Com o avanço no número de casos de cegueira temporária e outros problemas de visão decorrente do uso de pomada de cabelo no primeiro fim de semana de fevereiro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu, na última sexta-feira (10) a venda e a utilização de todos esses produtos para trançar, modelar ou fixar cabelos.
A medida é preventiva e vale enquanto não forem concluídas as investigações de irritação ocular. Até então, esses produtos não devem ser utilizados.
Com a medida da Anvisa e os alertas divulgados nos últimos dias, o número de pacientes que procuraram atendimento, na Fundação Altino Ventura (FAV) e no Hospital de Olhos de Pernambuco (Hope), ambos no Recife, caiu no último fim de semana, quando foram realizadas várias prévias carnavalescas - ocasião em que as pessoas capricham nos penteados.
O médico oftalmologista Kayo Espósito, da FAV, informa que, ao longo do sábado e domingo (dias 11 e 12), cinco pacientes foram à emergência com queixas de trauma ocular causado pelo uso de pomadas no cabelo para modelar penteados.
O número de casos na FAV é bem menor, em comparação com o fim de semana anterior (dias 4 e 5), quando foram realizados mais de 100 atendimentos.
No Hope, o volume de atendimentos pelo mesmo motivo também caiu. O médico oftalmologista Ronald Cavalcanti, do Hope, diz que não houve casos de lesão ocular por uso de pomada no último fim de semana.
Na manhã desta segunda-feira (13) no Hope, um paciente compareceu à emergência com queixa ocular por utilizar pomada de cabelo. Já no fim de semana anterior (dias 4 e 5) no Hope, o total foi de 45 pacientes.
A maioria das pacientes que usa as pomadas de cabelo apresenta cegueira temporária, irritação e sensação de queimadura nos olhos.
As pomadas também podem provocar blefarites (inflamações das pálpebras), conjuntivites (inflamação da conjuntiva) e ceratites (úlceras de córnea), assim como grave comprometimento da visão.
Dessa maneira, todas as pomadas para modelar e trançar cabelos estão com comercialização e uso proibidos pela Anvisa.
Enquanto a medida estiver em vigor, nenhum lote de qualquer desses produtos pode ser comercializado e não deve ser utilizado por consumidores e profissionais de beleza.
Mesmo pomadas de cabelo já adquiridas e existentes nas residências ou em salões de beleza não devem ser utilizadas neste momento.
Entre as pacientes que foram à FAV, no primeiro fim de semana do mês, com lesão nos olhos, está a operadora de caixa Marcela Carolino Machado, de 39 anos.
Ela fez tranças no cabelo no sábado (4) e não tinha conhecimento dos riscos associados a pomadas para modelar os cabelos.
"Fiz o penteado para ir a um bloco de Carnaval, e a pessoa que fez até comentou que eu tivesse cuidado ao lavar o cabelo, para não cair (o produto) nos olhos, como qualquer outro penteado. Quando começou a chover no sábado, a maquiagem e o produto do cabelo escorreram para os olhos", conta Marcela.
Imediatamente, ela sentiu ardência nos olhos, mas achou que o incômodo era por causa do glitter da maquiagem. "Era como se fosse uma conjuntivite. Dormi e, no dia seguinte (domingo), acordei com os olhos colados. Lavei com água gelada e soro. No fim da tarde de ontem (domingo), não aguentei e fui para a emergência (da Fundação Altino Ventura). Quando eu cheguei lá, só vi mulheres com tranças no cabelo."
Para quem pensa em fazer penteados com pomadas modeladoras, Marcela dá um recado. "A minha mensagem é que as pessoas não usem esses produtos. São várias pessoas que apresentam esse problema na visão, e isso é causado pela mesma composição das pomadas."
Como tratamento, o oftalmologista prescreveu dois colírios e um lubrificante para os olhos de Marcela. Além disso, o olho esquerdo, que foi o mais afetado, recebeu um curativo. "Hoje ainda sinto arder os olhos, e a vista permanece embaçada. Mas meus olhos estão 70% melhores, em comparação com ontem. Passei seis horas com o curativo."