Se crise do HOSPITAL DE CÂNCER DE PERNAMBUCO culminar com GREVE DOS MÉDICOS, metade da população com a doença no Estado ficará desassistida

Pacientes e famílias têm ficado apreensivos com a possibilidade de ficarem sem acompanhamento para tratar o câncer
Cinthya Leite
Publicado em 09/02/2023 às 20:31
Médicos e pacientes do Hospital de Câncer de Pernambuco reclama de risco de contaminação, falta de insumos e problemas estruturais Foto: WELLINGTON LIMA/JC IMAGEM


Emocionada, a aposentada Aurora Maria da Conceição chorava com medo de perder a filha de 42 anos, que tem um câncer de mama.

Ela precisa dar continuidade ao tratamento mensal no Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP), que é atualmente responsável pelo atendimento de 51% dos pacientes que vivem com câncer no Estado

Com a crise vivenciada pelo HCP nos últimos dias e a possibilidade de médicos interromperem as atividades por falta de pagamento, muitos pacientes e famílias têm ficado apreensivos com a possibilidade de ficarem sem acompanhamento para uma doença cujo tratamento não tem tempo a perder. 

Depois que soube da possível paralisação dos médicos da unidade (e por tempo indeterminado), prevista para começar no dia 8 de março, Aurora Maria clama para os atendimentos não serem suspensos.

O Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe), há dias, traz a público o cenário complicado do hospital, que deixa de oferecer assistência adequada à população, além de não pagar um percentual de incentivo aos médicos

Existe uma lei para dar incentivo a médicos que realizam as cirurgias de alta complexidade. Para algumas delas, os médicos devem receber um incentivo de 20%. Ou seja, se o valor da cirurgia é de R$ 100, eles recebem R$ 120. 

No HCP, esses honorários (20%) não estão sendo pagos aos médicos.

O Simepe informou ter feito um levantamento com todos os médicos cirurgiões da instituição. A análise revelou que há mais de sete anos, esses profissionais estão deixando de receber 20% do valor que era para ser acrescentado ao salário. 

Segundo o sindicato, que tem sido os porta-vozes dos médicos do HCP neste momento crítico, a listagem de problemas da instituição é longa. "Entretanto, a lista de proposições minimamente razoáveis do conselho gestor da instituição para resolvê-las sequer existe. A persistência desse cenário de indiferença, que ignora a urgência de demandas fundamentais, prejudicando usuários e profissionais, levará à suspensão das atividades médicas", explica o Simepe. 

CAOS NO HOSPITAL DE CÂNCER DE PERNAMBUCO: MÉDICOS DIZEM QUE VÃO PARAR

Em meio a esta crise do hospital que é a principal referência para o tratamento da doença em Pernambuco, os pacientes estão angustiados.

Entre eles, está o aposentado José Carlos, que faz tratamento contra o câncer de próstata no Hospital de Câncer de Pernambuco. Ele tem exame agendado para o mês de março e tem receio de não conseguir realizar o procedimento, caso aconteça a paralisação.

Assim como ele, a dona de casa Kátia Moura está apreensiva. Ela acompanha a tia até o hospital, todas as semanas, para o tratamento contra o câncer na bexiga. Moradoras de Araripina, cidade do Sertão de Pernambuco, elas temem que o hospital feche as portas no próximo mês

O Simepe explica que a paralisação dos médicos tem o "intuito de buscar todas as melhorias necessárias para o trabalho no hospital, que vem sendo ignorado mesmo com todas as dificuldades já divulgadas e cobradas aos gestores responsáveis".

O sindicato acrescenta que as condições da instituição revelam um "caos" e que os profissionais, assim como os pacientes, estão em risco de contaminações e em meio a falta de insumos, problemas estruturais e incoerências quanto aos vencimentos da equipe médica. "É uma lista de preocupações enorme que precisa de mudanças urgentemente."

CRISE NO HOSPITAL DE CÂNCER: O QUE DIZ A GESTÃO

Em entrevista ao Passando a Limpo, da Rádio Jornal, o superintendente geral do HCP, Sidney Batista Neves, destacou que a paralisação das atividades médicas, a partir do dia 8 de março, é "totalmente evitável"

Para impedir a suspensão do trabalho dos médicos, Sidney disse que está numa "relação próxima com o Simepe e conversando bastante para se chegar a um consenso antes desse prazo (o da paralisação)". O superintendente geral ainda reforçou que a "população fique tranquila", pois a gestão do hospital tem trabalhado para que a greve não ocorra.  

"O atendimento (no HCP) atualmente está normal. Nosso plano é de conversar para que possamos fazer um trabalho de tranquilizar a população. Não temos diminuição do serviço, estamos na normalidade. Quando se tem boa vontade de resolver a situação, é fácil para todos", ressaltou. 

Ainda durante a entrevista, Sidney ressaltou que a situação de crise vivida hoje pelo HCP, que tem 77 anos, não corresponde à "primeira luta nem à primeira dificuldade. O hospital é responsável por atender 51% da população com câncer de Pernambuco, e não é neste momento que iremos faltar com a população", garantiu. 

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