Do primeiro caso de Candida auris (em janeiro deste ano) até agora, houve um hiato com muito silêncio, em Pernambuco, por parte das autoridades de saúde sobre esse perigoso superfungo. Apenas nesta semana, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) confirmou a expansão do surto de Candida auris.
"De janeiro até hoje, Pernambuco registra 42 casos notificados de pacientes com a Candida auris, dos quais 36 foram confirmados para a colonização pelo fungo, um foi descartado e cinco estão em investigação, aguardando confirmação do laboratório de referência", diz, em nota, a SES.
A pasta acrescenta que os pacientes com Candida auris têm entre 19 e 82 anos, 35 são do sexo masculino e 7 do sexo feminino. "Entre os casos confirmados, dez receberam alta médica, onze foram a óbito por outras complicações relacionadas à causa do internamento (como AVC, neoplasia, aneurisma cerebral, agressão por arma de fogo e acidentes de trânsito) e 15 permanecem internados, em isolamento. Dos cinco que estão em investigação, quatro estão internados e um recebeu alta."
Além do Recife, a cidade de Salvador já registrou dois surtos provocados pelo superfungo em hospitais: um em 2020 e outro em 2021.
A Candida auris é um fungo emergente que representa uma séria ameaça à saúde pública. Ele pode causar infecção de corrente sanguínea e outras infecções invasivas, podendo ser fatal, principalmente em pacientes imunodeprimidos ou com doenças crônicas.
Os pacientes com Candida auris podem não apresentar sinais relacionados à infecção pelo superfungo, mas ter quadro sugestivo de colonização. A diferença entre ambas as condições é que a colonização indica que o paciente está com o fungo, mas não apresenta infecção - e esta ocorre quando há presença de Candida auris na corrente sanguínea.
O infectologista Flávio de Queiroz Telles Filho, coordenador do Comitê de Micologia da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), explica que a Candida auris ocorre como infecção hospitalar, que pode causar casos graves de septicemia (condição de resposta exagerada a uma infecção, seja por bactérias, fungos ou vírus) ou apenas colonizar a pele de pacientes. "Mas ela facilmente se mantém dentro de hospitais onde é detectada. É muito difícil de ser erradicada", frisa.
A transmissão ocorre diretamente de equipamentos e materiais de assistência ao paciente com Candida auris (como estetoscópios e termômetros, além de outros), mas nada impede que essa transmissão também aconteça pelas mãos dos profissionais de saúde. Por isso, a higienização das mãos precisa ser respeitada.
De acordo com o infectologista Filipe Prohaska, o maior problema relacionado ao fungo é que esse agente infeccioso é multirresistente a diversos medicamentos antifúngicos. "É um micro-organismo exclusivamente hospitalar", diz o médico, que se preocupa com o potencial agressivo desse fungo. Estudos apontam que até 90% dos isolados de Candida auris são resistentes a medicações como fluconazol, anfotericina B ou equinocandinas.
Outro motivo de preocupação é que a Candida auris pode permanecer viável por longos períodos no ambiente (semanas ou meses) e apresenta resistência a desinfetantes.
O infectologista Arnaldo Colombo, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e referência nacional em contaminação com fungos, explica que o tratamento da Candida auris é feito com antifúngico. "O único problema é que é um micro-organismo com capacidade de persistir no ambiente hospitalar por muito tempo. Se não forem instituídas medidas de desinfecção adequada, o fungo pode colonizar esses pacientes por tempo prolongado e se tornar resistente a medicações", alerta o médico.
Os Estados Unidos tiveram um total de 537 casos (a maioria em unidade hospitalar) de Candida auris. O Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) informa que quase metade desses pacientes com Candida auris morreram em noventa dias.
"Não há nenhuma morte (confirmada ou em investigação) pela Candida auris em Pernambuco", garante a Secretaria Estadual de Saúde (SES). Vale frisar que entre os 36 casos confirmados em oito meses em Pernambuco, onze foram a óbito. No entanto, a SES assegura que essas mortes estão relacionadas a "outras complicações relacionadas à causa do internamento (como AVC, neoplasia, aneurisma cerebral, agressão por arma de fogo e acidentes de trânsito)".
A SES ainda destaca que "os exames de antibiograma, que detectam o padrão de resistência e susceptibilidade de determinada bactéria, ou fungo, a antimicrobianos, realizados pelo Laboratório Especial de Micologia (LEMI) da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, laboratório de referência para apoio no monitoramento das infecções pelo fungo, com amostras de 16 pacientes, mostraram, inclusive, sensibilidade da Candida auris aos medicamentos utilizados na rotina da rede estadual de saúde".