ARBOVIROSES

VACINA DA DENGUE do Butantan tem eficácia de 79,6%, diz estudo

Dados de acompanhamento de 16 mil indivíduos de todo o Brasil trazem uma nova perspectiva para o combate da doença

Cinthya Leite
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Cinthya Leite
Publicado em 16/12/2022 às 14:05 | Atualizado em 16/12/2022 às 14:16
INSTITUTO BUTANTAN/DIVULGAÇÃO
Em andamento desde 2016, a fase 3 do estudo da vacina contra dengue envolve 16.235 voluntários de 2 a 59 anos, avaliados por 16 centros de pesquisa de diferentes regiões do País - FOTO: INSTITUTO BUTANTAN/DIVULGAÇÃO

A vacina contra a dengue desenvolvida pelo Instituto Butantan (Butantan-DV) mostrou uma eficácia de 79,6% para evitar a doença, de acordo com o estudo clínico de fase 3.

Os dados são de um acompanhamento de dois anos com mais de 16 mil indivíduos de todo o Brasil.

Durante esse período, não foi reportado nenhum caso grave de dengue nos participantes.

O resultado positivo é fruto de um trabalho de mais de 10 anos com parceiros internacionais e pode ter grande impacto na saúde pública brasileira.

Até dezembro de 2022, o Brasil registrou 1,4 milhão de casos e 978 óbitos pela doença, um aumento de 172,4% e 400% em relação ao ano anterior, segundo o Ministério da Saúde.

Em andamento desde 2016, a fase 3 envolve 16.235 voluntários de 2 a 59 anos, avaliados por 16 centros de pesquisa de diferentes regiões do País.

O imunizante foi administrado em 10.259 pessoas, em dose única, e o restante recebeu placebo.

A incidência de casos de dengue sintomáticos confirmados por laboratório foi analisada depois de 28 dias da vacinação até dois anos de seguimento de cada participante.

O estudo seguirá até todos os indivíduos completarem cinco anos de acompanhamento, em 2024.

A eficácia da vacina contra dengue também foi avaliada, separadamente, de acordo com a exposição prévia ao vírus da dengue.

Em pessoas que contraíram a doença antes do estudo, a proteção foi de 89,2%. Já naqueles que nunca tiveram contato com o vírus, a eficácia foi de 73,5%.

QUANTAS VEZES A PESSOA PODE PEGAR DENGUE?

A vacina do Butantan é tetravalente, feita para proteger contra os quatro sorotipos do vírus da dengue (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4).

No entanto, no período da pesquisa, apenas os tipos 1 e 2 circularam no País. A eficácia registrada para evitar a infecção por estes vírus foi de 89,5% e 69,6%, respectivamente.

A fase 3 segue em andamento e os pesquisadores ainda pretendem gerar dados de eficácia para os sorotipos 3 e 4.

Na fase 2 do ensaio clínico, que teve seus resultados publicados em artigo na The Lancet Infectious Diseases, 80% dos voluntários produziram anticorpos contra os quatro sorotipos. 

VACINA DA DENGUE: REAÇÕES ADVERSAS 

O estudo avaliou a frequência de reações adversas até 21 dias após a vacinação.

Das mais de 10 mil pessoas que receberam o imunizante, apenas três (menos de 0,1%) apresentaram eventos adversos graves, e todos se recuperaram totalmente.

A frequência de eventos adversos foi semelhante entre as três faixas etárias (2-6, 7-17 e 18-59 anos).

A vacina do Butantan tem perfil de segurança semelhante tanto para quem teve a doença como para aqueles que nunca tiveram contato com o vírus.

PODE TOMAR A VACINA DA DENGUE?

Hoje, no Brasil, há somente uma vacina aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), disponível na rede privada e indicada apenas para quem já teve dengue.

VACINA DA DENGUE: BUTANTAN-DV

A Butantan-DV é derivada de uma tecnologia do Instituto Nacional de Saúde Americano (NIH) licenciada em 2009.

A instituição americana cedeu as patentes e os materiais biológicos referentes às quatro cepas virais que compõem a vacina da dengue, permitindo que o Butantan produza e distribua o imunizante no Brasil.

Em 2018, o instituto assinou um acordo de colaboração e licenciamento com a farmacêutica multinacional MSD, em uma ação conjunta para acelerar o desenvolvimento e registro do produto.

A fase 1 do ensaio clínico, desenvolvida nos Estados Unidos (2010-2012), e a fase 2, conduzida no Brasil (2013-2015), mostraram que a vacina induz produção de anticorpos contra os quatro sorotipos do vírus.

Esse é o maior desafio na produção de uma vacina contra a dengue, já que é possível ser infectado mais de uma vez por diferentes vírus – e no caso de uma reinfecção, a chance de desenvolver uma doença grave e com risco de morte é maior.

TEM VACINA PARA DENGUE NO SUS?

Caso o imunizante seja aprovado futuramente pela Anvisa, ele poderá ser incorporado ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) e disponibilizado gratuitamente para a população brasileira.

A vacina é composta pelos quatro tipos do vírus da dengue atenuados, ou seja, enfraquecidos, que induzem a produção de anticorpos sem causar a doença e com poucas reações adversas.

QUAL É A VACINA DA DENGUE?

A fábrica do Butantan que produzirá futuramente a vacina contra a dengue já está pronta – lá também será produzido o imunizante contra a chicungunha (que está em fase final de ensaios clínicos).

No ano passado, o parque industrial do Butantan produziu 100 milhões de doses de CoronaVac, 80 milhões de doses de vacina contra a gripe, 28 milhões de doses de vacinas contra hepatite A e B, HPV, DTaP e raiva, e 560 mil unidades de soros.

A autonomia do Brasil na produção de vacinas, em especial contra arboviroses, pode mudar o rumo do combate a essas doenças na América Latina.

Em entrevista recente ao Portal do Butantan, o epidemiologista da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) Carlos Frederico Campelo afirmou que o controle da dengue no maior País da região tem o poder de mudar o cenário endêmico em todo o continente americano, além de servir como modelo para outros países.

De acordo com a Opas, cerca de 500 milhões de pessoas nas Américas correm o risco de contrair dengue.

O número de casos de dengue na região aumentou muito nas últimas quatro décadas, passando de 1,5 milhão de casos acumulados na década de 1980 para 16,2 milhões na década de 2010-2019.

No mundo, 400 milhões de pessoas são acometidas pela dengue anualmente.

 

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