Com informações de Gustavo Mendelsohn de Carvalho, da Agência Fiocruz de Notícias
As imagens de crianças Yanomami desnutridas e doentes causam indignação e revolta.
Artigos científicos recentes revelam que a desnutrição, entre os Yanomami, é uma das mais graves do mundo.
São indicados déficits de peso para idade em torno de 50% e déficits de estatura para a idade em torno de 80%.
YANOMAMI SITUAÇÃO ATUAL
Na entrevista abaixo, a nutricionista Fernanda Simões, do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), analisa o quadro de desnutrição das crianças Yanomami, aponta medidas emergenciais e estratégias de intervenção.
Como descreve o quadro de desnutrição infantil entre os Yanomami?
Fernanda Simões: É visivelmente grave. As crianças Yanomami têm sinais clássicos de subnutrição, como a diminuição de massa muscular e da camada de gordura corporal, pele ressecada e pálida, cabelos ralos, apatia, fraqueza, entre outros. A baixa estatura para a idade dessas crianças sugere um problema nutricional já crônico, que tem relação com o retardo de crescimento intrauterino, decorrente de uma possível assistência pré-natal insuficiente.
Quais as causas desse de desnutrição entre as crianças Yanomami?
Fernanda Simões: A desnutrição de causa primária é devida basicamente à falta de alimentos em quantidade e qualidade suficientes para atender à demanda nutricional (em energia e nutrientes) da criança.
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Está evidente que na região temos essa questão de escassez de alimentos e água potável, resultado da destruição das florestas e contaminação dos rios.
Os quadros parasitários e infecciosos constantes, provenientes também das epidemias, podem agudizar a desnutrição, acentuando a perda de peso, tornando o quadro ainda mais grave (nos casos de diarreia, por exemplo).
Para as crianças Yanomami, quais as medidas precisam ser tomadas emergencialmente?
Fernanda Simões: No quadro de desnutrição severa, as crianças Yanomami precisam de cuidados intensivos, preferencialmente em ambiente hospitalar, para que a melhor forma de alimentação seja ofertada, de forma lenta e gradual, evitando a síndrome de realimentação, distúrbio metabólico que pode ocorrer com a oferta muita rápida dos nutrientes.
Nos casos mais graves, estes pacientes devem receber alimentação por via parenteral (intravenosa) ou enteral (por sonda nasoentérica), com nutrientes adequados de forma a facilitar a sua digestão e absorção.
Quando a criança sair da situação de risco de vida e puder se alimentar normalmente, deve-se garantir a oferta adequada e constante de alimentos saudáveis habitualmente consumidos.
O IFF/Fiocruz pode ajudar por ser um instituto de referência na produção de conhecimento e na atenção integral para a saúde da mulher, da criança e do adolescente, com profissionais capacitados no cuidado dessas crianças.
Quais sugestões para prevenir e evitar que a crise Yanomami se repita?
Fernanda Simões: O conhecimento ampliado do perfil alimentar e nutricional e seus determinantes, entre as crianças yanomami, é fundamental para o planejamento de estratégias de intervenção adaptadas à realidade local.
Também deve ocorrer a estruturação dos serviços de saúde e de assistência para que o monitoramento e vigilância das condições nutricionais e a garantia do acesso pleno à alimentação adequada e saudável seja garantido, sendo a dificuldade de acesso à região um desafio para os gestores para esse monitoramento contínuo.
Além das questões já mencionadas, o Estado e organismos internacionais devem fortalecer as ações e políticas públicas já existentes no País, como a Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) e a Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, garantindo o Direito Humano à Alimentação Adequada, além de combater qualquer organização que venha desestabilizar esse processo.
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