Desafios do Recife: com todas as vacinas sem alcançar meta, capital precisa repensar estratégias para acabar com baixa cobertura
Ao futuro prefeito ou prefeita, cabe criar um plano municipal para recuperar as metas de coberturas vacinais na capital pernambucana
Quem for eleito para administrar o Recife nos próximos quatro anos precisará planejar e executar estratégias capazes de aumentar a cobertura vacinal. A capital pernambucana não atingiu, nos anos de 2022 e 2023, a meta de 95% de cobertura vacinal recomendada pelo Ministério da Saúde, quando considerados os imunizantes ofertados e aplicados durante o primeiro ano de vida nos postos de saúde.
O cenário causa apreensão, pois poliomielite, rubéola e difteria são algumas das doenças que podem ser prevenidas por vacinas, mas podem ressurgir devido à baixa cobertura vacinal. A queda abrupta nas taxas de imunização é explicada por diversos motivos, como a percepção enganosa de parte da população de que não é preciso vacinar porque as doenças desapareceram.
Mas os gestores não podem cruzar os braços e esperar que a população siga às unidades de saúde para receber os imunizantes. Ao futuro prefeito ou prefeita, cabe criar um plano municipal para recuperar as metas de coberturas vacinais no Recife. É urgente elaborar um documento norteador capaz de contemplar ações para aumentar a adesão à imunização, de acordo com a necessidade e a realidade de cada local.
Essenciais para diminuir a circulação de vírus e outros microrganismos nocivos, as altas coberturas garantem a proteção coletiva. Ou seja, quando a maioria das pessoas se imunizam, também protegem aquelas que, por motivos específicos, não podem se vacinar.
Neste mês, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) lançou o movimento Vote pelo SUS, que convoca os eleitores para a defesa da democracia e da saúde como direito humano. Na Carta de Saúde Pública às Eleições Municipais 2024, o CNS destaca a importância de a sociedade dizer não ao negacionismo das vacinas e de votar em candidatos que defendam o SUS.
Todos nós, em alguma medida, dependemos da rede pública de saúde no Brasil. E as vacinas são um exemplo disso. Quantos, na pandemia de covid-19, foram a um centro de imunização tomar a vacina contra o coronavírus? Muitos! É o SUS que possibilita essa proteção, assim como tantas outras.
Nesse contexto, frisamos que o futuro prefeito do Recife precisa reveter a queda na cobertura vacinal. Doses essenciais como a BCG, a tríplice bacteriana, as contra a hepatite B e a poliomielite têm taxas de cobertura menores que as médias mundiais e abaixo do recomendado pelo Ministério da Saúde.
Um estudo da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), feito com cerca de mil pediatras em todo o País, mostra que pais vacinados chegam aos consultórios médicos sem querer imunizar seus filhos, especialmente por informações falsas recebidas.
"Destaco a importância de campanhas de comunicação eficazes para informar a população sobre a importância da vacinação, esclarecer mitos e dúvidas e incentivar a adesão às vacinas, que foram duramente atingidas nos últimos anos, com tantas fake news", diz o médico Eduardo Jorge da Fonseca Lima, representante da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) em Pernambuco e membro da Câmara Técnica do Ministério da Saúde.
Na visão dele, aumentar a cobertura vacinal em uma capital como o Recife requer estratégias eficazes e abrangentes para alcançar diferentes grupos da população. "Uma proposta que julgo factível é realizar um monitoramento contínuo da cobertura vacinal na cidade, a fim de identificar locais com baixa cobertura e, assim, desenvolver estratégias específicas para atingir taxas de imunização adequadas", ressalta.
O médico também acredita que o fortalecimento da vacinação nas escolas é a maneira mais eficaz de proteger as crianças e os adolescentes. "Além disso, vale manter as ações de vacinação móveis em locais estratégicos da cidade, como praças, feiras e estações de transporte público, a fim de facilitar o acesso das pessoas à vacinação."
Outro detalhe diz respeito à capacitação dos profissionais de saúde, que podem identificar e abordar adequadamente as pessoas que relutam ou recusam receber doses contra doenças imunopreveníveis.