respiratório (VSR), um dos principais agentes de uma infecção aguda nas vias respiratórias, corresponde a mais de 40% dos quadros. E, nas crianças maiores, o rinovírus humano corresponde a 20% dos casos na faixa etária entre 3 e 5 anos e 66% nas crianças entre 6 e 9 anos.
"A maioria dos casos faz infecções leves, com tosse, coriza e febre baixa, com uma resolução de três a cinco dias. No entanto, mesmo não sendo uma característica em todos os casos, há quadros de maior gravidade. Indicamos que, se possível, evitem nesse momento lugares fechados e com aglomeração", destacou o pediatra Eduardo Jorge da Fonseca Lima, vice-presidente da Sociedade de Pediatria de Pernambuco (Sopepe).
Também representante da Regional Pernambuco da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), o médico recomenda medidas essenciais para reduzir a transmissibilidade dos vírus, como a lavagem das mãos e das narinas com soro fisiológico. "Só é necessário procurar as grandes emergências pediátricas em casos mais graves, quando houver algum sintoma mais persistente, como febre de três a cinco dias e desconforto respiratório. Inicialmente, as famílias devem procurar as unidades básicas de saúde", orientou Eduardo Jorge. A expectativa, segundo o pediatra, é que, em junho, o número de casos respiratórios comece a reduzir, o que ajuda a desafogar o sistema de saúde.