A eliminação de gases - seja por via oral (arroto) ou anal (flatos ou gases intestinais) - é sempre motivo de muitas dúvidas. De acordo com estudos médicos, é normal que uma pessoa elimine até 20 gases diariamente, o que dá aproximadamente 1,5 litro todos os dias. Mas quando a produção desses gases provoca dor ou desconforto, o indivíduo nota um aumento na quantidade ou a eliminação causa extremo constrangimento, médicos e nutricionistas podem ser consultados.
Segundo os especialistas, existem várias causas a serem investigadas para se descobrir o motivo do problema. Em muitos casos, adotar uma alimentação mais saudável e aumentar a realização de exercícios físicos podem reduzir a produção de gases. Em outros, a descoberta de intolerâncias alimentares é a chave para isso. Vale ressaltar, entretanto, que todos os meios levam a uma diminuição na produção e eliminação dos gases. Acabar com eles é impossível.
A médica Lilian Maia, do setor de Gastroenterologia e Hepatologia do Hospital Santa Joana, no Recife, explica que o ato de engolir ar (durante as refeições, por exemplo), e intolerância à lactose ou frutose são causas comuns da produção em excesso de gases no ser humano. “Alguns medicamentos, parasitoses, doença celíaca, insuficiência pancreática e semi-obstrução intestinal também”, explica.
No consultório, o médico fará uma avaliação para definir os exames necessários, a fim de descobrir a causa do excesso de gases naquele paciente específico. “Pode ser necessário a pesquisa de parasitoses, testes de intolerância alimentar e, às vezes, até exames de imagem”, comenta dra. Lilian.
Mau cheiro e barulho dos gases podem indicar algo de errado?
“Embora a eliminação excessiva de flatos ou seu odor fétido possa ser uma fonte de constrangimento para o paciente, raramente está associada a doenças graves. O odor ofensivo, quando presente, pode ser devido a compostos contendo enxofre, bem como ácidos graxos de cadeia curta, aminas voláteis e amônia”, tranquiliza a médica.
Existem alimentos que devem ser evitados por causarem gases em excesso?
“Se for identificada a presença de alguma intolerância alimentar, esse paciente será orientado a evitar seu consumo. As intolerâncias mais frequentes são intolerância à lactose e intolerância à frutose. Alguns pacientes têm dificuldades de digerir alimentos que contenham alta quantidade de carboidratos não absorvíveis como feijão, repolho, couve-flor, batata doce, farelo de trigo”, diz a especialista.
A médica alerta ainda que o estilo de vida, em alguns casos, pode interferir no aumento ou redução da produção de gases.
“O correto funcionamento do aparelho digestivo passa pela prática regular de atividade física, boa ingesta de fibras, equilíbrio entre carboidratos, proteínas e gordura na alimentação, adequado consumo de água e controle dos fatores psicológicos, que é fundamental”, diz a médica, salientando que alimentos ultraprocessados contribuem negativamente para a produção dos gases.
TRATAMENTO
Dra. Lilian Maia explica que, para o tratamento de excesso de gases, probióticos podem ser benéficos, “mas o seu consumo indiscriminado não é respaldado na literatura atual”, portanto, deve ser usado com orientação médica ou nutricional em casos específicos.
E, segundo a especialista, o uso rotineiro de chás, normalmente, não é recomendado”. “A recomendação é realizar uma dieta balanceada, evitando o consumo dos alimentos que provoquem os sintomas. Existem também disponíveis no mercado, enzimas digestivas, na forma de comprimidos, que podem ser ingeridas antes da ingesta do alimento suspeito, para ajudar na digestão e evitar os sintomas desagradáveis”.
Acompanhamento nutricional
De acordo com a nutricionista Giovana Ramalho, entre os alimentos mais associados à produção em excesso de gases, estão “industrializados, bebidas gaseificadas como cerveja e refrigerantes e alguns adoçantes das classes dos polióis – maltitol, xilitol, eritritol que estão dentro dos FODMAP’s , carboidratos não digeridos pelo organismo, responsáveis por gases e distensão abdominal”.
“Alimentos muito gordurosos, excesso de carboidratos refinados, corantes artificiais são alguns alimentos que inflamam a parede intestinal, aumentando a produção de gases”, detalha Giovana Ramalho.
A nutricionista chama atenção para os alimentos ultraprocessados. “Como o próprio nome diz, esses alimentos passam por diversos processamentos e adição de conservantes que acabam atrapalhando o processo das bactérias benéficas ao organismo e esse desequilíbrio acaba gerando aumento de gases”, alerta Giovana.
Alimentação saudável
“Já uma dieta rica em alimentos naturais, encontrados muitas vezes em alimentos orgânicos, sem aditivos e defensivos agrícolas, geram maior equilíbrio dessa microbiota”, pondera, acrescentando que a ingestão de água é fundamental “para hidratar as fezes em nosso intestino”. Um indivíduo adulto deve beber, todo dia, 35ml de água para cada kg de peso corporal.
Segundo a nutricionista, a dieta balanceada, incluindo frutas com fibras, e a ingestão adequada de água “auxiliam na digestão, fazendo com que as fezes permaneçam menos tempo no intestino, evitando a produção de gases”, detalha.
Mastigue bem e cuidado ao conversar durante as refeições
Giovana Ramalho destaca a importância de uma boa mastigação durante as refeições. “Uma boa mastigação facilita a digestão. Os alimentos entram mais “triturados” pelas vias digestivas, levando menos tempo nesse trânsito e diminuindo, assim, a produção de gases”, garante.
E, sim, conversar enquanto come pode aumentar a produção de gases intestinais. “O hábito de falar enquanto se come, faz com que a gente ingira mais ar, favorecendo o aumento de gases”, finaliza.