Do Estadão Conteúdo
O número de casos de covid-19 tem crescido ao redor do mundo, como previam as autoridades sanitárias internacionais.
Na última segunda-feira, 7, a China registrou o maior número de infecções dos últimos seis meses.
Nos Estados Unidos, as hospitalizações relacionadas ao coronavírus estão aumentando em vários Estados há semanas.
No Brasil, a taxa de positividade dos testes de covid-19 também cresceu, apesar de a maioria dos casos serem leves até o momento.
O aumento está relacionado ao aparecimento de novas subvariantes da ômicron, BQ.1 e XBB, que podem ser mais transmissíveis e resistentes às barreiras vacinais, conforme mostraram estudos iniciais.
A vacina bivalente da Pfizer pode ser uma alternativa na hora de reforçar a imunização contra a variante BQ.1, apontam médicos.
"A BQ.1 tem um escape de reposta imune maior e nós já temos dados dela sobre anticorpo neutralizante, que está relacionado à proteção contra infecção. Dessa forma, fica claro que a vacina bivalente garante um maior nível de anticorpo neutralizante e, portanto, uma maior proteção para a BQ.1", explica o infectologista Julio Croda, da Fiocruz e professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).
A variante já chegou ao Brasil, mas o imunizante não. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recebeu um pedido de uso emergencial do imunizante em setembro deste ano, mas ainda não deu uma resposta.
Procurada, a Anvisa disse que "os processos estão em fase final de análise pela área técnica, para posteriormente serem encaminhados à Diretoria da Agência para deliberação, considerando que se trata de autorização de uso emergencial. Não há ainda data fixada de decisão".
Em nota, a Pfizer disse que ainda está investigando a efetividade da vacina bivalente em relação à nova subvariante BQ.1 e espera ter dados concretos em breve.
A vacina bivalente da Pfizer já está disponível na Europa, Estados Unidos, Japão, Argentina, Chile, entre outros países.
A nova onda começou na Europa em meados de setembro. Em 12 de outubro, foi publicada uma declaração conjunta pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças da Europa (ECDC) e por representantes da Organização Mundial da Saúde (OMS) no continente dizendo que a "pandemia de covid-19 não acabou" e relatando que o número de casos vinham aumentado significativamente nos países da União Europeia.
"Embora não estejamos onde estávamos há 1 ano, é claro que a pandemia de covid-19 ainda não acabou. (...) Diante disso, reafirmamos a necessidade de proteger a saúde das pessoas, principalmente as mais vulneráveis, utilizando todas as ferramentas disponíveis, inclusive a vacinação. As medidas de preparação precisam continuar na Região Europeia da OMS - não devemos baixar a guarda", diz o texto.
Na Alemanha, o pico de casos foi em 12 de outubro, quando foram registrados mais de 142 mil novos casos - maior número desde abril.
Na França, foram 109 mil novos casos em 10 de outubro, maior pico desde julho. Na Inglaterra, a alta mais marcante foi em 13 de outubro, com 59 mil novos casos. Desde julho o Reino Unido não registrava números tão altos. Os dados são da JHU CSSE Covid-19 Data.
Segundo os especialistas da OMS e da ECDC, a situação se torna mais grave com a chegada do outono no hemisfério norte, o que traz consigo um aumento na transmissão da influenza, a gripe. Como os sintomas da covid-19 e da gripe são similares, a tendência é que as pessoas subestimem seu quadro clínico.
Sem a realização de testes para confirmar diagnósticos, o quadro pode se agravar por falta de tratamento adequado e as autoridades acabam perdendo o controle de monitoramento das doenças.
Apesar do cenário, a Europa não retomou medidas restritivas para tentar conter o vírus, como testagens em massa e lockdown.
As hospitalizações relacionadas ao coronavírus estão aumentando em vários Estados dos Estados Unidos nas últimas semanas, diz Albert Ko, médico e pesquisador da Universidade de Saúde Pública de Yale em entrevista ao The New York Times.
Entre os mais afetados, estão Arizona, Indiana, Illinois, Nevada, Nebraska, Oklahoma, Dakota do Sul e Wisconsin.
Apesar disso, o país não enfrenta um pico substancial em número total de novos casos, apontam os números do JHU CSSE Covid-19 Data.
De acordo com o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), a subvariante BA.5, que alimentou o surto de covid-19 no país no verão, ainda causa pouco menos da metade das infecções nos EUA. Porém, as subvariantes BQ.1 e BQ.1.1 estão crescendo rapidamente e se espera que elas superem a BA.5 em breve.
Na última sexta-feira, 4, a BQ.1 foi responsável por 14% das infecções por covid-19 nos Estados Unidos, enquanto BQ.1.1 foi responsável por 13,1%.
Outra variante, chamada BA.4.6, também ganhou terreno desde agosto e atualmente, é responsável por 9,6% dos casos. Os dados são do CDC.
O continente Asiático, assim como os Estados Unidos, está vivendo seu maior pico dos últimos meses agora.
No Japão, foram 66,3 mil novos casos no domingo, 6, um patamar que o país não atingia desde o final de setembro.
A China registrou, na segunda-feira, o maior número de infecções por covid-19 em seis meses. Foram contabilizados 5,6 mil novos casos da doença, quase metade deles na província de Guangdong, um centro manufatureiro com grandes portos comerciais no sul do país.
Em Cingapura e na Índia, foram descobertos os primeiros casos da subvariante XBB, chamada por alguns pesquisadores de "variante pesadelo" por conta da sua taxa de transmissibilidade e sua alta resistência às vacinas.
Segundo relatório da Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde (UNA-SUS), a XBB foi, na semana de 3 a 9 de outubro de 2022, responsável por 54% dos casos de covid-19 em Cingapura. Ela ultrapassou a subvariante BA.5, que vinha sendo a mais prevalente por lá até a semana anterior.
Na América do Sul, o Brasil é o primeiro a sentir os impactos da nova onda.
No Chile, o número de casos de covid-19 dobrou na última semana, mas continua baixo. O país passou de 3,7 mil novos casos em 3 de novembro para 7,7 mil em 7 de novembro.
Na Argentina, Bolívia, Colômbia e demais países, os números da covid-19 continuam baixos, aponta o JHU CSSE Covid-19 Data. Porém, os dados podem estar subnotificados pela falta de acesso à testes de diagnósticos em algumas regiões.
Pelos dados, os países do continente africano aparentam ainda não terem sentido a nova onda da covid-19.
No entanto, assim como na América do Sul, os dados podem estar subnotificados.