Fundado em 1960 por um grupo de médicos, liderados pelo Professor Fernando Figueira, o Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip) desponta como entidade filantrópica envolvida na operação da Polícia Federal que investiga desvios em contrato da Secretaria de Saúde de Pernambuco com a Fundação Gestão Hospitalar Martiniano Fernandes (FGH).
O acordo investigado é o que foi firmado pelo governo de Pernambuco com a FGH, ligada Imip, para administrar o Hospital Metropolitano Norte Miguel Arraes, em Paulista, no Grande Recife.
Com a Operação Clã, nome dado à investigação da Polícia Federal para o caso, o Imip, que tem reconhecimento internacional como um dos serviços hospitalares mais importantes do País, tem novamente a sua marca estremecida.
Em fevereiro de 2019, um desvio de R$ 2,2 milhões - também no Hospital Metropolitano Norte Miguel Arraes (naquela época administrado pelo Imip) - acendeu alerta nos órgãos de controle do Estado sobre as organizações sociais, além de jogar dúvidas sobre esse modelo de gestão.
As chamadas organizações sociais de saúde (OSS) são entidades privadas parceiras do Estado na administração de unidades de saúde. Elas se tornaram uma marca da gestão do PSB no setor desde a gestão do ex-governador Eduardo Campos, que ampliou a rede de assistência Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), Unidade Pernambucana de Atenção Especializada (UPAEs) e hospitais regionais, como o Miguel Arraes, hoje gerido pela Fundação Gestão Hospitalar Martiniano Fernandes (FGH).
Em nota enviada à imprensa sobre a Operação Clã, a direção do Imip informou que "todos os esclarecimentos estão sendo prestados à Polícia Federal e à Controladoria Geral da União".
Além disso, o Imip acrescentou que "não administra nenhuma unidade hospitalar, além da sua sede. Esperamos que brevemente tudo seja esclarecido e estamos seguros quanto ao resultado da apuração dos fatos".
Vale frisar que, apesar de a direção ressaltar que não administra unidade hospitalar além da sede localizada nos Coelhos, área central do Recife, o Imip é responsável por gerir atualmente a UPAE Petrolina e a UPA Petrolina, no Sertão do Estado.
O Imip também já gerenciou o Hospital Nossa Senhora das Graças (antigo Alfa) e o Hospital Pelópidas da Silveira, que agora é comandado pela Fundação Gestão Hospitalar Martiniano Fernandes, a mesma que está sob investigação na Operação Clã.
Imagens da operação da Polícia Federal mostram policiais cumprindo mandados de busca e apreensão no Imip.
É triste e preocupante ver esse elo do Imip (referência assistencial em diversas especialidades médicas) com a operação que investiga suspeitas de superfaturamento, ocultação de valores, execução fictícia de serviços e contratação direcionada de prestadores de serviços.
São investigados os crimes de peculato, lavagem de dinheiro, organização criminosa e sonegação fiscal. Duas pessoas, que não tiveram nome ou cargo informados, foram afastadas, por 90 dias, das suas funções na Fundação Martiniano Fernandes e no Imip.
Aos 62 anos, em meio a desvio milionário que joga dúvidas sobre controle das OSS, a marca Imip se vê mergulhada na contramão dos princípios humanísticos do tempo em que foi criada: prestar assistência à saúde a quem mais precisa, sem esquecer a ética, o humanismo e a solidariedade.
Em prol da população que mais necessita de assistência digna, é momento de o Imip revisitar esses valores enaltecidos e praticados pelo Professor Fernando Figueira.