A alta de covid nas últimas duas semanas, verificada em Pernambuco e em outros Estados brasileiros, faz subir diariamente o número de novos casos confirmados da doença.
Entre os motivos, um se destaca: a circulação de novas subvariantes do coronavírus, como a BQ.1 e a XBB.
A subida foi repentina especialmente pela altíssima transmissibilidade dessas subvariantes, em comparação com o vírus original, de Wuhan (na China), e das cepas anteriores.
Para se ter ideia da aceleração da doença atualmente, a taxa de positividade geral para a covid está em 30,6% no Laboratório Central de Saúde Pública de Pernambuco (Lacen-PE), que realiza testes de RT-PCR das amostras enviadas pelos hospitais de referência, unidades sentinela e também de exames aleatórios dos centros de testagem.
Em 3 de novembro (ou seja, há 11 dias), a positividade estava em 1,1%. E antes disso, em setembro/outubro, esse índice esteve por seis semanas seguidas abaixo de 0,5%.
A pergunta que muitos fazem, especialmente os que estão com todas as doses de vacina em dia, está relacionada à eficácia dos imunizantes. Há quem tomou três, quatro doses e, ainda assim, foi infectado nesta onda atual de covid-19.
A explicação é que, sem sombra de dúvidas, as vacinas que todos nós recebemos (independentemente do tipo e do tempo) são, sim, eficazes. Mas tem um detalhe importante a ser destacado: as subvariantes da ômicron são mais evasivas da resposta imune induzida pelas vacinas e pela própria doença. Ou seja, essas cepas se espalham com facilidade mesmo entre imunizados e pessoas que foram infectadas previamente pelo coronavírus, em ondas anteriores da pandemia.
O motivo tem relação com a função do vírus, de evoluir para conseguir circular cada vez mais - e de forma mais rápida. Isso justifica por que novas variantes ou subvariantes são mais transmissíveis e têm mais escape da vacina. Trata-se de uma consequência das mutações na chamada proteína spike apresentada pelas subvariantes. É por isso que elas entram nas células com mais facilidade.
"Quatro meses depois da última dose da vacina contra covid-19, a imunidade contra a infecção é reduzida e não impedirá o adoecimento", diz o médico Eduardo Jorge da Fonseca Lima, representante da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) em Pernambuco.
A boa notícia é que, segundo Eduardo Jorge, contra as formas graves da doença e internamentos, a vacinação prévia permanece protetora, exceto em um pequeno percentual de pessoas.
"Não acredito que teremos aumento significativo de internamentos e muito menos de mortes entre os vacinados com esquema completo (com todas as doses oferecidas para a faixa etária)", ressalta.
O médico classifica o atual momento que vivemos da pandemia como um "surto anunciado", pois muito se chamou a atenção de que viveríamos um aumento de casos de covid-19 decorrente da disseminação das novas subvariantes.
Dessa maneira, para reduzir o impacto de um possível cenário futuro de aumento de hospitalizações e mortes por covid-19, é fundamental e urgente incrementar as taxas de vacinação covid-19, principalmente em relação a diferentes doses de reforço (a depender da população elegível), que se encontram todas em níveis ainda insatisfatórios nos públicos-alvo.
"Quem não fez a terceira ou quarta dose e é elegível para a vacina deve urgentemente completar seu esquema com a vacina de plataforma que estiver disponível. Além disso, precisamos cobrar de forma persistente vacinas em quantidade suficiente para uma quarta dose nas pessoas com menos de 40 anos, além da terceira dose para crianças de 5 a 11 anos", frisa Eduardo Jorge.
Outro ponto importante, para o cenário epidemiológico atual, é a oferta das vacinas bivalentes, que estão sem previsão de chegar ao Brasil. Em tese, elas poderiam ajudar na prevenção contra as novas variantes - e Eduardo Jorge explica.
"As bivalentes incluem, além do vírus original (de Wuhan, na China), a subvariante da ômicron BA.5. É necessário planejar a compra delas para futuras doses de reforço, especialmente em grupos de risco como idosos, imunocomprometidos e profissionais de saúde. Essa nova apresentação parece ser mais efetiva no cenário atual."
O médico ainda ressalta que o uso de máscaras deve ser avaliado por cada pessoa. "A orientação é fazer a gestão individual de risco, contemplando as particularidades de cada família. Caso a pessoa apresente alguma condição de risco, é recomendável usar máscaras, especialmente em ambientes fechados, mesmo se vacinada."
A confirmação da circulação dessas novas subvariantes da ômicron em Pernambuco reforça o alerta da Secretaria Estadual de Saúde para a importância da manutenção dos cuidados e do avanço da vacinação contra a doença.
"O monitoramento do cenário epidemiológico da covid, no território pernambucano, é permanente. Não podemos baixar a guarda, principalmente neste momento de aumento de casos. O uso de máscara, o distanciamento social, a higienização adequada das mãos e a testagem em caso de suspeita são fundamentais, em especial nos grupos de idosos e com comorbidades", ressalta o secretário Estadual de Saúde, André Longo.