Recém-nascido com doença respiratória espera por UTI no Recife há quatro dias; 'Não sei mais o que fazer', desabafa mãe
Em meio ao surto de doenças respiratórias em PE, bebê não consegue receber medicação venosa pela falta de um cirurgião pediátrico no Hospital Barão de Lucena: 'Meu filho já teve uma parada respiratória no meio disso tudo'
O cenário de gravidade de doenças respiratórias na infância em Pernambuco, provocado especialmente pelo vírus sincicial respiratório (VSR), continua levando crianças à fila de espera por leitos de UTI no Estado.
Neste domingo (22), a psicopedagoga Gicely Van Egmond, 38, entrou em contato com o JC para denunciar a situação de seu filho, Ravi Silva, de apenas 1 mês e seis dias, que aguarda uma UTI no Hospital Barão de Lucena, Zona Oeste do Recife, desde a última quinta-feira (19).
De acordo com a mãe, o bebê teria sido diagnosticado com bronquiolite, doença causada pelo vírus sincicial respiratório (VSR). Ainda segundo informações da família, cerca de outras 15 crianças estão aguardando por UTIs nessa emergência, que virou uma "mini UTI improvisada".
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De acordo com um Painel de Leitos do Governo de PE, atualizado no último dia 20 de maio, havia 108 crianças na fila para leitos, sendo 89 crianças para UTI e seis recém-nascidos para UTIs. Outras treze crianças aguardam fila para enfermaria.
Bebês necessitam de plantonista cirurgião
"Temos suporte médico, com uma equipe de pediatras. As crianças estão sendo assistidas pelos pediatras. No entanto, existem alguns procedimentos específicos que são mais complexos, como o acesso à veia do bebê para medicação. É necessário um plantonista cirurgião pediatra para esse acesso venoso", informa Gicely Van Egmond.
"O meu bebê já teve uma parada respiratória no meio disso tudo, pois ele não tem esse acesso para que coloquem medicação nele. Já conseguiram estabilizá-lo, mas a necessidade do hospital hoje é ter um plantonista cirurgião pediatra, por conta desse surto de virose. O cirurgião plantonista que chegaria neste domingo, às 20h, não vem. Não sei mais o que fazer", desabafa a mãe.
Um plantonista do HBL, que prefere não ser identificado, diz que o paciente está intubado desde ontem (sábado). Ele reforça que é preciso fazer medicação venosa, mas não se consegue fazer o acesso. Por isso, é preciso um cirurgião pediátrico para fazer o procedimento mais complexo para o acesso.
Ainda de acordo com Gicely, outras cinco crianças precisam desse plantonista cirurgião para medicamentos.
O recém-nascido Ravi Silva deu entrada na UPA da Caxangá com problemas respiratórios na última quarta-feira (18), sendo transferido para o Hospital Barão de Lucena na madrugada de quinta (19). De acordo com familiares, existia uma expectativa de que o bebê fosse transferido para uma UTI, o que não ocorreu.
Família recorreu ao Ministério Público
A tia do recém-nascido, Regina Cely, é advogada e entrou com uma ação na Justiça para que o plano de saúde da mãe, Gicely Van Egmond, aceitasse o bebê como dependente. De acordo com Regina, uma juíza da 5ª Vara de Família da Capital atendeu ao pedido com uma liminar, mas o plano não cumpriu.
"Então, impetramos no último sábado (21) um pedido no Ministério Público para que o bebê tenha direito à UTI. Estamos esperando uma resposta até agora, pois a UPA pediu a transferência para uma UTI", diz a advogada Regina Cely.
Estado aumentará número de UTIs
Procurada pela reportagem, a comunicação da Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES-PE) não divulgou informações sobre o caso específico, mas repassou informações já divulgadas pela pasta no último dia 18 de maio:
"Ao todo, em duas semanas, devem ser abertas 80 novas vagas de UTI para crianças, praticamente dobrando a capacidade instalada. A medida ocorre por conta do grande aumento das doenças respiratórias, que tem provocado aumento de internações de crianças com quadros respiratórios graves no Estado", diz o texto.
O Governo de Pernambuco também publicou, no Diário Oficial da quarta-feira (18), a nomeação de 369 concursados para reforçar a rede pública estadual de Saúde. Do total de convocados, são 72 médicos, 129 analistas em saúde (profissionais de nível superior), 166 assistentes em saúde (profissionais de nível médio), além de dois fiscais de vigilância sanitária.
A reportagem entrou em contato com a comunicação do Ministério Público, mas não obteve resposta até a publicação.