Com o vírus da poliomielite detectado entre as comunidades não vacinadas em Nova Iorque, a Organização Pan Pan-Americana de Saúde (Opas) pediu aos países, especialmente ao Brasil, que reforcem urgentemente a vigilância e as campanhas de vacinação contra a pólio.
Com baixa cobertura, o Brasil tem um altíssimo risco da reintrodução da poliomielite. Esse cenário deixa bolsões de crianças suscetíveis ao adoecimento, caso não tenham recebido a imunização em tempo oportuno.
Ao todo, no Brasil, só 60% dos menores de 5 anos estão vacinados contra a poliomielite. Ao todo, 14,3 milhões de crianças devem receber as doses. Desde 2015, a cobertura vacinal da pólio está abaixo do mínimo recomendado no País, de 95%, pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Atualmente, segundo divulgou a Secretaria Estadual de Saúde na última segunda-feira (10), Pernambuco contabiliza a 7ª maior cobertura vacinal do País (76,54%) na campanha nacional, quando considerada a população entre 1 e 4 anos de idade, segundo painel do Ministério da Saúde.
No entanto, o percentual de Pernambuco ainda está longe da meta estabelecida pelo Ministério da Saúde (MS), de vacinar 95% do público elegível.
Dos oito Estados com as coberturas vacinais acima de 75%, cinco deles estão localizados na região Nordeste (Paraíba, Alagoas, Ceará, Sergipe, além de Pernambuco).
No Estado de Pernambuco, 538.868 crianças de 1 a 4 anos de idade estão aptas a receber a vacina de proteção contra a poliomielite. Até o momento, dos 184 municípios, apenas 65 deles atingiram a meta de cobertura e outros 9 estão com indicadores abaixo dos 50%.
A poliomielite, que pode se espalhar rapidamente entre comunidades com cobertura vacinal insuficiente, não é uma doença tratável, mas é totalmente evitável com vacinas.
A doença pode causar paralisia permanente e irreversível.
A poliomielite é considerada uma doença prevenível por meio da vacinação.
Em Pernambuco, a campanha de imunização contra poliomielite foi prorrogada até o dia 31 de outubro, com foco em crianças entre 1 e 4 anos. Especificamente neste recorte etário, foram aplicadas 412.448 doses.
"É real a possibilidade do surgimento de um surto de poliomielite no Brasil. A circulação do vírus da pólio já foi identificada recentemente nos Estados Unidos e pode se espalhar rapidamente", alerta a superintendente de Imunizações de Pernambuco, Ana Catarina de Melo.
"A poliomielite é uma doença grave, sem cura conhecida, mas que é perfeitamente evitável por meio da vacinação. Em 1994, a Região das Américas recebeu o certificado de área livre da pólio concedido pela Organização Mundial de Saúde. Entretanto, corremos sérios riscos de ter esse panorama alterado."
O último caso registrado de poliomielite no Brasil foi em 1989, na Paraíba.
No último dia 6 de outubro, o Pará divulgou investigar um caso suspeito de poliomielite numa criança de 3 anos. Contudo, no dia seguinte (7/10), o Ministério da Saúde informou não se tratar de poliomielite. De acordo com a pasta, o caso ocorrido no município de Santo Antônio do Tauá é de "paralisia flácida aguda".
Segundo as autoridades de saúde, esse tipo de paralisia é, em geral, atribuído ao uso da chamada vacina poliomielite oral (VOP) sem que, antes, tenha sido aplicada a vacina inativada poliomielite (VIP).
"Na caderneta de vacinação da criança não consta registro de vacina inativada poliomielite (VIP), que deve ser administrada anteriormente à VOP. Em geral, a vacina poliomielite oral (VOP) é bem tolerada, e muito raramente está associada a algum evento adverso grave. Destaca-se que o risco de paralisia flácida aguda com a VOP é muito raro e que, quando a VOP é aplicada como reforço após o esquema básico com a vacina VIP, esse risco é praticamente nulo", informou, em nota, o ministério.
No mundo, dois países são considerados endêmicos para poliomielite e registraram casos neste ano de 2022, Paquistão (19 casos) e Afeganistão (2 casos).
Além destes dois países, Moçambique identificou seis novos casos da doença até setembro deste ano.
Já no dia 13 de setembro deste ano de 2022, os Estados Unidos da América anunciaram que os poliovírus encontrados em Nova Iorque (tanto no caso de poliomielite paralítica em um adulto não vacinado no Condado de Rockland quanto em várias amostras de águas residuais de comunidades próximas à residência do paciente) atendem aos critérios da Organização Mundial da Saúde (OMS) para poliovírus circulante derivado de vacina (cVDPV).
A Opas tem trabalhado em estreita colaboração com os Estados Unidos e emitido alertas para que os Estados Membros permaneçam vigilantes e tomem medidas para alcançar proativamente as populações não vacinadas com a vacina contra a poliomielite.
"Não devemos subestimar o poder das vacinas de salvar vidas", disse recentemente a diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Carissa Etienne.
Veja o esquema vacinal para proteção contra a poliomielite:
"A campanha nacional, que acontece todos os anos, busca alcançar aquele público formado por crianças menores de 5 anos de modo indiscriminado, ou seja, independente de situação vacinal anterior. As crianças com esquema vacinal incompleto ou inexistente estão extremamente vulneráveis", frisa a superintendente de Imunizações de Pernambuco, Ana Catarina de Melo.
A gestora ressalta ainda que a vacina contra o poliovírus selvagem (PVS) foi disponibilizada pela primeira vez em 1955, sendo a estratégia de vacinação em massa da população iniciada nos anos 1960.